Por Danielly Avlis e Gisele Almeida para o site Agazeta.net
Cláudia Elisangela Silva de Souza, de 52 anos, foi brutalmente agredida dentro de sua própria casa pelo marido, o ex-pastor Maycon Gomes, na noite do último sábado (2), no bairro Bosque, em Rio Branco. O agressor chegou alterado, aparentemente sob o efeito de álcool e, possivelmente, drogas.
A vítima conseguiu escapar após uma distração do agressor, buscando ajuda na calçada, onde foi socorrida por vizinhos. Logo após, foi atendida pela equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Cláudia Elisangela é mais um caso de tentativa de feminicídio registrado no Acre, mostrando um cenário de aumento nesse tipo de violência contra mulher. Até o momento, com base nos dados fornecidos pela Secretaria da Mulher do Estado do Acre (Semulher), foram registrados 38 tentativas de feminicídio, de janeiro de 2024 a outubro. Tendo em vista que o mês de novembro e dezembro não acabou, o ano pode fechar com um número maior.
Com base nesses dados, o site Agazeta.net decidiu buscar informações também com o Ministério Público do Acre (MPAC), para entender o mesmo contexto de 2023. No ano anterior, foram registrados 28 tentativas de feminicídios, das quais 23 ocorreram entre janeiro e outubro – números extraídos do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública – Procedimentos Policiais Eletrônicos (SINESP/PPE) do Sistema de Automação Judicial do MPAC.
Ao observar esse cenário, é possível perceber um aumento de 60,05 % em relação ao mesmo período de 2023, onde 23 casos foram registrados.
Embora o Acre tenha registrado uma redução de 37,5% nos casos de feminicídio com 7 casos de feminicídio consumado em 2024, em comparação ao ano de 2023 com 10 casos, a violência ainda avança de forma assustadora, com as tentativas, que tem um cenário igualmente brutal, especialmente durante os finais de semana.
Tatiana Martins, advogada presidente da Associação das Mulheres Juristas do Estado do Acre, explica que o uso excessivo de álcool e drogas associado ao desemprego e problemas emocionais tem sido um agravante para o aumento dos casos. “Nos finais de semana observamos uso excessivo de substâncias, o que desencadeia atitudes impulsivas e violentas. Esse cenário exige um policiamento estratégico, especialmente em regiões sem delegacias da mulher 24 horas”, explica.
Observatório de Violência de Gênero (OBSGênero)
Estudos do Observatório de Violência de Gênero (OBSGênero) de 2018 a 2023 revelam que 73% das vítimas de tentativa de feminicídio já haviam sofrido algum tipo de violência anterior ao fato. A maioria, cerca de 47%, é composta por donas de casa; 69% têm filhos com o agressor, o que sugere um vínculo emocional e financeiro que dificulta a denúncia e o afastamento. Além disso, o impacto psicológico e social da violência doméstica revela uma complexa rede de fatores que precisa ser enfrentada de forma sistêmica.
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A advogada Tatiana Martins, afirma que o endurecimento das penas, embora necessário, não é suficiente para conter as agressões. “Quando um homem decide agredir ou matar sua companheira, ele não pensa na pena; suas ações são impulsionadas por um sistema tóxico que permeia famílias, igrejas, e a própria sociedade. A prevenção deve começar no desmantelamento desse sistema desde cedo”, observa.
O caso de Cláudia Elisângela é mais um alerta. Enquanto os dados demonstram a urgência de ações mais robustas e coordenadas entre políticas públicas e apoio social, fica claro que o combate ao feminicídio exige o envolvimento de toda a sociedade na proteção das mulheres.
Canais de Ajuda
Este caso de feminicídio evidencia a persistência da violência de gênero e os riscos enfrentados por mulheres, mesmo quando recorrem a medidas legais para a proteção.
O acolhimento da vítima é essencial para romper o ciclo de violência e desvincular-se do agressor. É fundamental contar com uma rede de apoio, que pode incluir familiares e amigos, além de serviços especializados que oferecem assistência jurídica e psicológica.
As vítimas podem procurar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) pelo telefone (68) 3221-4799 ou a delegacia mais próxima.
Também podem entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher, pelo Disque 180, ou com a Polícia Militar do Acre (PM-AC), pelo 190. Outras opções incluem o Centro de Atendimento à Vítima (CAV), no telefone (68) 99993-4701, a Secretaria de Estado da Mulher (Semulher), pelo número (68) 99605-0657, e a Casa Rosa Mulher, no (68) 3221-0826.
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