O Acre se prepara para ganhar destaque internacional na área da música. De 13 a 15 de fevereiro de 2025, o professor e maestro Afonso Eder Portela, da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE), representará a docência acreana no III Congresso Internacional “A Língua Portuguesa em Música: Camões, 500 Anos”, na Universidade de Lisboa, Portugal. Na ocasião, ele apresentará o artigo científico “Abordagens para Interpretação Vocal da Canção Amazônica Farinhada – O Caso Waldemar Henrique”, resultado de sua pesquisa de doutorado em Música pela Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc).
Natural de Rio Branco, Portela cresceu no Conjunto Esperança e descobriu cedo sua paixão pela música. Aos 11 anos, começou a aprender violão de forma autodidata, após um encontro inesperado com um amigo que oferecia aulas informais. “Eu passava o dia inteiro praticando três acordes”, relembra.
Ainda na adolescência, tocou guitarra em bandas de pop rock como Sinopsis e Marvel. No entanto, foi o coral do Sesc que mudou sua trajetória. Um professor baiano identificou seu potencial e o incentivou a estudar canto, leitura de partituras e técnicas vocais.

A partir de então, Portela seguiu um caminho marcado por desafios e conquistas. Ele trabalhou como caixa de supermercado, vendedor e auxiliar administrativo para custear seus estudos, até ser aprovado no curso de Música na Universidade Federal do Acre (Ufac). Já no primeiro semestre da faculdade, assumiu a função de professor de canto na Usina de Arte, por recomendação de seu antigo mestre.
Durante a graduação, também trabalhou como mediador na Escola de Música do Acre e fundou a Companhia de Coro e Orquestra do Estado do Acre, que apresentou obras como o Réquiem de Mozart e o Gloria de Vivaldi. Mais tarde, foi aprovado em concurso público da SEE e atuou como avaliador de superdotação musical no Núcleo de Altas Habilidades/Superdotação (NAS).
Após concluir o mestrado, Portela se dedicou ao doutorado na Udesc, de onde surgiu a pesquisa que será apresentada em Portugal. Paralelamente, fundou a Camerata Filarmônica do Arte, grupo independente de coro e orquestra.

Pesquisa: Preservação da Identidade Vocal Amazônica
O artigo científico que Portela apresentará em Lisboa trata da interpretação vocal da canção “Farinhada”, do compositor paraense Waldemar Henrique. A obra, que retrata aspectos culturais amazônicos, serviu como base para uma pesquisa inovadora sobre o uso das características vocálicas regionais na música erudita.
“O meu trabalho busca respeitar a autenticidade cultural na música amazônica”, explica Portela. “Quando alguém de outra região do Brasil canta suas músicas tradicionais, seu sotaque é mantido. Por que na Amazônia isso deveria ser diferente?”
Ele analisou gravações de moradores da região norte pronunciando palavras presentes nas canções de Waldemar Henrique. Com base nessas gravações, criou um método que utiliza as características fonéticas da fala cabocla na interpretação vocal. “É uma maneira de preservar nossa identidade e levar nossa voz ao mundo”, enfatiza.
Apesar da alegria de ter sua pesquisa reconhecida em nível internacional, Portela enfrenta desafios financeiros para participar do congresso. “A Universidade de Lisboa ofereceu uma pequena ajuda de custo, mas ela não cobre nem uma fração das despesas. Estou buscando patrocínios e apoios institucionais”, revela.
Mesmo diante das dificuldades, ele se sente honrado pela oportunidade de representar o Acre e a Amazônia no cenário acadêmico global. “É emocionante pensar que vou falar sobre as características de fala do meu povo em um país estrangeiro”, afirma. “É uma chance de mostrar ao mundo que há pesquisa, arte e cultura sendo desenvolvidas no coração da Amazônia.”
Portela acredita que a participação no congresso pode gerar impactos positivos para o Acre, tanto no campo cultural quanto no acadêmico. “O Acre ainda é visto como um lugar distante, mas temos muito a oferecer. Mostrar que há pesquisa musical sendo feita aqui pode atrair investimentos e novas parcerias internacionais”, destaca.

Ele também ressalta a importância da Amazônia como foco de interesse global. “A Amazônia está nos olhos do mundo, mas muitas vezes a cultura e a música da região são negligenciadas. Essa troca de conhecimentos pode abrir portas para projetos de pesquisa e investimentos culturais.”
Com sua trajetória marcada por determinação e amor pela música, Afonso Eder Portela está prestes a levar a voz da Amazônia para além das fronteiras brasileiras — um passo importante na construção de um Acre mais reconhecido e valorizado no cenário cultural mundial.