Caso ocorreu na 2ª Regional, localizada na Cidade do Povo, em Rio Branco
Por Claudya Oliveira
É inadmissível que, em pleno século 21, ainda tenhamos que conviver com a figura da discriminação racial, com atitudes hostis e violentas, levando, muitas vezes, a cometimentos de homicídios e, em alguns casos, até suicídio.
No Brasil, o racismo cresce conforme a renda da pessoa diminui, e no Acre, 2023 infelizmente começou com algumas situações delicadas, que a gente tenta combater, mas que, lamentavelmente ainda acontecem até hoje no Brasil.
Conversamos com o delegado de Polícia Civil, Samuel Mendes, que sempre participa de matérias e entrevistas da TV Gazeta, nos atualizando com informações a respeito das operações e investigações. Hoje ele conversou na posição de vítima.
O delegado Samuel, na manhã desta terça-feira (03) foi vítima de racismo no próprio ambiente de trabalho. Ele atua na 2ª Regional de Polícia Civil, localizada na Cidade do Povo, e ele foi vítima de racismo, por uma pessoa que entrou na delegacia para prestar uma queixa.
“Hoje foi uma manhã tranquila de trabalho, procedimento comum, e chegou uma pessoa para ser atendida. Me foi comunicado que tinha uma pessoa para receber esse atendimento, então peguei o boletim de ocorrência dela e fui ao seu encontro. Me apresentei, falei que era o delegado e convidei até o gabinete, quando cheguei na porta do gabinete, que abri a porta, ela olhou para dentro da sala e perguntou: cadê o delegado? – E eu me apresentei, falei que sou o delegado. E essa pessoa falou: não, mas, cadê o delegado branco? – E eu falei: o delegado que presta atendimento aqui sou eu. Aí a pessoa enfatizou: não, eu quero ser atendido por um delegado branco”
“Após isso ela até se recusou a entrar na sala. Então, aí nesse caso eu só a conduzi ao gabinete do outro delegado e falei: “tá aqui um delegado branco para você ser atendido”. Saí por uns minutos, mas antes essa pessoa chegou a falar: “não, não foi essa a minha intenção, na verdade eu não queria discriminar, inclusive eu sou até evangélico, não discrimino pessoa alguma, não tenho essa intenção”, e pediu desculpas, acho que já vendo o que havia falado antes. Após essa situação já foi comunicado que iria ser dado voz de prisão a ela e foram feitos os procedimentos de costume, registrado o boletim de ocorrência, algumas outras perguntas perante testemunhas acabaram sendo feitas e, o idoso chegou a responder algumas”.
Em outro momento, o suspeito do crime disse que já nem sequer lembrava o que havia falado antes, mas, mesmo assim, foi feito o procedimento, registrado o boletim de ocorrência e encaminhado à Delegacia de Flagrantes, ficando sob a responsabilidade do delegado plantonista.
“Não foi algo pessoal, na verdade foi essa parte de discriminar em virtude da cor, por especificar que queria exatamente ser atendido por uma pessoa daquela cor específica. E que aquela, no caso eu, um negro, não seria suficiente para prestar atendimento a ela, como qualquer outro nesse ponto, já que ela fez referência a uma pessoa branca”, falou o delegado.
Samuel Mendes disse que foi pego de surpresa. “Ninguém espera por uma situação dessas, ainda mais dentro de um ambiente laboral, onde você é um delegado de polícia. Mas, mesmo assim, a gente mantém a sobriedade, faz os procedimentos de costume, com profissionalismo, como foi feito, e dá todo o desfecho da situação, que foi esse de apresentar ao delegado, para que seja feito o procedimento, a lavratura do auto de prisão em flagrante”, explicou.