Os atendentes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) em Rio Branco estão cada vez mais preocupados. Dos dez filhos separados de seus pais devido à hanseníase, nove não conseguem reunir documentos que comprovem a separação forçada. Sem essa comprovação, não têm acesso à indenização mensal de pouco mais de dois mil reais prevista por lei. No Acre, cerca de 1.500 pessoas enfrentam esse problema.
A busca por registros históricos se concentra nos dois hospitais que atenderam pacientes com hanseníase no estado: um em Cruzeiro do Sul e o Souza Araújo, na capital. Entretanto, boa parte dos documentos desapareceu. Livros de registro, fichas médicas e outros documentos de pacientes internados desde a década de 1940 sumiram dos arquivos. A situação se repete no educandário Santa Margarida, conhecido como preventório, onde os recém-nascidos eram levados após serem retirados de seus pais diagnosticados com hanseníase. O local também perdeu grande parte dos seus registros. Hoje, restam apenas alguns documentos a partir da década de 1970.
O presidente do Morhan no Acre, Elson Dias, alerta para a burocracia e os desafios enfrentados pelos filhos separados ao tentarem comprovar a separação:
“O Morhan buscou esse reconhecimento e agora a gente está vendo a burocracia que vai ser e as dificuldades que já estamos encontrando para comprovar que esses filhos foram separados. As fichas dos pais, quando não sumiram, não trazem informações sobre a separação dos filhos. A história real da separação da família muitas vezes não foi registrada.”
A luta por documentos se estende para além do Acre. A dona de casa Célia Moreira, por exemplo, busca um registro em um hospital de Bauru, São Paulo, onde seu pai, hoje com 90 anos, foi transferido após passar pelo Souza Araújo. Ele precisou deixar a família para evitar o contágio e passou anos internado em um hospital colônia fora do estado. Seus dez filhos, deixados para trás, agora tentam receber a indenização, mas sem os papéis necessários, temem perder o benefício.
“A gente está tentando, né? Ainda estamos procurando. Já fomos na fundação, pegamos documentos na Souza Araújo, mas ainda falta a papelada de Bauru, que prova a separação. Sem isso, a gente pode perder a indenização,” disse Célia.
Proporcionalmente, o Acre foi o estado que mais internou pacientes com hanseníase em hospitais colônias, sendo também o que mais separou famílias. Diante da falta de registros oficiais, o Morhan enviou um ofício à Secretaria de Direitos Humanos em Brasília, solicitando apoio para que representantes venham ao estado verificar as dificuldades enfrentadas pelos filhos separados. A proposta é que, na ausência de documentação, a separação possa ser comprovada por testemunhas que vivenciaram esse passado de dor e isolamento.
Com informações do repórter Adailson Oliveira para TV Gazeta