Militância de Padre Paolino era contra a pobreza e a miséria
Frei Paolino é a expressão correta. Mas, convenhamos, leitor, é antipática. Do Purus para essas bandas do Vale do Acre, nos últimos 60 anos, todos se acostumaram a falar e a ouvir “Padre Paolino”.
Nascido na Bologna em 3 de abril de 1926, veio para o Brasil. Ficou em São Paulo e depois uma curta temporada em Santa Catarina. No Acre, chegou por volta de 1956. Inicialmente, para a região do Vale do Alto Acre, na comunidade do Icuriã (Brasileia).
O que encontrou logo que desembarcou não chegou a ser surpresa, mas exigiu um comportamento militante pela erradicação da miséria. Paolino viu que as desobrigas não poderiam se limitar à evangelização com referenciais católicos. Era preciso dar respostas práticas à vida dos extrativistas e ribeirinhos. Mas, os meios tradicionais não seriam eficientes.
De imediato, Paolino já viu a qualidade da classe política do Acre. Compreendeu rapidamente que o amparo à saúde do povo da floresta e da qualidade de vida dos extrativistas estava mais próximo das “piulinhas” que recebia da Alemanha do que da execução das políticas públicas por parte dos governos locais.
Não se tem referência da atuação política partidária do padre. Ou alguém já viu Paolino empunhando a bandeira de algum partido em algum barranco? Adotando a candidatura de alguma liderança? Essa postura, em si, já foi um gesto político claro.
No fim dos anos 90 e início dos anos 2000, não foi o Padre Paolino que buscou se aproximar da política. Foi justamente o contrário. O padre continuou sempre na mesma rotina.
Em diversas cartas a amigos da Capital (da Igreja ou alguns conhecidos da imprensa), externava o descontentamento, por exemplo, com a ideia do manejo florestal. Padre Paolino não dissociava o “manejo” das velhas e excludentes formas de uso da floresta. Era uma opinião. Ao seu modo, fazia as críticas que julgava pertinentes. Ao seu jeito, fazia a Política se render à Fé.
As filas de “pacientes” que se formavam na igreja central de Sena Madureira para receber a “consulta” do padre (situação tanto preocupava o amigo Dom Moacyr, receoso de que as pílulas enviadas de ONG’s alemãs pudessem ter algum efeito colateral); os insistentes pedidos de doação de galinhas aos produtores e comerciantes da região para a realização dos “bingos do padre”; a campanha que fez contra a abertura de um motel na cidade; ou a imagem de um homenzinho de batina encardida subindo apressado os barrancos do Purus são situações simples de uma Igreja que, aos poucos, vai deixando órfãos por aqui.
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