Quanto às mortes dos bebês, dois “argumentos” faltaram à equipe médica da maternidade: “Deus quis assim” e “o Acre é referência nacional em zelo nas maternidades públicas”.

Clareou?

Leitor, aqui vai a “nota de esclarecimento” da Secretaria de Estado de Saúde sobre a morte de dois bebês na Maternidade Bárbara Heliodora. Comentários, logo após.

Nota de Esclarecimento

A Secretaria de Saúde do Estado do Acre (Sesacre) vem a público lamentar os óbitos ocorridos na Maternidade Bárbara Heliodora (MBH) nesta quinta-feira, 28, e sexta-feira, 29.

Por reconhecer a gravidade dos óbitos, foi determinada a apuração imediata dos fatos, e será solicitado ao Ministério Público do Estado do Acre (MPE/AC) auxílio nas investigações, visando assegurar mais transparência ao processo.

Solidarizamo-nos com as famílias que estão de luto e reafirmamos que o governo do Estado não medirá esforços para apurar as causas desses falecimentos.

Ressaltamos que os servidores da unidade dedicam-se pela melhoria constante dos serviços prestados à população dos 22 municípios do Acre e regiões adjacentes.

Destacamos ainda que a maternidade registra uma média de 25 partos por dia, sendo que de oito a 10 são pela modalidade cesariana. Além disso, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) apontam que mais de 95% da população do Acre utiliza os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).

A Sesacre reconhece os esforços das equipes que atuam nas unidades de saúde, trabalhando diuturnamente em favor da vida.

Rio Branco – Acre, 29 de abril de 2016.

Gemil Salim de Abreu Júnior

Secretário de Estado de Saúde

Clareou? II

Seja sincero, leitor. Clareou alguma coisa? Bom… ao menos não há erros de gramática. Já é um avanço. Mas, a nota só diz que a Sesacre está em prantos com a morte das crianças; que 95% da população do Acre usa o SUS (?); que os servidores da Saúde são esforçados (?); que dos 25 partos diários da Maternidade Bárbara Heliodora de 8 a 10 são da modalidade cesariana.

Coletiva

Quando foi anunciada a coletiva para explicar a morte dos bebês, até os vigilantes dos jornais locais já sabiam do desfecho: que não foi culpa da equipe médica; que todos da equipe médica da maternidade são abnegados; que todos são esforçados; que os protocolos foram respeitados. Dois “argumentos” faltaram: “Deus quis assim” e “o Acre é referência nacional em zelo nas maternidades públicas”.

Pode piorar

Familiares têm tido que comprar material para curativos em hospital público; usuários correm risco de morrer porque o Governo não fornece medicamento de tratamento para o câncer, mesmo com a Justiça obrigando. Tem de tudo um pouco na Saúde Pública do Acre. E a tendência é piorar. Uma das causas é bem simples de entender: não há dinheiro.

Cálculo

Leitor, imagina só: em 1999, sabe quanto custava a folha de pagamento com funcionalismo público no Acre? Algo em torno de R$ 16 milhões. Sabe quanto custa a folha de pagamento hoje, leitor? R$ 192 milhões. É claro que não é por isso que a rede pública está beirando o caos.

Cálculo II

Nesse período de 1999 para cá, o Governo, de fato, precisou “profissionalizar a máquina pública”, realizou concursos, ampliou a rede de assistência em várias frentes etc etc. e isso tem um custo (simbolizado nos dois números acima). O problema foi que a economia local não conseguiu dar respostas à altura.

Base

A base da economia acriana continua a mesma desde Wanderley Dantas. Nos últimos anos, a novidade foi a inserção do setor de serviços, mas sempre amparada pelos humores do Governo.

Base II

O Governo do Acre na gestão de Tião Viana tem tentado ampliar as bases de produção. Há uma expectativa de que o esforço tenha êxito. Sem confiar na iniciativa privada e com gestão megalomaníaca, apostou em grandes projetos. Todos torcem para que os empreendimentos deem certo. Mas, este site já deixou registradas as perguntas: “por que o Governo tem que produzir porco, galinha e peixe?” e “desde quando produzir porco, galinha e peixe significa ‘inovação’ na indústria?”.

Sugestões, críticas e informações quentinhasdaredacao@gmail.com

 

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *