Saúde do povo: “O que é que nós estamos devendo a vocês?”

Três fatos ocorridos esta semana expõem como anda a temperatura na gestão de saúde pública no Acre. A cabeleireira Maria Barroso Moreira tem 43 anos e um seio a menos. Há quase dois anos faz tratamento para combater o câncer de mama. A manutenção da vida chega por cápsulas: precisa tomar um medicamento cuja caixinha com 30 comprimidos custa R$ 715.

Caso ela deixe de tomar uma das pílulas por cinco dias seguidos, a possibilidade de morte é real. A gestão do Governo do Acre não disponibiliza o medicamento desde dezembro.

E o pior: a contar desta quinta-feira (10), a previsão é de que o próximo lote chegue em 25 dias. Para o cidadão que tem o direito ao medicamento garantido por tudo quanto é legislação, a impressão que fica é de descaso; de falta de planejamento; de desrespeito.

O governo, é claro, não admite o caos. Continua a usar estatísticas companheiras que o apontam como “o segundo que mais investe em saúde no país”; teima no raciocínio quase cínico de que é “referência” na gestão pública neste e naquele setor.

“Quando descobri que estava com câncer, o médico me disse que 50 por cento era fé em Deus; 25 por cento era para eu para eu confiar nele [médico] e os outros 25 por cento eram por minha conta”, contabiliza. “Mas, de uns tempos pra cá eu mudei essa matemática: vivo um dia após o outro. Procuro aproveitar mais o tempo com meus filhos”. É a resposta à vida que a cabeleireira encontrou, embora tente, por meios legais, cobrar e responsabilizar o Governo pelo desrespeito e ineficiência.

O outro fato sobre Saúde parece ficção. O cidadão passou mal na última segunda-feira. “Foi um mal estar”, relatam amigos de trabalho que o socorreram ao levá-lo para o posto de saúde mais próximo, localizado na Seis de Agosto.

Fizeram os primeiros procedimentos antes de levá-lo para o Pronto Socorro. No PS, o homem desmaiou. Foram feitos os primeiros atendimentos de rotina. Os médicos chegaram a um diagnóstico. “É necessário fazer um cateterismo”.

Aberta a artéria, lá vai o cateter escarafunchar o coração do homem. O quadro clínico não melhorava. Foi quando alguém teve a feliz desconfiança. “Vamos fazer uma endoscopia”.

A câmera invasora no estômago do cidadão denunciou a verdade. Tratava-se de uma úlcera estrangulada. A esta altura da performance médica, o quadro clínico do homem já beirava uma infecção forte. Teve que ser internado na UTI, de onde recebeu alta na manhã desta sexta-feira (11).

Dívida?_ Uma pergunta deveria incomodar os ouvidos dos gestores púbicos do Acre. Um vídeo mostrava a revolta de uma mãe na UPA do 2º Distrito de Rio Branco pela falta de pediatra.

Ela gritava, revoltada com o descaso, com a demora, com a falta de tudo, enquanto a filha ardia em febre nos braços. Em um dado momento, aos gritos, dedo em riste, urrou para os funcionários: “Eu quero que vocês me digam: o que é que nós estamos devendo a vocês?” O silêncio do outro lado do balcão dizia tudo o que a gestão em Saúde no Acre sempre diz ao povo. “O que é que nós estamos devendo a vocês?”

{youtube}-BU6M9Uo_qw{/youtube}

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *