Arte: Ruimar Cavalcante do Carmo Júnior
Em 25 de julho de 1992, graças ao 1° Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado na República Dominicana, se instituiu a data como marco alusivo a união destas contra o racismo e machismo. Doze anos depois, sob a gestão da primeira mulher brasileira como presidenta do nosso país, foi instaurado pela Lei nº 1297/2014 o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Por isso, a data é de extrema importância para destacar a história, a resiliência e a luta das mulheres afrodescendentes na América Latina, Caribe e principalmente no Brasil.
Aqui em nosso país torna-se mais especial a data ao homenagear Tereza de Benguela, que viveu no século XVIII e foi líder do Quilombo do Piolho ou Quilombo do Quariterê, situado na divisa entre Mato Grosso e Bolívia. Onde comandou a resistência indígena e negra por duas décadas. Não obstante o silenciamento em torno de suas memórias, coube hoje a esta coluna recorda-la como destaque de representação de força feminina, pois a chamada rainha Tereza é símbolo de heroína negra esquecida pela historiografia nacional.
Tais circunstâncias nacionais nos fazem pensar sobre a história das mulheres negras na América Latina e no Caribe ser marcada por um legado de luta contra a opressão, a escravidão e a marginalização social. Durante séculos, elas enfrentaram diversas formas de violência e discriminação, tanto no período colonial quanto após a abolição da escravatura. Ainda hoje, as mulheres negras encaram desafios como o racismo estrutural, a desigualdade de oportunidades e a invisibilidade em diversas esferas da sociedade.
Assim, o Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha é uma oportunidade de chamar atenção ao tema, de modo a estimular o reconhecimento da importância das contribuições das mulheres afrodescendentes para o desenvolvimento cultural, político e social da região e do mundo. Além de ser uma data para enaltecer suas conquistas, ressaltar sua resiliência diante das adversidades, é sobretudo momento para refletir e reafirmar a necessidade de combater todas as formas de discriminação e preconceito.
Pois apesar dos avanços obtidos por meio da luta feminista e antirracista, as mulheres negras vivenciam experiências de violência física, emocional, psicológica e social. O feminicídio atinge mulheres negras de maneira alarmante, além do difícil acesso à educação de qualidade, saúde adequada e oportunidades de trabalho digno. A representatividade política também é um desafio, com a sub-representação de mulheres negras nos espaços de poder e decisão. Pare e pense um pouco: quais são as mulheres negras políticas ou em cargos socialmente relevantes que você conhece? Sua resposta provavelmente será com reduzidos números.
Por isso, é fundamental que a celebração do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha não se limite a uma data festiva, mas que seja um momento de reflexão e engajamento. A sociedade como um todo deve apoiar ações que promovam a igualdade de gênero e raça, bem como a inclusão e valorização das mulheres negras em todas as esferas da vida. Somente com a união de esforços e o reconhecimento da diversidade étnico-racial poderemos alcançar uma sociedade verdadeiramente inclusiva e plural.
E você que acabou de ler esse texto, já se perguntou o que pode fazer? Sugerimos que comece se informando um pouco mais a respeito disso, converse com os seus vizinhos, amigos e parentes. Para colaborar no debate, veja nossas referências abaixo.
HOLLANDA, Heloísa Buarque de (org.). Pensamento Feminista Hoje: Perspectivas Decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020.
RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro?. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 148 p.
RIOS, Flávia; LIMA, Márcia. Por um feminismo afro-latino-americano: ensaios, intervenção e diálogo. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
Por: Antônia Thaynara de Farias Mendonça – Bacharelanda em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Integrante do Centro Acadêmico Pedro Martinello.
Dandara Cesar Dantas – Bacharelanda em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Integrante do Centro Acadêmico Pedro Martinello.
Helenayra Moreira do Nascimento – Bacharelanda em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Integrante do Centro Acadêmico Pedro Martinello.