A prática data do Egito Antigo, mas incomoda até hoje.
Quase cinco mil anos após os primeiros anúncios serem publicados em papiro, foi a indústria do tabaco que consolidou a publicidade moderna tal como a conhecemos – com o uso hábil dos meios de comunicação para manipular nossas emoções e nos induzir a adquirir produtos e serviços.
Então veio a internet, cuja disseminação potencializou o alcance e as oportunidades para a publicidade.
No início dos anos 90 eram veiculados os primeiros anúncios na web. Imagens estáticas que logo deram lugar a versões animadas e, com o aumento da velocidade das conexões, os hoje tão difundidos anúncios em vídeo.
Em lugar de trazer números para ilustrar o impacto econômico da publicidade digital (que chega aos bilhões de dólares), cito o caso do OG App. Um aplicativo que, entre outras coisas, permitia a qualquer um usar o Instagram – mas sem anúncios.
O app despertou a ira de gigantes da tecnologia como Apple e Google – além, é claro, do próprio Instagram. Apesar de serem concorrentes, as empresas se aliaram para reprimir a iniciativa e deixar claro para o mundo: não mexam com nossos anúncios! O aplicativo sumiu da internet – assim como, lamentavelmente, os perfis pessoais de seus desenvolvedores naquelas redes.
A legitimidade de utilizar um serviço digital – website ou app – ocultando sua publicidade é debatível.
Na perspectiva dos negócios, argumenta-se que os anúncios pagam pelo que você acessa gratuitamente, de forma que não seria justo consumir um conteúdo e esconder a propaganda.
Por outro lado, a publicidade digital pode acarretar prejuízos aos usuários. Ela é mentalmente desgastante e computacionalmente custosa. Os banners tiram nosso foco do conteúdo e comprovadamente consomem boa parte da nossa franquia de internet.
Do ponto de vista da segurança digital, também não são interessantes: muitos vírus de computador são disseminados através de anúncios em sites e aplicativos, prática chamada de malvertising. Sem falar na ameaça à privacidade, já que certos anúncios podem rastrear a navegação dos usuários por diversos websites e aplicativos.
Enfim. Nesta perspectiva, defende-se que bloquear anúncios é não apenas uma opção, mas um direito dos usuários. A publicidade digital nada mais é que um programa de computador, e os usuários podem decidir quais programas eles querem ou não rodar em suas máquinas, bem como quais tipos de dados trafegam por suas conexões.
Finalmente: como bloquear publicidade digital
Àqueles que desejam exercer seus direitos sobre suas máquinas, indico o uBlock Origin.
Trata-se de um pequeno programa que, se instalado em seu navegador de internet, bloqueará a quase totalidade de anúncios dos sites que você visitar – inclusive os famigerados anúncios do YouTube.
O uBlock Origin é multiplataforma, seguro e possui código aberto. Você pode usá-lo nos principais navegadores, como Chrome, Firefox, Edge, Opera e Safari.
Para instalar, acesse www.ublockorigin.com e clique no botão Get uBlock Origin. Então você será direcionado a uma segunda página, e aí é só clicar em Usar no Chrome (ou Add to Firefox, a depender do seu navegador).
Assim que instalado, o uBlock Origin já começa a esconder os anúncios dos sites que você visitar.
Consequentemente, você estará mais seguro, economizará dados da sua internet e contará com uma navegação mais limpa.
Por fim, aos que estão num dilema ético, o software ainda torna possível apoiar sites específicos com o clicar de um botão – o que restitui a publicidade para as páginas desejadas.
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Gustavo Cardial é especialista em Computação Forense, mestrando em Ciência da Computação e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac)