Se o Ibama não fizesse o que fez, diante das informações que tem, estaria prevaricando. É isso o que se quer?
É preciso ser franco: as 275 páginas do Relatório de Áreas Embargadas do Ibama desautorizam as críticas feitas ao órgão federal na polêmica sobre a suspensão das operações de algumas madeireiras do Acre. O órgão federal, na verdade, tem sido muito paciente. Exceção feita aos municípios de Santa Rosa, Jordão e Marechal Thaumaturgo, as supostas danações dos “empreendedores” do setor madeireiro se espalham Acre adentro.
No entanto, há um problema que tem sido mal conduzido pelo Ibama. Com todas as informações e comprovações que tem, por que o Ibama não explica? Por que ele não aponta o que sabe? Não é uma satisfação aos empresários: estes sabem o que fizeram.
O Ibama tem que dar uma satisfação ao cidadão comum; tem que convencer o cidadão (tanto da área urbana quanto florestal) do acerto da sua postura; que não há excessos; que as decisões têm obedecido a critérios e fundamentos técnicos e legais.
Se a direção do Ibama não aproximar o seu gesto das pessoas mais afastadas da cadeia produtiva da madeira, os empresários do segmento facilmente emplacam a retórica de que o órgão trata o segmento como criminoso.
Das 30 empresas do segmento no Acre, 21 estão com atividades suspensas. O que deveríamos nos perguntar é: o que as outras nove fizeram para se manter em atividade regular? A pergunta também pode ser feita pela negativa: o que elas “não fizeram” para que continuem trabalhando de acordo com o que exige a legislação?
Na semana passada, quatro empresários que atuam no segmento madeireiro foram pedir apoio ao atual presidente da Apex, Jorge Viana. O ex-governador terá que exagerar no cálculo quando for conversar com a colega de governo e de militância, Marina Silva.
A ministra do Meio Ambiente já tem história suficientemente clara para exigir dos interlocutores argumentos que extrapolem o óbvio. Ninguém espere dela que irregularidades e supostos crimes sejam anistiados em função de suas amizades e de seu endereço de nascimento. Ao contrário. Para uma história como a de Marina Silva, se o Ibama não fizesse o que fez, diante das informações que tem, estaria prevaricando. É isso o que se quer?
A verdade, difícil de assumir publicamente pelas entidades representativas da classe empresarial, é que muitos representantes deste segmento adoravam a ideia da “boiada passar”; se esbaldaram silenciosamente no desmantelamento do Ibama executado durante os últimos quatro longos anos. Quando se tem uma condução minimamente responsável no órgão federal, a grita é geral entre os “empreendedores”; “geradores de renda e emprego”; “homens de bem” etc. etc.
O que espanta, no entanto, é o silêncio do Ibama. Se ele está fazendo o que tem que ser feito e tem respaldo e embasamento legal, a preocupação precisa se afinar com outra seara: a da política. Não se trata de pelejar por concessões. Não há concessões a serem feitas quando o que está em questão são supostos crimes ambientais. Mas o que a direção do instituto precisa conquistar é a percepção do cidadão comum. E não é com o silêncio que isso se fará.