Como a fragilidade da gestão pública em Saúde no Acre inviabiliza a residência médica no Huerb
A fragilidade da gestão pública em Saúde no Acre está inviabilizando a residência médica no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco. Ou a Secretaria de Estado de Saúde muda de postura ou a formação especializada ficará ainda mais comprometida. Mais do que o normal.
O assunto é grave e provocou um encontro, gestado há pelo menos três meses, entre a líder do governo na Aleac, deputada Michelle Melo (PDT), com representantes da Comissão de Residência Médica e professores da Faculdade de Medicina da Ufac. O deputado estadual Edvaldo Magalhães também participou das discussões.
Há um ponto nevrálgico a ser mudado. E é justamente no danado deste ponto que reside uma postura permissiva por parte da Sesacre. Trata-se do quê? Trata-se do trabalho das empresas terceirizadas que atuam no Huerb: as empresas que lidam estritamente com a prática da medicina nas especialidades de neurologia, ortopedia, clínica geral, bucomaxilofacial, anestesia.
É possível sintetizar o cenário dizendo que as empresas terceirizadas não estão muito interessadas na formação do jovem estudante de Medicina. Cuidar desse jovem precisa ter método; ter tempo; ter outro profissional médico dizendo “faça assim; não faça isso; apalpe aqui; esqueça acolá”. Tudo isso somado resulta em custos.
Qual deveria ser a postura da Sesacre? Impor, via contrato (edital), às empresas terceirizadas que ofereçam ao médico residente as condições para o necessário aprendizado.
“A pauta principal é a manutenção da estrutura para a realização da residência médica”, esforçou-se na diplomacia a líder do governo na Aleac, Michelle Melo, para explicar o clima da reunião com a Comissão de Residência Médica. Em português mais simples, poderia ser traduzido da seguinte forma: “como as terceirizadas podem não atrapalhar”.
Outro ponto a ser discutido em uma audiência pública na Aleac será o reajuste da bolsa do residente. É um assunto mais difícil porque se trata de uma verba federal. Portanto, a Aleac não tem como intervir. A não ser que haja algum arranjo jurídico para que o Governo do Acre faça um complemento para tornar a residência médica aqui mais atrativa.
É preciso ter uma dimensão mais madura em relação à residência médica. A Faculdade de Medicina da Ufac não pode ser uma máquina de exportar médicos. É um paradoxo que não respeita o esforço de criação dessa escola.
Mas, neste caso, cabe ao Governo do Estado criar as condições para manter esse jovem recém-formado por aqui. A residência médica cria esse clima de “Ficar vale a pena!”. Não é razoável cobrar do médico a compreensão histórica e política que construiu o cenário para que hoje ele estivesse se formando em uma escola médica federal no Acre.
Ele não é obrigado a saber disso. Seria o ideal. Mas, na prática, ele não está nem um pouco preocupado com isso. Ele quer um plano de carreira atrativo. Mas para isso é preciso ter gestão com capacidade de oferecer a proposta. Há isso?