O 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023 trouxe à tona números alarmantes sobre a incidência de estupros no país, destacando Rio Branco, capital do Acre, como uma das cidades mais afetadas. Em 2023, o Brasil registrou um estupro a cada seis minutos, totalizando 83.988 casos, um aumento de 6,5% em relação ao ano anterior. No Acre, apenas no primeiro semestre do ano, foram reportados 506 casos, um dado que preocupa especialistas e ativistas.
“Temos um número expressivo, mas muito subnotificado. Muitos casos não chegam às autoridades porque falta educação nas escolas sobre o tema”, ressalta Tatiana Carla, presidente da Associação das Mulheres Juristas do Acre. Segundo ela, frequentemente as vítimas são crianças que encontram dificuldade em denunciar o crime.
Especialistas apontam diversas causas para o aumento dos casos, incluindo subnotificação em anos anteriores, maior conscientização sobre a importância da denúncia e resistência cultural à mudança.
“A maioria dos agressores são familiares, como padrastos ou tios, e muitos casos envolvem meninas, embora também ocorram com meninos. Isso revela um problema cultural enraizado que precisa ser enfrentado”, diz Tatiana Carla.
Outro dado preocupante do Anuário revela que 76% dos estupros foram cometidos contra pessoas em situação de vulnerabilidade, como menores de 14 anos ou pessoas com deficiência. Em média, três casos são registrados por dia apenas em Rio Branco, com 116 casos até abril deste ano envolvendo vítimas vulneráveis, um reflexo também observado no interior do estado.
“Nós estamos implementando melhorias nas unidades especializadas em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, além de instalar salas lúdicas nos municípios sem delegacias especializadas. Queremos oferecer um atendimento mais acolhedor para mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica e crimes sexuais”, explica Juliana de Angelis, coordenadora do projeto “Bem-me-quer”.
A delegada reforça a importância da denúncia em qualquer situação de violência sexual, destacando a disponibilidade de canais anônimos como o Disque 100 para crianças e adolescentes e o 180 para mulheres. “Qualquer pessoa que tome conhecimento de um abuso sexual pode e deve denunciar. A polícia está preparada para investigar e levar os agressores à justiça”, conclui.
Matéria em vídeo produzida pelo repórter Marilson Maia para TV Gazeta.