Por enquanto tentam lidar com lixo e mau cheiro que ficou
Centenas de famílias que estão retornando aos locais onde as águas recuaram encontraram suas casas tomadas por lama e não sabem por onde começar. Em alguns bairros como Habitasa e Cidade Nova, os moradores que retornaram a partir de sexta-feira passada, ainda estão limpando a sujeira.
Na casa onde mora a auxiliar de serviços gerais, Edileuza Pereira, a tarefa ainda está pela metade. A família composta por 7 pessoas, administra o tempo entre trabalhar fora e ajudar na organização da casa. Eles perderam muita coisa. Principalmente móveis dos quartos e sala de estar. “Acho que só concluo a limpeza daqui uma semana”, diz a moradora.
Edileuza morava no bairro Cidade Nova, uma área de risco. Há um ano, quando se mudou para a parte alta do bairro Habitasa, imaginou que nunca mais sofreriam com a alagação.
No mesmo bairro mora o corretor de imóveis Juscileide Justalima, conhecido como ‘Tupi’. Ele vive com mais três pessoas na mesma casa há 18 anos, e a água da enchente nunca havia invadido a moradia. No dia 1º de março ele suspendeu os móveis por precaução, mas na madrugada do dia 2, a água tomou conta dos cômodos.
Seu Tupi ainda contabiliza os prejuízos, principalmente com documentos importantes que foram danificados. Livros antigos, fotos da família e outros papéis estão expostos ao sol para secar. O corretor mostra com pesar, como ficaram os certificados e o diploma de conclusão do curso universitário.
Diante da experiência traumática, seu Tupi pensa em sair do local onde vive. “A permanência aqui é paliativa. Nós sabemos que esse fenômeno deve se repetir e isso tira nossa tranquilidade e nos dá incerteza quanto a nossa permanência aqui”, disse.
No 2º Distrito, a população do bairro Cidade Nova também sofre com as consequências da cheia. O barro fétido ainda está nas ruas e dentro das casas o cheiro ainda incomoda. O casal de imigrantes peruanos, Ernesto Cruz e Pillar Rodrigues trabalham juntos para colocar as coisas em ordem. Os filhos acompanham o cenário desolador do bairro mais uma vez. Esta é a quinta experiência da família com alagação, contudo, mais intensa que as demais.
Na frente da casa do casal funcionava o comércio, fonte da renda da família. As prateleiras estão vazias, por que os produtos se estragaram com a alagação. Eles estimam prejuízo de R$ 7 mil.
Mesmo diante do prejuízo e do transtorno, o casal não pensa em sair do bairro. Eles acreditam que é mais difícil arcar com o aluguel de uma casa com espaço para comércio em outro ponto da cidade. Mas a saída é uma expectativa, diante de tanto sofrimento. “Gostaria de ganhar uma casa do governo, para sair da alagação e poder trabalhar. Ficamos sem nada e pra comprar é difícil”, diz Pillar, com os olhos lacrimejando.