No Acre, o número de feminicídios chegou ao sétimo caso em 2024, evidenciando um cenário que demanda união entre o Estado e a sociedade. A Secretaria da Mulher (Semulher) tem reforçado iniciativas que priorizam a prevenção e proteção às mulheres.
“A sociedade e o Estado precisam afirmar todos os dias os direitos das mulheres, em especial o direito elementar que é a vida”, afirma a pasta. Tendo isso em vista, a Semulher tem adotado estratégias preventivas que visam orientar mulheres sobre a importância de romperem o ciclo de violência doméstica, oferecendo suporte antes que a situação evolua para lesões graves ou até feminicídios.
A maior parte dos feminicídios ocorrem nos finais de semana, o que leva a Semulher a intensificar os atendimentos. “As agendas da Unidade de Acolhimento à Mulher (Ônibus Lilás) são desenvolvidas nos finais de semana nos bairros de Rio Branco, municípios e comunidades rurais em todo o estado. Dispomos de atendimento via telefone celular das 8h00 até as 20h00, todos os dias da semana”, enfatiza.
A partir de novembro, a secretaria também iniciará grupos terapêuticos semanais no Juruá, Alto Acre e Rio Branco e desenvolverá ações voltadas ao público masculino, buscando a conscientização e a prevenção da violência em múltiplos âmbitos.
A Semulher lançará em 22 de novembro a Campanha dos 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, com atividades que alcançam mulheres negras, indígenas, trans e das zonas rurais, além de atividades educativas nas escolas.
Além dessas iniciativas, a Semulher mantém programas como o “Feminicídio Zero”, com palestras sobre a Lei Maria da Penha; o “Papo Reto”, que trabalha a prevenção da violência contra meninas nas escolas; o “Programa Não Se Cale”, que combate o assédio em instituições públicas e privadas; e o “Zona Segura”, que certifica empreendimentos de lazer como ambientes acolhedores e seguros para mulheres em situação de violência.
Recorrência e Aumento dos Casos
Tatiana Martins, advogada presidente da Associação das Mulheres Juristas do Estado do Acre, observa que a violência contra a mulher no Acre apresenta uma “sazonalidade”, impulsionada por fatores diversos, como o aumento do consumo de álcool e drogas em finais de semana e períodos festivos.
“Não é a simples reprodução jornalística que faz isso acontecer, mas a divulgação reiterada de atos de crueldade contribui para uma certa ‘normalização’ da violência”, afirma Martins. Ela ainda ressalta que a mídia pode desempenhar um papel importante, desde que adote uma abordagem menos sensacionalista, com foco na conscientização e no apoio às vítimas.
“As ações sociais e políticas públicas que fortalecem a mulher a não aceitar mais relacionamentos violentos também aumentam a conscientização sobre a necessidade de romper o ciclo de abuso”, diz a advogada. Embora o Acre tenha endurecido a legislação com penas que podem chegar a 40 anos, a advogada explica que muitos agressores agem impulsivamente, sem avaliar as consequências legais dos atos.
“Não é o rigor da pena que vai fazer com que se inibe das ações monstruosas; afinal, ele não é um monstro, ele é um pai/filho/tio contaminado por um sistema tóxico que precisa ser desmantelado das famílias, igrejas, escolas e de toda a sociedade”, defende.
Canais de ajuda
Todos os dias, das 8h às 20h, a Semulher oferece um canal de atendimento pelo WhatsApp (68-99930-0420), além de reforçar a importância de contatos como o Disk 180 e o 190 para casos de descumprimento de medidas protetivas.
Produção: Gisele Almeida