A falta de assistência adequada a indígenas que vivem nas cidades e nas aldeias tem gerado preocupação entre lideranças do Acre. Dados do censo do IBGE de 2022 revelam que o estado abriga 31.694 indígenas, dos quais 61% vivem em terras indígenas, enquanto cerca de 12 mil se mudaram para áreas urbanas. Esse deslocamento tem exposto vulnerabilidades e agravado desafios.
Segundo lideranças, indígenas que vivem nas cidades enfrentam a ausência de suporte, tanto por parte da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) quanto de organizações não-governamentais. Esse cenário tem contribuído para a marginalização de muitos jovens, que buscam oportunidades como acesso à educação superior, mas acabam esquecidos pelas políticas públicas. O crescimento de facções criminosas nas áreas urbanas também tem captado jovens indígenas, aumentando a preocupação das comunidades.
No contexto das aldeias, a situação também é crítica. De acordo com o IBGE, 24% da população indígena no estado – cerca de 5 mil pessoas – são analfabetas em língua portuguesa, reflexo da precariedade na oferta de educação básica. Em comunidades como Madejá, no município de Manoel Urbano, escolas estão fechadas há anos. “Há dois anos pedimos a reabertura da escola, mas nossos pedidos parecem não chegar aos responsáveis pelas decisões”, lamenta Txuã Huni Kui, liderança indígena local.
Além disso, cerca de 30% das crianças indígenas no estado não possuem registro em cartório, o que compromete o acesso a benefícios como o Bolsa Família. Apesar disso, houve avanços em habitação: 90% dos indígenas vivem em casas, menos de 7% em malocas, e apenas uma minoria em cortiços. Porém, nas cidades, famílias indígenas enfrentam dificuldades habitacionais severas, dividindo espaços apertados e precários, como observado em Rio Branco.
Letícia Yawanawá, outra liderança indígena, destaca que as comunidades indígenas precisam ser incluídas de maneira efetiva nas políticas públicas. “Muitas aldeias estão sem escolas funcionando, e quem migra para a cidade também não encontra atendimento adequado. É preciso garantir educação, habitação e dignidade para o nosso povo”, enfatiza.
Os dados revelam um crescimento de 43% na população indígena do Acre entre 2010 e 2022, alcançando 4% da população total do estado. Essa expansão demográfica reflete a força das comunidades indígenas, mas também amplia os desafios. O cenário atual exige uma atenção redobrada de órgãos governamentais e da sociedade para assegurar condições dignas de vida e o respeito aos direitos dessas populações.
Matéria produzida pelo repórter Adailson Oliveira para a TV Gazeta.