A estreia do documentário “Empate”, dirigido por Sérgio de Carvalho, acontece nesta quinta-feira (5) nos cinemas brasileiros. A produção narra a trajetória e o legado de Chico Mendes, seringueiro, sindicalista e ativista ambiental assassinado em 1988. Longe de se concentrar apenas no fatídico fim da vida do ativista, o filme celebra a história e os 80 anos do legado que ainda inspira lutas pela preservação ambiental.
A ideia do filme surgiu do encontro entre Sérgio e Elenira Mendes, filha de Chico, em 1998, no marco dos 20 anos do assassinato do ativista. “Ela queria um filme que homenageasse o pai de uma forma mais próxima, longe da imagem do herói inatingível”, explica o diretor.
Inspirado pelo documentarista Eduardo Coutinho, Sérgio decidiu contar a história de Chico a partir dos relatos dos companheiros de luta, figuras fundamentais nas décadas de 1970 e 1980. “A melhor maneira de a gente falar sobre a luta de Chico Mendes, e do legado, é por meio dos companheiros, daqueles que dividiram e compartilharam todas as lutas, dores, angústias e vitórias com o Chico”, diz Carvalho.

O título do documentário faz referência às táticas pacíficas utilizadas pelos seringueiros na defesa das florestas: os empates. Essas manifestações consistiam em formar barreiras humanas para impedir o desmatamento em suas terras, um modelo de resistência que tornou-se símbolo da luta ambiental e coletiva liderada por Chico Mendes.
Além de resgatar memórias, o filme reflete os desafios atuais enfrentados pela Amazônia, desde o desmatamento até as pressões políticas. Para Sérgio, as lutas de Chico e dos povos da floresta continuam urgentemente relevantes: “Ele nos deixou pistas muito importantes para lidarmos com as mudanças climáticas e as pressões sobre os territórios amazônicos.”
A produção de Empate foi longa e desafiadora. Idealizado em 1998, o filme começou a ser rodado apenas em 2016 e 2017, durante o conturbado período político brasileiro pós-impeachment de Dilma Rousseff. Nesse contexto, o diretor encontrou os companheiros de Chico, hoje em torno dos 80 anos, ainda ameaçados pela perda de suas terras e pelo avanço do desmatamento.
A obra, que inicialmente seria um registro de memória, acabou se tornando um documento sobre a contemporaneidade. “O ano em que Chico foi assassinado, está chegando de novo. Um filme que seria de memória, acabou sendo uma obra que está de alguma maneira a serviço dos desafios contemporâneos”, diz o cineasta, em referência à constante precarização das reservas extrativistas.
Além de relembrar o legado de Chico Mendes, o documentário busca conscientizar o público sobre a importância da Amazônia e dos povos que nela vivem. Sérgio destaca a relevância das reservas extrativistas, um dos maiores legados de Chico, que propõem a convivência sustentável entre o homem e a floresta.
Com uma narrativa que combina memória e ativismo, empate é um chamado à ação em prol da preservação ambiental e da valorização dos povos da floresta. O filme convida o público a refletir sobre a urgência das questões climáticas e a inspirar-se nos ideais de Chico Mendes, cuja luta ressoa com força no Brasil e no mundo.