A estátua do seringueiro Chico Mendes, localizada na Praça dos Povos da Floresta em Rio Branco, foi alvo de mais um ataque que resultou na destruição das mãos na madrugada desta quarta-feira (15). A filha, Angela Mendes, expressou indignação diante do ocorrido. Para ela, o ataque à estátua representa um processo de invisibilização da história e da luta do pai.
“Esse processo de invisibilização do nome e da história de Chico Mendes não é de agora. A estátua foi derrubada, abandonaram a casa de luta em Xapuri e apagaram as representações nos espaços públicos. Isso parece ter se fortalecido, especialmente através das bancadas evangélicas conservadoras e ruralistas”, explica a filha.
Ela enfatizou a importância do diálogo e da construção de entendimentos pacíficos para resolver conflitos, ao invés de recorrer à violência. Além disso, destacou que, apesar da surpresa com o novo ataque, a falta de ação dos órgãos públicos não é novidade.
“Eu reagi com surpresa, mas também com muita indignação. A estátua foi derrubada há pouco tempo, e não houve apuração. É o Estado jogando a responsabilidade para a Prefeitura e vice-versa. Estamos falando de um patrimônio público, e a praça está totalmente abandonada, assim como vários outros espaços públicos de Rio Branco”, afirma Mendes.
Angela Mendes também criticou a falta de cuidado do Estado com a memória e história, e afirmou que um governo que não honra as raízes não pode avançar civilizatoriamente.
“Um Estado que não cuida da sua memória, que não honra sua história, não valoriza sua cultura. Vemos vários espaços históricos abandonados que contam a história do Acre, que é tão revolucionário”, diz.
Em resposta ao ataque, Angela afirmou que a família tomará as medidas cabíveis e espera que as autoridades investiguem o caso adequadamente. Para ela, o vandalismo não é apenas um atentado a um bem público, mas um aviso de que forças retrógradas ainda se sentem amparadas e impunes.
“Isso é um aviso de que o latifúndio não morreu. Eles acham que isso não vai ter consequências. Mas não vamos deixar esse atentado contra a história do meu pai impune. A luta dele continua viva em cada um que acredita na justiça social”, conclui Mendes.
O chefe do Departamento do Patrimônio Histórico do Acre, Ítalo Facundes, também se manifestou sobre o ataque. Ele explicou que, apesar da importância cultural da estátua, ela não é considerada patrimônio histórico, o que limita a responsabilidade dos órgãos em relação à proteção.
“É uma praça, não um espaço urbano protegido. A Fem não tem responsabilidade sobre esses espaços, exceto quando representam bens tombados. Essa escultura, embora cultural, não é um bem tombado”, esclarece o Chefe.
O Comitê Chico Mendes também se pronunciou, com repúdio a violência e no pedido de uma investigação sobre o caso. O comitê destacou que um ataque à memória de Chico Mendes é uma ameaça aos valores que buscam transformar a situação de desequilíbrio climático que a sociedade enfrenta atualmente.
“Repudiamos essa violência em um local de ampla movimentação e com monitoramento policial. A estátua é um patrimônio público e exige cuidado de diversos setores da sociedade. É urgente uma investigação”, enfatiza o Comitê.
O ataque à estátua de Chico Mendes evidencia não apenas a falta de cuidado com a memória do ativista, mas também os desafios enfrentados na luta por justiça social e ambiental no Acre. A esperança da família e dos apoiadores é que, através de um esforço conjunto, a história e a luta de Chico Mendes possam ser honradas e preservadas para as futuras gerações.
Matéria feita sob direção de Natália Lindoso para o Agazeta.net
Estagiário supervisionado por Gisele Almeida