Por *Natália Lindoso* para o Agazeta.net
Numa escala de 0 a 100, a pontuação do Brasil no Índice de Corrupção é de 36. Os dados são do Índice de Percepção de Corrupção (IPC), que faz parte da Transparência Internacional. Dentre 180 países, em 2023, o Brasil alcançou 36 pontos e a 104° posição, a pontuação reflete a percepção de integridade de cada país, quanto menor a nota, menor a percepção.
O dicionário da Oxford Languages define corrupção como “uso de meios ilegais para apropriar-se de informações privilegiadas, em benefício próprio”. Engana-se, portanto, quem pensa que a corrupção é apenas um mal atribuído a políticos, famosos, ou pessoas no poder. Furar a fila, pegar algo emprestado e não devolver, desrespeitar as sinalizações no trânsito, passar o troco errado, e tantos outros exemplos do famoso “jeitinho brasileiro”.
Atos “pequenos” de corrupção estão enraizados na sociedade, e isso não é de hoje. A tradição é passada pelas famílias, e se aprende que ser o mais “esperto”, ou “sair por cima”, é mais vantajoso. Ao crescerem e irem para o mercado de trabalho e viver em sociedade, as pessoas levam consigo esses tipos de aprendizado. Dessa forma, pequenos atos refletem em grandes consequências para o bem estar social.
Pensando nisso, o Ministério Público do Acre (MPAC), lançou o projeto “Eu Digo Não à Corrupção”, em escolas públicas estaduais do ensino médio de Rio Branco e Cruzeiro do Sul. O projeto é uma parceria com a Secretaria de Estado de Educação, a Fundação de Cultura Elias Mansour, e a Assembleia Legislativa do Acre. O público-alvo são os alunos do terceiro ano do ensino médio.

A iniciativa já existia em outros estados, e foi trazida para o Acre pelo MPAC. O projeto contou com atividades lúdicas entre os alunos, com apresentações de teatro e dança. Além disso, foi lançado um concurso de redação, com premiações para as três melhores redações nas escolas de Rio Branco e Cruzeiro do Sul. A promotora de Justiça, Myrna Teixeira, foi idealizadora no projeto no estado e explicou o intuito dessa iniciativa:
“O projeto visa conscientizar esses alunos de que a corrupção não é privilégio de políticos, nem privilégio de gestores, empresários. A corrupção está no nosso dia a dia, infelizmente, como algo que é natural. É a velha história de que só se dá bem na vida quem for uma pessoa esperta. É o nosso jeitinho brasileiro levado ao contrário, não é o jeitinho brasileiro da criatividade positiva. Então, é revelar para esses alunos que a corrupção está no dia a dia”, explica.

A primeira edição do projeto no estado aconteceu em 2024, para os alunos do terceiro ano de todas as escolas públicas de Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Houve a abertura do projeto com diversas atividades, e após isso, as escolas abordaram sobre o assunto em aulas com os professores de língua portuguesa, além do auxílio com a escrita da redação dos alunos, com o tema “Eu Digo Não à Corrupção”.
A professora de Língua Portuguesa da Escola José Ribamar Batista, Sirlene Luz, explicou como funcionou a parceria e o projeto na escola: “no primeiro momento, eles conversaram conosco sobre o projeto, através dessa parceria da Secretaria de Educação com o Ministério Público, e nós fomos para essa reunião, esse encontro, com os representantes do Ministério Público para saber de todas as situações, como seria desenvolvido o projeto dentro da escola”, conta.
Para o gestor da Escola Jornalista Armando Nogueira, Marcos Lucas, a importância desse projeto foi evidenciar o debate com os alunos, a escola e as famílias, “eu vejo a importância desse tema a ser discutido não somente na escola, mas nas famílias, em todo o contexto, porque o país tem essa problemática da questão da corrupção, não somente com os políticos. São muitos exemplos que a gente, como cidadão, afere essa questão de ser corrupto ou não”, diz.
Os alunos que ganharam o concurso de redação, receberam, além do certificado de participação, celulares e medalhas como prêmio. Com medalhas de ouro, prata e bronze, para as classificações.

Impacto para os alunos
O estudante João Paulo Oliveira, foi um dos ganhadores do concurso de melhor redação em Rio Branco. Até então, aluno da Escola Armando Nogueira, João Paulo conquistou o segundo lugar e contou como foi a experiência de participar do projeto:
“Foi muito bacana participar. Eu descobri sobre ele quando nós fomos no primeiro dia para a Ufac, que teve as apresentações principais com as pessoas e as danças. Foi comunicado para a gente que ocorreria esse concurso sobre redações, que me chamou muita atenção, porque eu já gostava muito de fazer redações, então eu fiquei muito animado com isso”, explica.

A aluna ganhadora do terceiro lugar em melhor redação, Ana Katrielly Albuquerque, da Escola Boa União, conta que espera que a experiência com o projeto e com a redação agreguem na sua escrita e vida acadêmica.
“Ter participado desse projeto realmente foi uma experiência muito boa. Eu consegui ter mais autoestima em relação à minha capacidade de conseguir desenvolver um texto de dissertativo argumentativo, ainda mais sobre um tema tão importante quanto esse, que é a corrupção”, explica.

A aluna que recebeu medalha de ouro no concurso de melhor redação foi Sara Ketlen Albuquerque, da Escola Boa União, com o título “Os paradoxos do Brasil: sistema corrupto e sociedade justa”, Sara conta que ela e sua família ficaram muito felizes com a premiação.
“Se uma pessoa, como indivíduo, ela é corrupta, se ela foi escolhida para um poder público, como um político, votada e escolhida, ela ainda vai ser corrupta. O político corrupto é porque a nossa sociedade, ela é corrupta”, explica sobre a escolha do tema da redação.

Futuro do Projeto
O MPAC espera realizar outras edições do projeto. O propósito para as próximas edições será levá-lo para outros municípios. Para 2025, a previsão é que o projeto seja realizado em maio, o diferencial será a expansão para os municípios do Alto Acre, como Epitaciolândia, Brasiléia, Capixaba, Xapuri e Assis Brasil.

*Estagiário sob supervisão de Gisele Almeida*