O rio Acre, fundamental para cerca de 60% da população do estado e responsável por 70% do PIB estadual, perdeu 40% da mata ciliar nos últimos 55 anos. A devastação, iniciada na década de 1970 com a expansão da agropecuária extensiva e agravada pela pavimentação da BR-317, ameaça levar o rio a um colapso ambiental até 2032, especialmente na região de Rio Branco, onde é a única fonte de água potável para 416 mil habitantes.
O estudo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), conduzido pelo pesquisador Evandro Ferreira, revela que a mata ciliar do rio Acre foi reduzida de 11,6 mil hectares para 7,1 mil hectares ao longo da extensão. A destruição dessa vegetação protetora tem provocado o assoreamento do rio, tornando-o mais raso e incapaz de escoar grandes volumes de água, o que intensifica alagações em Rio Branco mesmo com chuvas moderadas nas cabeceiras.
A mata ciliar desempenha um papel essencial na preservação do rio, evitando erosões, filtrando poluentes e regulando o fluxo hídrico. “Com a floresta, a chuva não atinge o solo diretamente, reduzindo a quantidade de sedimentos que chegam ao rio. Sem essa proteção, o assoreamento aumenta, comprometendo a profundidade do leito e agravando enchentes e secas”, explica Ferreira.
O desmatamento ao longo das margens tem sido impulsionado principalmente pela expansão de pastagens permanentes. Diferente dos pequenos agricultores, que realizam rotação de cultivo e permitem a regeneração da vegetação, as áreas de pasto permanecem desmatadas, impedindo a recuperação da floresta.
Diante desse cenário, especialistas apontam o reflorestamento das margens do rio como uma das principais medidas para reduzir o assoreamento e minimizar os impactos das enchentes. Outra possível solução seria a dragagem do leito na zona urbana de Rio Branco, removendo o excesso de areia acumulado. “Uma barragem poderia ser uma alternativa, mas, por estarmos em uma planície, isso exigiria o alagamento de uma área extensa, tornando a opção inviável. O primeiro passo seria iniciar um programa de dragagem para melhorar o escoamento da água”, sugere Ferreira.
O estudo reforça a urgência de ações para restaurar a vegetação ciliar e evitar que o rio Acre entre em colapso, comprometendo a segurança hídrica e ambiental da região.
Com informações do repórter Marilson Maia para a TV Gazeta.