Por Senildo Melo *
Para os críticos mais ferrenhos os campeonatos estaduais já deveriam ter acabado. Eles alegam que a competição deixa o calendário do futebol brasileiro inchado, com muitos jogos e prejudicam os grandes clubes. Escuto isso há anos. Sem, no entanto, surtir qualquer efeito. Afinal, o que seria da rivalidade saudável dos clássicos regionais se não tivéssemos os estaduais?
Domingo de clássico decisivo pode definir como será a semana de um torcedor. Isso porque a gozação e o sarro do vizinho ou do colega de trabalho, no dia seguinte, são inevitáveis. Vamos destacar dois dos principais campeonatos estaduais do país: Paulista e Carioca. Com transmissão ao vivo, pela TV aberta, os dois estados dividem as maiores atenções do público.
Em São Paulo, semana passada, tivemos uma semifinal histórica: Corinthians e Palmeiras empataram em 2 a 2, no tempo normal, no estádio do Timão e na decisão por pênaltis o alviverde levou a melhor: 6 a 5. O Palmeiras não vence uma edição do Paulista desde 2008 e há 15 anos não eliminava o seu maior rival em mata-mata, a última vez havia sido na Taça Libertadores de 2000, quando tinha no gol um tal de “São Marcos”.
E o estadual do Rio de Janeiro. Esse rende um capítulo à parte. Protagonista nos últimos anos com decisões pra lá de polêmicas, o Flamengo vinha reinando absoluto no futebol do Rio. Como esquecer aquela decisão de 2014, contra o arquirrival, Vasco da Gama, quando o meio campista rubro-negro, Márcio Araújo, fez o gol do título aos 45 minutos do segundo tempo com quase um metro impedido. Isso sem falar na partida envolvendo as duas equipes na fase de classificação do mesmo certame. Quando o meia Douglas, do Vasco, bateu a falta e a bola entrou 33 centímetros, no gol de Felipe, mas somente o juiz de linha não viu.
Os lances repetidos várias vezes pela grande mídia, revoltou os vascaínos que alegaram um complô dentro da Federação de Futebol do Rio de Janeiro para beneficiar o Flamengo. Pois bem, nada como um ano após o outro. Ou melhor: um campeonato após o outro. Carioca de 2015. Semifinal entre Vasco e Flamengo. Primeiro jogo, um 0 a 0 cheio de lances violentos. No pior deles, Jonas, do rubro-negro, dá um golpe de UFC no atacante Gilberto do Vasco e recebe apenas cartão amarelo.
No segundo jogo, semana passada, o Vasco voltou a jogar melhor e num lance polêmico o árbitro Rodrigo Nunes de Sá (o mesmo que havia marcado um pênalti semelhante para o Flamengo na decisão contra o Botafogo em 2008) marcou pênalti de Walace em Serginho. Gilberto bateu e decretou o triunfo vascaíno depois de 11 jogos sem conseguir vencer o arquirrival. Após a eliminação, inconformados, o que se viu foi um verdadeiro chororô por parte dos flamenguistas alegando que foram “prejudicados pela arbitragem”.
E olha que eu achava que a torcida do chororô era a do Botafogo. O pior é que Flamengo e Fluminense falam até em romper com a Ferj. Tudo jogo de cena. O Vasco disse que faria o mesmo em 2014 quando claramente foi prejudicado pela arbitragem.
É como o sujeito que arrumou uma bela namorada e depois descobre que a garota está saindo com outro. Então passa a difamar e denegrir a imagem da moça porque a perdeu. Ninguém quer perde um clássico, mas a derrota às vezes pode ensinar e ajudar a corrigir erros. Quanto ao fim dos estaduais: duvido muito que dois ou três dirigentes consigam acabar com essa apaixonante e centenária disputa.
• Cronista Esportivo