Extrativistas do Seringal São Sebastião, localizado na zona rural de Sena Madureira, denunciam abuso de autoridade por parte da polícia durante uma ação de busca e apreensão realizada no dia 26 de fevereiro. As cinco famílias que vivem na região relatam que foram alvo da operação, que resultou na apreensão de celulares e espingardas utilizadas na caça para subsistência.
Os trabalhadores viajaram por seis horas em um ramal até chegarem à Transacreana e, de lá, seguiram para Rio Branco, onde formalizaram a denúncia contra o delegado de Sena Madureira, Thiago Braga, na Corregedoria de Polícia e no Ministério Público. Segundo os moradores, a ação policial teria sido motivada por disputas fundiárias envolvendo áreas vizinhas.
O extrativista Raimundo Peixoto relata que teve a casa revistada minuciosamente e que foi acusado injustamente de envolvimento com comércio ilegal de castanha. “Entraram na minha casa, reviraram tudo: quintal, chiqueiro. Queriam arma, queriam nota de castanha, diziam que eu estava comprando castanha roubada. Isso aí não acontece. O comprador de castanha jamais vai perguntar a alguém, quando ele chega com a castanha, se ela é roubada”, afirma Peixoto.
A presidente da Associação dos Moradores da Colocação Santo Antônio, Marinês da Silva, destaca que os extrativistas estão sendo prejudicados por uma disputa envolvendo o Seringal São Sebastião e uma propriedade vizinha, pertencente à família do prefeito de Sena Madureira, Gerlen Diniz. Ela explica que a área da família Diniz foi alvo de invasões, o que levou à ação judicial de reintegração de posse. No entanto, segundo os extrativistas, a decisão tem impactado injustamente os moradores do São Sebastião, que não têm relação com os invasores.
Marinês, que mora há 39 anos na localidade e possui documentação que comprova a posse da terra, afirmou ter sido humilhada pelo delegado durante a operação. “Nossa área não pertence à invasão. Tenho o projeto de usucapião há dois anos na Defensoria, já foi expedido para o fórum e a audiência está marcada para o dia 2 de abril. Moro lá há 39 anos e, mesmo assim, fui tratada como bandida. Levaram a polícia na nossa casa para coagir nossa família e humilhar nossos filhos. Eles tiraram senha de celular à força, gritaram com meu filho”, denuncia.
O Sindicato dos Extrativistas de Sena Madureira, representado pelo presidente Josa Ferreira, acompanha a situação e promete acionar o Ministério Público para garantir que a reintegração de posse não afete os moradores do Seringal São Sebastião. “Vamos procurar as autoridades competentes para tomar providências. Essas pessoas não são invasores, são trabalhadores que vivem do extrativismo há décadas. Precisamos garantir que a lei não seja usada para expulsar famílias que têm direito à terra”, afirma Ferreira.
Os extrativistas afirmam que a região enfrenta uma intensa disputa pela castanha. Segundo eles, a produção da família Diniz estaria em declínio, o que teria levado os proprietários a buscar novas áreas, contando, supostamente, com apoio de setores da polícia, do Ministério Público e do Judiciário. A expectativa das famílias é que as autoridades tomem medidas para impedir que sejam removidas das terras de forma arbitrária.
Matéria em vídeo produzida pelo repórter Adailson Oliveira, para TV Gazeta.