O Ministério Público do Acre, por meio do painel de Mortes Violentas (MVI), revelou que nos últimos 10 anos foram registradas 3,21 mil mortes violentas em todo o estado. Dos registros, 42,20% das ocorrências estão relacionadas a conflitos entre facções criminosas ou à venda de drogas, demonstrando o forte impacto do crime organizado na região.
A faixa etária mais atingida é a dos 20 aos 34 anos, e os dados indicam que 90% das vítimas são homens. Apesar de 42% das mortes estarem associadas diretamente a crimes envolvendo organizações criminosas, muitos dos homicídios registrados têm origens multifatoriais. Segundo o procurador do Ministério Público do Acre, Rodrigo Curti, fatores sociais e econômicos, como a falta de políticas públicas e de oportunidades para jovens, especialmente nas periferias, também contribuem para que muitos acabem se envolvendo com o crime.
“O fato é que houve uma migração nos últimos 10 anos, da forma como o crime se comportava, principalmente os homicídios. Obviamente, não podemos atribuir esse aumento apenas à presença dos grupos criminosos, pois outros fatores de cunho social, econômico e até a flexibilização da legislação penal contribuem para esses índices”, disse Rodrigo Curti, procurador do MPAC
Além disso, o painel destaca que, no início do período analisado, muitas mortes violentas eram motivadas por razões consideradas fúteis, como brigas decorrentes de consumo de bebidas alcoólicas e ciúmes, onde, geralmente, vítima e agressor se conheciam. Com o tempo, contudo, os números apontam uma tendência de aumento das mortes associadas a crimes de maior potencial destrutivo, influenciados também pelas facilidades na progressão e flexibilização das penas.
Análise temporal e regional
Os dados mostram variações significativas ao longo dos anos. O ano de 2017 foi o mais violento, com o registro de 531 mortes, enquanto 2024 foi o menos violento, com 178 registros. Em 2025, o painel já contabiliza 23 mortes até o momento. Ao considerar um período mais amplo, de 2016 a 2024, foram contabilizadas 4.833 mortes violentas intencionais. Essa categoria abrange homicídios, feminicídios, latrocínios, mortes decorrentes de intervenções policiais e lesões corporais que levaram à morte.
A distribuição geográfica dos homicídios também revela grandes disparidades:
• Rio Branco concentra a maior parte dos registros, com 57,20% dos casos (equivalente a 1.728 mortes).
• Cruzeiro do Sul é responsável por 7,81% dos registros, ou seja, 236 mortes.
• Tarauacá figura como o terceiro município mais violento, com 4,50% dos casos (136 mortes).
• Em contrapartida, municípios como Santa Rosa do Purus tiveram apenas seis registros de mortes violentas entre 2015 e abril de 2025.
Rodrigo Curti ressalta a importância de uma punição efetiva para conter a criminalidade. Segundo ele, a certeza de ser responsabilizado é um dos principais mecanismos de prevenção geral, mas a flexibilização das leis e as alternativas penais, como o regime semiaberto e a progressão de pena, acabam incentivando a prática de ilícitos.
“Eu tenho por mim que o que combate a criminalidade é a certeza da punição. A flexibilização da lei e as facilidades para progressão de pena acabam, no meu ponto de vista, incentivando a prática de ilícitos. Nós, do Ministério Público, lutamos todos os dias para que os criminosos permaneçam o tempo necessário, conforme determina a lei, cumprindo pena em regime fechado, se for o caso.”
Curti também destaca que a criminalidade tende a se concentrar nas zonas de tensão, especialmente em bairros periféricos onde o Estado é ausente e as políticas públicas são insuficientes. Nessas áreas, o crime organizado muitas vezes substitui a atuação estatal, agravando a situação de vulnerabilidade da população.
Políticas públicas e segurança
Os números e as análises do painel MVI do Ministério Público do Acre evidenciam a complexidade do fenômeno da violência. O desafio para as autoridades não é apenas o enfrentamento dos grupos criminosos, mas também a implementação de políticas públicas que promovam inclusão social e oportunidades para os jovens, reduzindo assim as condições que os levam a se envolver com o crime.
Enquanto o debate sobre a flexibilização penal continua, os dados apontam que o combate efetivo à criminalidade passa por uma abordagem integrada, envolvendo não apenas o sistema de segurança pública, mas também a reestruturação de políticas sociais e econômicas que ofereçam alternativas para as populações mais vulneráveis.
A análise dos últimos 10 anos no Acre revela, assim, um cenário que demanda ações urgentes e coordenadas, tanto para responsabilizar os envolvidos no crime organizado quanto para oferecer oportunidades que desestimulem a violência e promovam uma cultura de paz.
Com informações da repórter Rose lima para TV Gazeta