Apoiando-se na Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira na Educação Básica, este texto busca apresentar uma excelente opção para se trabalhar essa temática em sala de aula de maneira lúdica e divertida: o livro Agbalá: um lugar-continente.
A obra é de autoria da escritora e ilustradora Marilda Castanha. Em 2002, recebeu o prêmio de Melhor Livro Informativo pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), quando foi publicado pela Editora Formato (2001).
Este livro possui 47 páginas com ilustrações que vão além da simples retratação de uma cena, apresentando narrativas paralelas dos costumes e crenças africanas. As cores, formas e simbologias das ilustrações tiveram como referências o artista baiano Rubem Valentim, que tem como marca a união do religioso e do moderno; Mestre Didi e Niobe Xandó, nos tecidos e esculturas africanos.
Agbalá tem origem iorubá (Àgbàlá) e significa “o que contém”, “o que recebe”, um “lugar continente”. Um continente infinito dentro de todos os homens e mulheres que vieram forçados para o Brasil durante o período da escravidão e que guardaram dentro de si crenças, costumes, vivências e experiências do continente africano, que foi se construindo e reconstruindo dentro de nós.
Por ser um livro informativo voltado para o público infantojuvenil, em suas partes iniciais – “De costa a costa” e “De palavras a marcas” – apresenta aspectos históricos envolvendo África e Brasil durante o período colonial brasileiro. Na segunda parte – “Da senzala ao campo”, “Da casa à rua”, “Da escravidão à resistência”, “De orixá a orixá”, “Dos ancestrais a rituais”, “De santo a santo”, “De raízes a árvore” – a autora busca tratar de questões culturais afro-brasileiras. E na terceira parte, denominada “De olho na história”, é possível encontrar leis e personalidades negras importantes para a História do Brasil. Além disso, a obra disponibiliza um glossário para que o leitor possa compreender algumas palavras e seus significados.
O livro pode ser utilizado em sala de aula e em outros espaços educacionais como base para a introdução da temática étnico-racial, pois os textos são curtos, mas muito ricos em informações sobre nossa cultura e como ela está presente em nossa sociedade, na fala, nos fazeres, nos saberes e em todo o nosso dia a dia. Nesse sentido, basta que o professor oriente esse contato com essa literatura, adaptando-a aos anos e séries das crianças.
Apresentar a obra Agbalá: um lugar-continente como potência e ferramenta de enaltecimento da identidade cultural brasileira e sugerir formas de uso foi o modo que encontramos para contribuir com a promoção da igualdade racial nas escolas e espaços educativos, valorizando a cultura africana e afro-brasileira. Que essas e outras literaturas de temática étnico-racial possam estar cada dia mais presentes nos espaços de produção de conhecimento.
__
[1] BRASIL. Lei 10.639/2003. Brasília: Senado Federal, 2003.
Jardel Silva França – Mestre em Letras: Linguagem e Identidade, pela Universidade Federal do Acre (PPGLI/Ufac). Licenciado em História (Ufac). Professor de História da Educação Básica do Estado do Acre. Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre (Neabi/Ufac).