Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam uma realidade inquietante para o Acre: entre os anos de 2010 e 2022, cerca de 34 mil moradores deixaram o estado rumo a outras regiões do país. No mesmo período, pouco mais de 10 mil pessoas migraram para o território acreano. O saldo migratório negativo coloca o estado entre os que mais perderam população proporcionalmente no Brasil.
Em contraste, estados como Santa Catarina registraram saldo migratório positivo expressivo. O estado do Sul do país lidera o ranking nacional, tendo recebido mais de 350 mil novos moradores nesse mesmo intervalo de cinco anos.
A migração de acreanos para outras regiões do país tem motivações diversas, com destaque para fatores econômicos e de qualidade de vida. O acadêmico de economia da Universidade Federal do Acre (Ufac), Marcos Vinícius, destaca que a busca por melhores condições de trabalho é uma das principais razões para essa movimentação.
“A gente tem Santa Catarina, por exemplo, com taxas de desocupação menores, ou seja, é mais fácil conseguir emprego. E além disso, os rendimentos são maiores. Então, é uma lógica econômica: sair de um lugar com menos oportunidades para outro com mais oferta e melhores salários”, explica o economista.
Fora do aspecto financeiro, Vinícius observa que muitos também migram em busca de uma rotina com mais opções de lazer, acesso a serviços e sensação de segurança.
“Existe a busca por uma qualidade de vida que o Acre, infelizmente, ainda não consegue oferecer da mesma forma que outros centros mais desenvolvidos”, analisa.
Histórias por trás dos números
A trajetória do jovem Eduardo Vitor, de 24 anos, é um exemplo dessa realidade. Ele deixou o Acre há dois anos e hoje vive com a família em Santa Catarina.
“Um dos principais motivos foi a segurança. Aqui é um dos estados mais seguros do Brasil. E também tem a questão das oportunidades: meu pai ficou três dias parado e já conseguiu emprego. Hoje, todos lá de casa trabalham”, relata.
A decisão da acreana Gigliane Dantas também foi movida por razões semelhantes. Mãe de uma criança neurodivergente, ela se mudou com a família para Santa Catarina em busca de melhores serviços de saúde e educação.
“Aqui a gente conseguiu um melhor acesso à saúde, à educação, à segurança. A gente se sente mais seguro ao sair de casa. Foi difícil deixar a nossa terra, mas fizemos o que era melhor para a nossa família”, conta.
Entre chegadas e partidas
Embora o Acre enfrente um êxodo populacional, ainda há pessoas que escolhem o estado como novo lar. Segundo Marcos Vinícius, há uma lógica econômica inversa também em curso.
“O Acre é um estado em desenvolvimento. Então, um empresário de porte médio que vem para cá pode encontrar menos concorrência. É uma estratégia para quem quer expandir negócios ou elevar seu padrão de vida investindo em um mercado ainda em formação”, observa.
Cada número da estatística divulgada pelo IBGE representa uma história, uma despedida, uma esperança de recomeço. O Acre continua sendo o lar de quem resiste, mas também o ponto de partida de muitos que buscam um futuro melhor em outras partes do país.
Matéria em vídeo produzida pelo repórter Marilson Maia, para TV Gazeta.