Trabalho do Ministério Público do Acre no combate a Covid-19
Deixamos de lado os abraços, beijos e apertos de mãos. Optamos por utilizar os pés, cotovelos e olhar nos olhos – com uma distância bem maior. Essa foi a realidade de muitas pessoas ao redor do mundo, devido a pandemia do novo coronavírus. Os que antes pareceriam inofensivos, sinônimo de afeto e que costumávamos utilizar desde a mais tenra idade, precisaram ser deixados de lado. Tudo isso para nos proteger e proteger o outro.
O vírus da Covid-19 é altamente contagioso e qualquer mínimo contato físico, pode resultar em uma possível contaminação. A distância mínima adequada, recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é de 2 metros de distância entre uma pessoa e outra.
É complicado pensar em como receber uma “mão estendida” em momentos como esse. Você já deve ter passado por isso em algum momento da sua vida, principalmente na infância. Enquanto brincava, corria, acabou caindo no chão e precisando de uma “mão amiga”, ou melhor, “mão estendida” que sempre foi salutar na hora do levantar. Mas como alguém poderia estender a mão para nós, em meio a uma pandemia?
A servidora pública Maciely Moura conhece bem esse termo. Ela foi contaminada em maio deste ano e passou por momentos difíceis, chegando a ficar mais de um mês internada. “Eu comecei sentindo dores de cabeça bem fortes e mal-estar. No dia seguinte, tive febre e muita dor de garganta. No terceiro, perdi o olfato e o paladar. No decimo dia meu quadro respiratório deu uma piorada, fui ao médico e ele disse que é onde geralmente os quadros de Covid-19 se agravam. Nesse mesmo dia eu fiquei internada e ele dobrou a medicação e acrescentou outras para que eu tivesse uma melhora. Fiz tomografia e apresentou um quadro de pneumonia, então tratei Covid-19 e pneumonia. Ao todo fiquei 40 dias até me recuperar 100%”, disse.
Maciely relata que adquiriu alguns problemas após ter sido contaminada pelo novo coronavírus, “as minhas taxas de triglicerídeos ficaram alteradas, com isso tive pancreatite e estou fazendo acompanhamento para baixar. Em conversa com o médico, ele explicou que os pacientes que estiveram em estado grave da Covid-19 ficaram com essa “sequela”, além de ficar mais vulnerável a infecções”, relatou.
Ela chegou a pensar que não sobreviveria, mas conseguiu ter a mão estendida que necessitava. “Eu tive toda a ajuda que precisei, agradeço muito aos médicos que me acompanharam e fizeram de tudo para que eu voltasse para minha família, pois cheguei a pensar que não sobreviveria. Continuo fazendo acompanhamento médico pelo SUS devido ao meu quadro de processo inflamatório”, desabafou.
Ainda sobre o vírus, Maciely passa uma mensagem de esperança para as pessoas “tive tempo de sobra para repensar minha vida. Revi conceitos, questionei prioridades. Mantenha a serenidade. Ouça músicas, veja séries e leia livros. Evite o bombardeamento de notícias da doença. Agarre-se á positividade e busque relatos positivos de quem já se curou. Creio que estamos cada vez mais perto de uma solução para conter esse vírus e logo vamos poder voltar ao “normal””, finalizou.
Ministério Público do Acre em ação
Neste cenário caótico, de medo e incertezas, pudemos contar com a força de muitas mãos. Dentre as várias medidas tomadas pelo Governo do Acre, para ajudar a conter e combater a pandemia, o Ministério Público do Acre (MPAC) teve um papel importante tanto no que diz respeito ao combate ao vírus, como na ajuda às pessoas que passam pela pandemia e precisam do órgão.
A servidora Maciely pode contar com a ajuda do hospital em que ficou internada, para conseguir se curar da Covid-19. Ela recebeu toda a estrutura e auxílio que necessitava naquele momento. Parece ser uma coisa “óbvia”, alguém estar com um problema de saúde, procurar ajuda em um hospital e conseguir. Entretanto, essa não é uma realidade experimentada por toda a população. Em meio a um colapso na saúde, com um vírus desconhecido, várias instituições não estavam preparadas para receber os pacientes.
De acordo com o promotor de justiça do MPAC, Daisson Teles, o Ministério Público do Acre fiscalizou as unidades de saúde, para verificar a situação. “Nós estivemos nas unidades de saúde, fiscalizando a atuação, verificando o quantitativo de profissional, o fornecimento de medicamentos, os EPI’s para os profissionais, a qualidade do atendimento, as condições de salubridade e de higiene para as pessoas. Começamos pela UPA do Segundo Distrito e também pelo Hospital Geral, depois fomos nas outras unidades, acompanhamos a instalação do Into, inclusive desde a época em que eles começaram a formar a unidade de saúde, a reformar a unidade de saúde, até mesmo durante a inauguração a gente ficou acompanhando, juntamente com o CRM. Então nessas visitas as unidades de saúde, a gente ia com o CRM e o COREM/AC que é o Conselho de Classe de Enfermagem e Conselho de Classe do Médico, verificando aquelas possíveis irregularidades. Dávamos um prazo para o administrador e depois retornávamos para ver se aquelas irregularidades estavam sanadas já”, relatou.
(Promotor de Justiça Daisson Teles e equipe fiscalizando Unidade de Saúde)
Ainda sobre as atuações nas unidades de saúde, o promotor de justiça comenta que o MPAC fez uma recomendação pelo Grupo de Atuação Especial de Corrupção, endereçado ao governo do Estado, pedindo toda a transparência possível na efetuação de compras de insumos relacionados à Covid-19, procedessem com toda a transparência possível, para verificar e adotar todas as medidas necessárias para que as compras fossem feitas com a maior transparência, para proteger, de certa forma, o erário público. “Por que como, na época da Covid-19 as compras foram realizadas, nas grandes maiorias, com dispensa de licitação, então a uma probabilidade muito grande que sejam feitas de forma incorreta. Nessa recomendação que nós fizemos, indicamos para o governo do Estado quais são as medidas que deveriam ser tomadas para fortalecer a transparência e dar uma maior publicidade para essas compras, visando a proteção do patrimônio público, sobre pena de, desobedecendo essas recomendações, ser adotadas as medidas judiciais administrativas sobretudo no que se refere a improbidade administrativa”, disse.
Além das fiscalizações e recomendações, Daisson relembra que o MPAC participa do comitê do Pacto Acre sem Covid, participando de todas as decisões tomadas para o estado. “Outro aspecto foi a participação do Ministério Público no comitê do Pacto Acre sem Covid. O comitê se reúne semanalmente e todas as decisões que impactam em todo o estado vem desse comitê, então no comitê participa diversas instituições e entre elas o Ministério Público”, concluiu.
Vírus x Meios de Comunicação
O jornalismo deve cumprir o papel de informar a população de forma correta, no qual o interesse público prevaleça. Com a pandemia da Covid-19, as pessoas enfrentam não só o vírus SARS-CoV-2, como também um antigo conhecido, o “vírus” da Fake News. Diversas notícias falsas começaram a surgir nas redes sociais, aplicativos e até mesmo sites de notícias, onde eram repassados dados errados sobre a doença e até mesmo orientações sobre “curas milagrosas”, que poderiam colocar vidas em risco.
O MPAC emitiu um alerta para essas notícias falsas que estavam circulando na internet, sobre a pandemia do novo coronavírus. Pensando na população, o órgão orientou para que as pessoas busquem informações em canais oficias e veículos de informação confiáveis. A instituição teve então a iniciativa de disponibilizar uma página específica (www.mpac.mp.br/coronavirus) no próprio portal do MPAC, para auxiliar a população com links seguros e informações sobre o vírus.
Além disso, Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), por meio do Departamento de Vigilância em Saúde (DVS) começou a emitir boletins diários sobre os novos casos de contaminação pelo novo coronavírus no estado. Com transparência e eficiência, no boletim consta os novos casos, os descartados, em análise, as altas médicas e os óbitos.
Especialista
De acordo com o médico Guilherme Pulici, a transmissão se dá por meio de gotículas de saliva contendo o vírus. “O vírus pode entrar, através dessas gotículas, pela mucosa dos olhos, nariz e boca. Quando uma pessoa fala, tosse ou espirra, ela transmite essas gotículas contendo o vírus e contaminando a pessoa que está próxima dela”, disse.
Quanto as formas de evitar a contaminação pelo vírus, Pulici faz algumas orientações a serem seguidas. “Melhor forma de evitar é aquela que estamos fazendo agora: utilização de máscaras constantemente, principalmente em locais públicos e fechados, higienização constante das mãos, seja com água e sabão ou álcool 70%, distanciamento mantendo uma distância mínima de 2 metros entre as pessoas nos lugares públicos e fechados, evitar aglomerações e lugares maus ventilados. Outras medidas importantes são bom estado nutricional, controle das doenças crônicas, atenção especial para os grupos de risco”, orientou.
Guilherme Pulice é médico pediatra e alergista
De acordo com Pulici, o uso das máscaras de proteção ajudou a diminuir a disseminação do vírus, “a utilização de máscaras evita sim a transmissão do vírus em locais fechados e aglomerações. Estudos constam até que a utilização de máscaras é responsável pela diminuição da carga viral e, consequentemente, as pessoas que contraem a doença utilizando máscara, apresentam uma forma mais branda da doença. Em muitos casos, até mais assintomático com a utilização de máscaras”, comentou.
O médico ainda destaca as medidas de prevenção utilizadas para combater a Covid-19 e assume que o número de mortes poderia ter sido ainda maior. “O distanciamento e a utilização de máscaras foram extremamente eficazes. Nós vimos aqui no nosso estado, particularmente, que a mortalidade entre os profissionais de saúde ficou em torno de 0,4%, isso é um dado muito bom. Perdemos pessoas queridas, pessoas próximas a nós, mas a expectativa era pior. Os dados que recebíamos de outros países eram trágicos. Nós tivemos a oportunidade de logo no começo da pandemia, já ter essa notícia de que a máscara funcionaria. No começo da pandemia a gente não usava máscara ainda, mas logo depois, algumas semanas depois, a utilização já estava sendo amplamente divulgada, disseminada e adotada pela população de uma maneira geral. Creio que se não tivéssemos utilizado as máscaras, talvez o número de mortes pudesse ser 5, 6 vezes maior do que estamos vendo hoje”, finalizou.
Unidades de saúde referência em casos da Covid-19
O estado do Acre utilizou algumas instituições como ponto de referência nos casos do novo coronavírus. As pessoas que apresentam os sintomas da Covid-19 devem procurar os seguintes estabelecimentos: em Rio Branco, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia do Acre (Into-AC) e a UPA do Segundo Distrito. No Baixo Acre e Purus, as unidades de referência são os Hospital Manoel Marinho Monte, Hospital João Câncio Fernandes, Hospital da Família de Santa Rosa do Purus e o Hospital da Família do Jordão. Já na Região do Alto Acre, as pessoas devem procurar atendimento no Hospital Raimundo Chaar e no Hospital Epaminondas Jácome. Na Região do Juruá – Tarauacá e Envira, os Hospital Regional do Juruá, Hospital Doutor Abel Pinheiro Maciel Filho, Hospital Doutor Sansão Gomes, Hospital Geral de Feijó, Hospital de Dermatologia Sanitária e Hospital da Família de Marechal Thaumaturgo são as referências.