COMEMORAR O QUÊ?
O presidente Jair Bolsonaro, através de seu porta-voz, Otávio do Rêgo Barros, determinou que o Ministério da Defesa realize as “comemorações devidas” em referência ao dia 31 de março de 1964, quando começou a ditadura militar no Brasil. Barros também afirmou que o presidente não considera que houve um golpe militar. Alias e a propósito, me vestirei todo de preto contrariando esse fatídico dia 31 (nesse domingo), discordando plenamente desse presidente que além de desumano, tenta esconder (minimizar) as torturas e mortes que aconteceram na época. Peço licença aos meus leitores e farei uma coluna diferente nesse sábado, publicando nesse espaço algumas das inúmeras atrocidades sofridas, nesse triste dia…
ZUZU ANGEL E SEU FILHO STUART ANGEL (vítimas da ditadura). Uma das estilistas mais importantes do Brasil, Zuzu Angel virou referência não só na moda. Seu filho, Stuart Angel, era militante do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) e foi sequestrado por agentes da repressão em 1971. Seu corpo nunca foi encontrado. Zuzu passou a vida lutando para que pudesse encontrar Stuart. Em 14 de abril de 1976, Zuzu morreu após seu carro ter sido encurralado e capotado à saída do Túnel Dois Irmãos, no Rio de Janeiro. Logo levantou-se a hipótese de ter sido uma emboscada para matá-la. Um ano antes, a estilista tinha deixado uma carta a Chico Buarque e outros amigos, dizendo: “Se algo vier a acontecer comigo, se eu aparecer morta, por acidente, assalto ou qualquer outro meio, terá sido obra dos mesmos assassinos do meu amado filho”. O relatório da CNV, em 2014, chegou à conclusão de que a morte de Zuzu Angel não foi um acidente, e que houve envolvimento dos militares. O túnel onde ela morreu foi renomeado para Túnel, Zuzu Angel
MÍRIAM LEITÃO (vítima da ditadura). A jornalista Míriam Leitão foi presa em dezembro de 1972. Ex-militante do PCdoB, ela revelou, em 2014, as torturas que sofreu no quartel do Exército de Vilha Velha, no Espírito Santo, em depoimento ao “Observatório da Imprensa”. Míriam contou que tinha 19 anos e estava grávida de um mês quando foi capturada. Ela ficou presa em uma cela escura, completamente nua, com uma jiboia à solta; levava tapas, chutes e socos durante os interrogatórios; ficou sem comer por dias e foi ameaçada de estupro por diversas vezes. Os soldados soltavam pastores alemães perto dela e gritavam a palavra “terrorista” para que eles ficassem enraivecidos e ameaçassem atacar a jornalista. Ela foi solta em 1973
(vítimas da ditadura) MARIA AMÉLIA DE ALMEIDA TELES, a Amelinha, foi torturada juntamente com o marido, a irmã e os dois filhos durante a ditadura. O coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra foi seu torturador, e ela era constantemente agredida por ele na frente dos filhos. Entre as torturas, Amelinha relata à CNV que passou pelo pau-de-arara, levou choques no corpo inteiro, apanhou de palmatória e sofreu violência sexual. Seus filhos eram levados para vê-la nua, cheia de sangue e urina. A família Teles ganhou, em primeira instância, uma ação contra o coronel Ustra pelos crimes que sofreram, fazendo com que ele fosse o primeiro a ser reconhecido como torturador, em 2008
ARACELI CABRERA SÁNCHEZ CRESPO (vítima da ditadura). Um dos casos mais escabrosos da ditadura é o de Araceli Crespo, do Espírito Santo. A menina, à época com oito anos de idade, foi sequestrada, drogada, torturada, estuprada, morta e carbonizada. O corpo foi encontrado em uma mata em Vitória, capital do Estado, completamente desfigurado e já em estado de decomposição.Os principais suspeitos, Dante de Barros Michelini, o Dantinho; seu pai, Dante de Brito Michelini; e Paulo Helal; pertenciam a famílias influentes do Espírito Santo junto ao regime militar. Dantinho e Helal foram condenados a 18 anos de prisão e o pagamento de uma multa de 18 mil cruzeiros, em 1980. Entretanto, 11 anos depois, eles foram absolvidos por “falta de provas” pelo juíz Paulo Copolilo. Em homenagem a Araceli, é comemorado em 18 de maio (data da morte da menina) o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.