Após diversas tentativas, André Ramon ingressa no curso no dia do seu aniversário
André Ramon, filho de Vilenilde Arruda Maciel, mas chamada por todos de Nilda, veio da zona rural concluiu o ensino fundamental pelo Projeto Poronga, após reprovar algumas vezes, mas sem nunca desistir. Estudou o ensino médio no Colégio Jornalista Armando Nogueira (Cejan) e aos 18 anos decidiu que queria cursar medicina.
Muitos poderiam ter virado as costas. Medicina para um garoto de escola pública que veio da zona rural? Nunca passaria de um sonho! No entanto, no lugar de costas, Ramon recebeu mãos estendidas para ajuda-lo. Pablo Marques, vizinho e amigo de Ramon o ajudou acreditando em seu sonho e financiando os cursinhos preparatórios para o vestibular.
Foi em 2014 que Ramon teve o primeiro contato com os cursinhos preparatórios, “comecei a conhecer como é o processo para entrar em medicina e entender o curso de medicina e meus olhos brilharam, desde então minha vontade de cursar aumentou”, explicou.
A tão sonhada aprovação para medicina não veio na primeira tentativa, no entanto, Ramon passou para o curso de Engenharia Florestal na Universidade Federal do Acre (Ufac). E em 2015 veio uma das greves da instituição que durou cerca de seis meses, período em que o então aluno de engenharia florestal decidiu voltar a estudar para alcançar o sonho, o curso de medicina.
O vizinho e amigo Paulo Marques apoiou a decisão de Ramon e voltou a financiar os cursinhos preparatórios. “Acredito que existam muitos Ramons pela vida, precisando apenas de uma oportunidade, às vezes o que não temos é essa oportunidade, e ele acreditou, batalhou, estudou bastante, teve altos e baixos e só plantou. Eu sempre disse calma, uma hora você vai colher”, contou Pablo Marques.

No entanto, em 2016 o estudante não conseguia acompanhar o ritmo dos estudos dos cursos e teve que sair, mas a força de vontade não o fez parar. Mesmo sem internet em casa, o vizinho Marques cedeu o serviço de dados para que Ramon continuasse a estudar online. “Nesse momento a minha vontade de cursar medicina cresceu mais ainda”.
André Ramon havia batido na trave mais uma vez e não passou em medicina e em 2017 enfrentou problemas familiares com o divórcio da mãe com o padrasto. Nesse momento, Nilda, teve que segurar as pontas da casa sozinha. “Enfrentamos problemas econômicos, tenho seis irmãos, e ela teve que assumir tudo praticamente sozinha”, relembrou.
A família conseguiu se adaptar com a nova situação em 2018. Ramon começou a realizar pequenos “bicos”, como limpezas de piscina e roçagem de quintais. “Ainda faço esses serviços, minha mãe me deu muita ajuda me deixando estudar e segurando as pontas”, mesmo com as dificuldades enfrentadas. O sonho e os estudos continuavam, no entanto, a trave estava lá mais uma vez e a nota não foi o suficiente para ingressar no curso.
Em 2019, André Ramon se preparava mais uma vez, agora, conseguiu uma bolsa integral em um curso preparatório “agradeço muito aos professores do curso que me ajudaram bastante”. E nesse ano o estudante chegou tão próximo na lista de espera, por uma chamada a mais ele teria entrado, mas ainda não aconteceu.
E então em 2020 chegou à pandemia do coronavírus e os cursinhos preparatórios tiveram que fechar as portas, o sonho de Ramon se afastava mais uma vez, mas apesar das portas fechadas, as mãos continuaram estendidas, vizinhos se reuniram e disponibilizaram um espaço tranquilo para que Ramon pudesse estudar e a boa nota veio, no entanto, por um ponto, um único pontinho o sonho de André Ramon foi barrado no primeiro semestre de 2020 na Ufac.
Com a segunda chamada no segundo semestre de 2020 da Ufac, não teve trave, não teve goleiro e pode pedir o VAR porque o tão sonhado gol veio e no dia do seu aniversário de 26 anos. André Ramon, filho da dona Nilda que veio da zona rural, agora é estudante de medicina da Universidade Federal do Acre.
André esperou o resultado junto com os amigos, como quem espera o gol da vitória aos 45 do segundo tempo, e a comemoração veio, ligou por chamada de vídeo para Pablo Marques que lhe estendeu a mão no início, raspou a cabeça como manda a tradição e correu para o trabalho da mãe, para lhe contar a notícia.
Dona Nilda é auxiliar de serviços gerais em uma academia em Rio Branco e foi surpreendida pelos amigos do filho que a chamaram para fora do estabelecimento por um momento. Vestindo o uniforme da limpeza, com luvas de proteção ela viu os cabelos raspados do filho e o sorriso foi visível mesmo por baixo da máscara de proteção. A emoção ficou estampada em seus olhos e o abraço foi apertado quando ouviu da boca do filho “mãe eu queria lhe avisar que eu passei em medicina na Universidade Federal do Acre” declarou Ramon enquanto os amigos filmavam.
Com lágrimas nos olhos, incapaz de conter a emoção, dona Nilda abraçou apertado o filho “parabéns meu filho, feliz aniversário e esse foi o melhor presente que você poderia dar para a mamãe”, disse por fim a mãe.

Fotos: arquivo pessoal.