“A maioria das mulheres leva cerca de sete tentativas para sair do ciclo da violência doméstica”, essa frase dita durante um dos oito episódios da série “Maid” da Netflix me trouxe uma lembrança nítida das tentativas que eu fiz para me livrar de um relacionamento abusivo, foram exatamente sete tentativas, o estranho é que eu nunca tinha contado antes disso.
Maid conta a história de Alex, uma mulher que é vítima de violência doméstica e tenta fugir daquela situação junto da sua filha, Maddy. Alex é uma mãe sem estudos ou experiências em trabalho, sem uma rede de apoio e completamente dependente do seu marido e agressor. Em sua fuga, ela acaba em uma casa de apoio para vítimas de violência doméstica onde é acolhida e entende que o que sofreu foi violência psicológica e patrimonial.
Como Maid fugiu de seu agressor com a filha que ambos geraram, ele resolve abrir uma ação judicial exigindo a guarda de Maddy, nesse momento, Alex encara a realidade de precisar provar às autoridades que sofria violência doméstica e que possui condições de cuidar de sua filha.
“Como vou provar que ele me agrediu se eu não possuo nenhuma marca em meu corpo?”, esse é um dos questionamentos feitos por Alex a assistente social que a orientou a registrar um Boletim de Ocorrência. Maid aborda as nuances da violência psicológica e patrimonial.
Alex decidida a não voltar a seu agressor e a provar que é capaz de cuidar da sua filha começa um trabalho de empregada doméstica e a partir disso inicia uma jornada de tentar se reconectar com quem ela é. Um relacionamento abusivo, um abusador tem o poder de tirar pedaços da nossa personalidade, até que não consigamos mais nos reconhecer e nem saber quem somos. Com a distância do seu abusador, Alex volta a escrever, uma paixão que ela deixou de lado por conta do seu abusador.
Alex resolve contar as histórias dos clientes das casas onde ela é contratada para fazer a limpeza enquanto tenta manter a guarda de Maddy. Lembra do início deste texto? A maioria das mulheres precisa de sete tentativas, Alex não é uma exceção. Em um momento de fragilidade por conta do seu relacionamento complicado com a mãe, Alex retorna a casa de seu abusador e no início as coisas estão indo bem, mas o ciclo de violências recomeça. Neste momento parece que Alex nunca vai conseguir sair do fundo do poço onde ela se encontra metaforicamente.
É quando Regina surge. O interessante de Maid é que a história de Alex não é a única abordada, a história de diversas mulheres que acabam por formar uma rede de apoio a Alex é explorada, pouco, mas o suficiente para fazer com que nos conectemos com elas. Regina foi uma das clientes de Alex, a primeira cliente, o relacionamento delas acabou evoluindo após um acontecimento com Regina e a visita de Regina a casa onde Alex estava sendo mantida presa, sem comunicação com ninguém, fez com que Alex criasse forças para sair novamente daquele ciclo.
Maid explora cada uma das etapas do ciclo de violência psicológica em relacionamentos abusivos, é uma série intensa que pode despertar gatilhos em quem infelizmente já vivenciou essa situação, no entanto, vê Alex lutando diariamente e não desistindo de si mesma ou de sua filha, Maddy é algo recompensador.
Luana Dourado é aluna de Jornalismo na Universidade Federal do Acre