Qual seria o segredo para o sabor conhecido por ser tipicamente do Acre?
Nicoly Moreira para Agazeta.net
Os tijolos coloridos, o tilintar dos carros atravessando a ponte e, claro, as águas barrentas do Rio Acre ao fundo… é impossível não pensar logo de cara no Mercado Velho.
Palco do começo da história acreana, ali chegaram os primeiros produtos para ser revendido no Estado lá no final da década de 1920, a primeira grande construção em alvenaria da cidade, ainda na gestão do Governador Hugo Carneiro.
Mas, muito além daquelas paredes antigas, a história atual é construída em típicas barracas vermelhas na feira de economia solidária. Projeto constituído por cerca 328 famílias atuantes no ramo culinário acreano, são comidas típicas e reinvenções nem tão típicas assim, desde doces de castanha a carne de sol, crepes e até kebabs. Todo fim de semana, de quinta a domingo das 15h às 23h.
Timidamente bem na esquina, entre a carne de sol e as mesas abarrotadas de famílias animadas para se divertir, é ali que se encontra a barraca Arte e Sabor, de Carlos Taborga, responsável pela produção diária de mais de 300 saltenhas de jambu e mais algumas centenas de pastéis doces e salgados, enroladinhos, coxinhas e quibes variados.
“Desde 2013 que estou aqui”, afirma Carlos, enquanto os cantos dos olhos repuxados entregam um sorriso escondido pela mascara. Os oito anos podem parecer uma longa trajetória, mas a verdade é que a saltenha protagoniza suas memórias há ainda mais tempo. Descendente direto de bolivianos, a receita passou de mãe para filho e agora faz parte da vida de mais duas famílias. “Não acreditamos em funcionários, somos três famílias de colaboradores e juntos dividimos as dores, trabalhos, alegrias e gastos”.
Não é atoa que entre “Mais um de carne”, “Três saltenhas”, “Cadê o molho?” a cozinha improvisada toma forma e as risadas dos amigos preenchem o espaço. É ainda no silêncio concentrado preparando o recheio, nas mãos ágeis moldando as massas e fritando tudo que a parceria ganha sentido.
Mais do que as famílias reunidas, as crianças suadas de tanto pular nos brinquedos da feira e os casais tímidos conversando baixinho entre uma mordida e outra, para Carlos as melhores histórias acontecem ali, quando um acreano do interior chega logo pedindo “eu quero aquela saltenha de tacacá!”.
Qual o segredo para o sabor tipicamente acreano? Para o chef é mais uma de suas experimentações culinárias. “A ideia não é minha, mas aprimorei. Foram muitas tentativas até fazer a batata não se dissolver e pegar o gosto do tempero”.
Talvez seja a alegria encontrada entre as ondas crocantes e a massa macia, as brincadeiras dos amigos e as corridas das crianças, o tremor do jambu e o passear do rio ao fundo.
É de fato arte e sabor seguindo juntos.