Cerca de 30 pacientes e acompanhantes ocupam o local
O ano, 1992. De uma visita a um seringal, o policial militar da reserva, Edvaldo Paes, tomou a decisão que mudou drasticamente a vida dele e também da família. Ele acompanhou de perto as dificuldades que pessoas que vivem na floresta quando buscam tratamento em Rio Branco.
Edvaldo decidiu transformar a residência na ‘Casa de Apoio e Saúde do Seringueiro’. Um começo tímido, mas que se espelhou de ‘boca em boca’ e atualmente é uma referência daqueles que vêm à capital.
“Até hoje não consigo entender o motivo que me levou a essa decisão. Confesso, não consigo entender”, conta Paes. No começo, a esposa, Roselha Paes, não aprovou a ideia. A mulher afirma que a principal barreira era a falta de privacidade. Os dois eram casados há pouco tempo.
“Pensava nos meus filhos. Como seria o futuro deles convivendo com tantas pessoas diferentes”, expôs. Essa desconfiança só terminou em 2005. Roselha quase perdeu um dos seios. “Fiz uma promessa com Deus. Se Ele me curasse, eu iria cuidar dessas pessoas de coração”, relata.
A cura veio e junto com o marido, os dois conduzem a Casa. Com capacidade para receber 60 pessoas, cerca de 30 pacientes e acompanhantes ocupam o local. Manoel Araújo é de Tarauacá e é um dos abrigados.
O homem trava uma verdadeira batalha pela vida. Manoel confessa que já sofreu quatro AVC’s, acidente vascular cerebral. “Enquanto estiver vivo, a luta continua”, expôs. Ele é grato a ao casal Paes pela acolhida. “Minha família desistiu de mim. Agradeço muito ao Edvaldo e a Roselha que apareceram na minha vida”, enfatiza.
Com mais de duas décadas de portas abertas para acreanos, amazonenses, bolivianos, peruanos e rondonienses. A Casa já recebeu, aproximadamente, 12 mil pessoas. “Aqui não tem religião, nacionalidade e nem partido político. Somos todos uma família”, comenta Edvaldo.
Apesar do trabalho, a ajuda do poder público é insuficiente para atender a demanda. A maioria das pessoas chega a Rio Branco por meio do TFD(tratamento fora de domicílio) e não tem para onde ir. A única alternativa é a Casa do Seringueiro.
O resultado desse trabalho mais que voluntário, foi reconhecido em maio deste ano. A Casa de Apoio e a Saúde do Seringueiro foi uma das finalistas do Prêmio ODM Brasil. O reconhecimento é feito a entidades de cumprem os objetivos de desenvolvimento do milênio propostos pela Onu, Organização das Nações Unidas.
As despesas para manter os abrigados são altas. Só de arroz, são 120 quilos. Edvaldo confessa que o local se mantém graças a ajuda de igrejas, empresários e pessoas que fazem doações. No momento, a entidade precisa de cortinados. Os interessados em ajudar podem fazer contato pelo telefone: 68 9959-8638.”Enquanto Deus me conceder saúde, sempre vou fazer esse trabalho”, finalizou o homem que, muitas vezes, se coloca em segundo plano para atender o próximo.