Livros foram preparados para ensinar a língua Huni Kui para os mais jovens
O filho do cacique Ninawa, com um mês de vida, teve que passar por um ritual. A avó passa uma pasta de jenipapo, que na tradição Huni Kui, ajuda a equilibrar a imunidade, depois três gotas do suco do fruto do jenipapo são colocadas na boca da criança. Esse cuidado com os bebês é milenar, explica Ninawa, mas esse conhecimento aos poucos começa a se perder. A cultura dos não indígenas invade a comunidade e a própria língua Huni Kui, começa a ser esquecida pelos mais jovens.
O povo Huni Kui tem um projeto que vai ajudar a manter registrada a sua cultura de séculos. Eles querem criar cinco centros de formação em cada município onde habitam mais de 17 mil indígenas da etnia. O projeto tenta manter viva a cultura desse povo presente em Marechal Thaumaturgo, Jordão, Feijó, Tarauacá e Santa Rosa.
Esses livros, a maioria escrita pelo doutor em linguística Joaquim Paulo de Lima Kaxinawa, foram preparados para ensinar a língua Huni Kui para os mais jovens. Joaquim Manã, como é chamado pelo seu povo, disse que na comunidade, os indígenas até falam a língua, mas não sabem escrever e nem ler. A proposta é que eles tenham o conhecimento da linguagem e ao mesmo tempo aprendam os cantos, a história, a arte, as músicas e a medicina do seu povo.
“Para aqueles que estão na comunidade, isso não é nada. Se você falar algo que está no livro, eles vão entender, o que eles não sabem é ler e escrever, e a escola vai estar se apropriando disso. Como nós já temos o material escrito, é isso que a gente quer passar para essa nova geração”, afirma Joaquim.
Os idealizadores do projeto não conseguiram ajuda do Governo do Acre e nem do Ministério da Educação. É necessário recurso para que o curso seja reconhecido. Sem apoio nenhum, o grupo começou sozinho a formação de professores nas comunidades. Algumas ONGs estrangeiras prometem bancar a estrutura necessária, como a impressão dos livros que já estão prontos.
“Nós estamos fazendo essa implementação com parceria externa, através de uma parceria com a Ufac e também com outras instituições da sociedade civil, tanto local quanto internacional”, afirma Ninawa.
Todo o material preparado para a formação da cultura Huni Kui está na linguagem da etnia, com exceção do livro sobre medicina que vem com explicações em português. O resto, como um dicionário, traz palavras que nem podem ser traduzidas para o português, faz parte apenas da literatura desse povo. A proposta é levar esse conhecimento, também, para as famílias que migraram para as cidades, onde os jovens estão perdendo a referência com a sua origem.
“As instituições criadas para cuidar dos considerados indígenas, ainda não se apropriaram disso, sempre estão trazendo conhecimento de fora, e esse conhecimento de fora, tem nos levado a perder vários conhecimentos; quando nossos velhos morrem, o conhecimento deles não é registrado, nós acabamos perdendo a maioria dos conhecimentos com eles”, destaca Ninawa.
A proposta do grupo é começar os centros de formação e no futuro criar a Universidade Huni Kui. Onde o indígena sai profundo conhecedor da sua cultura e pronto também para o mercado fora da comunidade. Como o Joaquim Manã, hoje fazendo um pós-doutorado e sendo um agente que mantém a cultura Huni Kui não só presente, mas registrada.
Com informações de Adailson Oliveira