No local, é encontrado toneladas de lixo que são jogados em seu leito todos os anos
O rio São Francisco é uma manancial que paga um preço alto por cortar uma parte da cidade até desaguar no rio Acre. No local, é encontrado toneladas de lixo que são jogados em seu leito todos os anos. De barco, é possível observar os barrancos tomados por restos de máquinas de lavar, cadeiras de plástico e todo tipo de lixo caseiro e industrial.
Além disso, o odor forte mostra que o igarapé está morrendo, pois não tem peixe e até a vegetação que fica próxima, as sacolas plásticas invadiram. Os objetos que não ficam presos nos barrancos ou no fundo do igarapé é levado para o rio Acre, que ainda recebe resíduos de outros igarapés e também dos esgotos urbanos.
Na parte central de Rio Branco são vários os igarapés, o maior deles é o do Parque da Maternidade que recebe tudo que é descartado nos 7km por onde passa.
O lixo que chega ao rio Acre vai para o fundo ou vai fica preso ao barranco, e nas regiões de curvas as sacolas formam ou tomam completamente a barranceira.
Já na região do bairro Panorama, o lixo vem matando a vegetação, a terra praticamente desapareceu, pois ficaram apenas as sacolas plásticas que se espalham por vários metros, com isso, parece que as pessoas estão em um lixão.
O Valdemir dos Reis, afirma que não consegue mais pegar peixes nessa região, pois quando joga a rede, o que vem são plásticos que estão armazenados no fundo rio.
“Aqui tudo é lixo, a rede de peixes cheia de lixo e toda preta. Além disso, no verão é outra “imundice”, e com isso mais sujeira”, conta o ribeirinho.
Ele também usa o barranco para plantar, mas segundo Reis, está difícil escolher uma área limpa, sem lixo e principalmente sem as sacolas plásticas.
“Nos plantamos com muita imundície… pois, tem muito lixo jogado no rio, como sacolas, saco velho, tudo direto para rio”, concluiu Reis.
Outro problema causado pelo descarte de lixo no rio, é a proliferação de insetos vetores de doenças. Isso pode explicar porque tanta gente doente nas áreas ribeirinhas. Além disso, o plástico e o restante do lixo mexem com a economia e tira a renda de quem mais precisa.
Essa época do ano é o período para preparar o roçado, o tempo de plantar o feijão, mas neste caso, o ribeirinho não consegue usar toda a vegetação, pois os outros pontos estão repletos de lixos.
Cada vez mais o ribeirinho vai se afastando da parte do barranco próximo do rio, e cada vez menos, ele consegue um peixe no rio Acre.
Existe alguns buracos que ficam no barranco chamados de locas, e algumas espécies de peixes usam esse buracos como local para se alimentar, proteger e procriar, mas devido o lixo vai se acumulando na entrada das locas, principalmente as sacolas plásticas. Dessa forma, se o peixe estiver dentro ele vai morrer, ou não vai mais conseguir entrar, com isso vai perdendo seu espaço.
Eles são mais que casas, esses buracos no barranco têm, ou nesse caso tinham, micro-organismos denominados cianobactérias, que junto com microalgas produzem oxigênio na água, o que é fundamental para os peixes.
Com isso, o desequilíbrio ambiental em todo o Rio Acre vem aumentando a cada ano, não existe uma política pública que evite o esgoto dentro do rio e nos igarapés, assim como o lixo.
“Falta uma mobilização social, uma consciência social para que essa prática de levar sacolas para as casas, seja gradualmente entendida como um ato nocivo, pois essas sacolas são jogadas nos rios, e desses rios que a gente coleta água para consumo, e vão parar na rede de coletores de água de chuva, e com isso causando o entupimento, alagações e prejuízos diversos para a sociedade”, explica a Mary Cristina, Procuradora do Ministério Público do Acre (MPAC).
O vereador de Rio Branco, Francisco Piaba, do Democratas, juntou informações, imagens e depoimentos e irá tentar convencer os colegas de parlamento e a prefeitura de Rio Branco, a começar de forma urgente uma campanha de conscientização, em que a população possa ser parceira e evite esses danos ao rio que nasce no Peru, passa pela Bolívia e abastece oito municípios do Acre e um do Amazonas.
“Nos temos que fazer o trabalho, correr atrás dessas autoridades, para que o governo e a prefeitura possam fazer um trabalho e a pessoas tenham consciência com os igarapés e rios. E assim, não joguem mais sacolas dentro das águas que desaguam dentro do rio Acre. Além disso, manter um controle desse lixo e dessas água suja, que deve ser tratada”, concluiu o parlamentar.
A vida no rio Acre é cada vez mais rara, os ribeirinhos ainda tentam aproveitar o que restou, mas o poder público não parece entender esse quadro, no principal mercado da capital, os ribeirinhos quando chegam com a produção para negociar na cidade, são obrigados a encostar seus barcos em barranco sujo, ao lado de esgoto e jogam no rio todos os dejetos, que também serve de banheiro e sanitário.
Uma estrutura que poderia ser usada para atender essas famílias é o porto da cidade, que fica próximo ao mercado, mas o local está abandonado, e os barcos que poderiam ancorar estão destruídos.
Resistir a tudo isso não está sendo fácil e ninguém sabe até quando vai durar essa resistência do rio, o que se sabe é que não será por muito tempo.
Com informações de Adailson Oliveira para TV Gazeta