Coluna feita por: Israel Souza[1]
A recente divulgação do inquérito da Polícia Federal (PF) sobre a trama golpista deixou Bolsonaro e seus consortes em desespero. Fazia tempo não os víamos proferir tantas bobagens e ameaças.
Provas desse desespero: 1) Flávio Bolsonaro, destemperado, ameaçou Alexandre de Moraes com um impeachment, caso a anistia não saia; 2) em entrevista, o advogado do Bolsonaro jogou toda a culpa da tentativa de golpe sobre os militares – que se devorem!; 3) Bolsonaro disse que espera que Trump aplique sanções contra o Brasil e pressione o STF e o TSE em seu favo – ele acha que tem essa importância toda; 4) Bolsonaro, ainda ele, da maneira mais patética e vergonhosa, humilhou-se para Lula e Alexandre de Moraes, apelando, pedindo “por favor”, por anistia.
Como um ser tão patético e covarde pode ser um ídolo para tanta gente?
Tantas falas assim, de tantos personagens, em canais variados, são prova de que o silencio não basta para fazer frente às acusações. A coisa é séria e desesperadora.
O desespero e a vergonha chegaram por aqui, pelo Acre. Em Rio Branco, nesta última sexta (29/11), realizaram um evento intitulado “Movimento anistia já”.
Coisa curiosa sobre os “patriotas”. Essa é a turma que dizia que não tinha “bandido de estimação”. Pelo visto, quem afirmava não ter bandido de estimação resolveu adotar, de uma só vez, uma quadrilha inteira. Essa foi a conclusão a que chegou o sólido e volumoso inquérito da Polícia Federal, um calhamaço com mais de 800 páginas, sortido com indícios e provas as mais diversas. O inquérito é tão robusto que os golpistas já nem se esquivam das acusações. Antes, antecipam-se à condenação pedindo anistia.
À luz desses fatos, podemos dizer que essa movimentação por anistia não é sinal de força, e sim de fraqueza. É a expressão mais perfeita de quem sabe que, dificilmente, escapará das penas que se avizinham. É a culpa que leva ao medo, que leva ao desespero…
Era essa mesma turma que, sempre de modo arrogante, dizia que “bandido bom é bandido morto”. Trata-se, agora todos sabem, de pura hipocrisia. Para eles, essa máxima só vale para pretos e pobres, moradores de favelas e periferias. Quando é gente deles que incorre em crimes, eles atacam a justiça, vociferam, ameaçam as instituições, com bombas, planos de sequestro e assassinatos etc.
Aqueles que, até ontem, rastejavam pelas sombras, tramando contra a democracia, agora querem nos convencer de que só haverá democracia se seus crimes antidemocráticos – e homicidas – forem perdoados. No entanto, é exatamente o contrário disso. A democracia só estará segura se seus inimigos golpistas forem exemplarmente punidos. E, num processo em que dona Fátima de Tubarão pega uma pena de 17 anos, um Bolsonaro não pode pegar menos que o dobro, dados seus maiores poderes e responsabilidades no crime.
Não podemos tergiversar quanto a isso. Não podemos ceder um único milímetro. Anistiar golpistas é condenar a democracia. A história o comprova fartamente. Entre a democracia e seus inimigos, eu estarei sempre ao lado da democracia. É uma escolha fácil para mim e outros tantos.
Para os que idealizaram e participaram do evento sobre anistia, posso vaticinar: mente vazia, oficina do golpista. É bom buscarem uma ocupação condizente com a dignidade e a democracia. Quanto a isso, um quintal para capinar pode fazer milagres e, de quebra, ajudar a manter nossa democracia.
Estejam cientes: o líder do golpismo é um troglodita que, embora viva arrotando macheza, não passa de um ser vil e covarde. Não pensa duas vezes em jogar pessoas na fogueira para salvar a própria pele.
É chegada a hora da justiça. É hora de, enfim, ver o golpista-mor atuar “dentro das quatro linhas”… de uma cela da papuda…
SEM ANISTIA.
[1] Professor e pesquisador de Instituto Federal do Acre/Campus Cruzeiro do Sul. Autor dos livros Democracia no Acre: notícias de uma ausência (PUBLIT, 2014), Desenvolvimentismo na Amazônia: a farsa fascinante, a tragédias facínora (EDIFAC, 2018), A política da antipolítica no Brasil, Vol. I e II (EaC Editor, 2021) e Ciência, educação e política, Vol. I e II (EaC Editor, 2024).