O Observatório de Análise Criminal do Ministério Público do Acre revelou que o estado registrou 90 ocorrências de estupro somente no mês de julho deste ano.
Em 2024, foram contabilizados 596 casos de estupro e estupro de vulnerável, distribuídos ao longo dos meses da seguinte forma: 86 em janeiro, 71 em fevereiro, 59 em março, 83 em abril, 100 em maio, 107 em junho e 90 em julho.
Entre janeiro e julho, o município com o maior número de registros foi Rio Branco, com 252 casos, seguido por Cruzeiro do Sul, com 59, e Tarauacá, com 35. A capital acreana concentra quase metade dos casos, representando 42,28% do total. Em contrapartida, o município de Jordão não registrou nenhum caso em 2024.
Do total de ocorrências, 26,85% foram de estupro, totalizando 160 casos, enquanto os estupros de vulnerável somaram 463, correspondendo a 73,15%. Esses números superam os do mesmo período do ano passado, destacando um grave problema social que afeta a segurança de mulheres e, principalmente, de crianças no estado.
“Isso me preocupa muito porque, muitas vezes, esses dados são subnotificados. Não temos acesso aos casos de estupro no interior, em aldeias indígenas. É muito difícil obter esses dados. O Ministério Público tem trabalhado bastante e, com certeza, esses índices estão aparecendo mais devido ao trabalho da instituição, assim como o da Secretaria de Segurança Pública, que também está investigando.”, afirma Tatiana Martins, advogada e membro da Associação de Mulheres Juristas do Acre.
Tatiana destaca a importância da inserção da educação sexual responsável nas escolas e, principalmente, orientada pelos pais como parte da solução para proteger essas crianças e reduzir os números alarmantes
“A informação é poder. Quando a criança sabe que o corpo não pode ser tocado de determinadas formas, e que apenas certas pessoas, de maneiras específicas, têm esse direito, ela pode identificar um abuso. Sem essa consciência, ela pode sofrer um estupro sem saber e não conseguirá denunciar.”, reforça Tatiana Martins.
A advogada também defende a necessidade de cobrar do poder público a implementação de ações normativas e legislações que orientem as crianças sobre esses riscos.
“Claro que, respeitando os contextos, ninguém aqui está falando de depravação. Estamos falando de uma educação consciente para que a criança possa se proteger. Recentemente, um projeto de lei aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa do Acre foi vetado integralmente pelo governo. Isso foi um retrocesso para os organismos sociais que lutaram por essa medida.”, conclui Tatiana Martins.
Matéria produzida pela repórter Wanessa Souza para a TV Gazeta.