Estamos vivendo em um período em que as informações, as notícias, principalmente, voam na velocidade da luz (dependendo da velocidade da sua internet). O que antes ficava restrito aos noticiários da TV e aos jornais impressos, agora é produzido e compartilhado de maneira quase instantânea na internet.
Essa situação se tornou ainda mais “incontrolável” com a criação das redes sociais e a utilização de aplicativos que favoreceram o rápido compartilhamento de informações, de links, principalmente. Dessa maneira, as notícias sobre a ocorrência de casos de racismo tornam-se mais visíveis ao público.
Além disso, devemos compreender que, ao longo dos anos, a população brasileira vem compreendendo mais sobre as consequências dos quase quatro séculos do sistema escravista no país e sobre a estruturação do racismo, que se manifesta diariamente e impacta a vida de milhares de brasileiros pretos e pardos (negros).
Essa compreensão sobre o racismo em nossa sociedade só foi possível diante da ação do Movimento Negro Educador. Se não fosse o seu posicionamento combativo ao racismo e de denunciá-lo, não teríamos as informações sobre a África, sobre o histórico da escravização no nosso país, bem como as políticas públicas para a população negra que temos, como a Lei nº 10.639/2003 e a de Reservas de Vagas no Ensino Superior e de Reservas de 20% das vagas nos Concursos Públicos (GOMES, 2017).
Assim, a população negra tem aprendido mais sobre o crime de racismo, de que maneira ele se manifesta e, dessa forma, tem denunciado de maneira explícita os casos de racismo que vem sofrendo. Com esse cenário, não ocorreu um aumento no caso de racismos no país, na verdade o que vem acontecendo é que ele está sendo mais denunciado e mais exposto e isso só foi possível como resultado das políticas públicas construídas desde os anos 1990.
É muito fácil acreditar nesta falácia, que é bastante difundida, de que “agora é tudo racismo”, que isso é “mimimi” e que “antes acontecia a mesma coisa, mas agora as pessoas ficaram mimizentas”.
Uma frase que tem sida creditada ao ator estadunidense Will Smith afirma que “o racismo não está piorando, ele está sendo filmado”; ela foi reproduzida durante um programa de Tv em 2016 e voltou a ser muito utilizada nos últimos anos, principalmente após a morte de George Floyd, que foi asfixiado pelo policial branco quando este colocou o joelho em seu pescoço.
O debate acerca da brutalidade e do racismo institucional no âmbito da segurança pública não é o debate nesta publicação, mas concordamos com a frase do ator de que, neste momento em que vivemos, o racismo não aumentou ou está piorando, na verdade o que vem acontecendo é o acesso à informação de direito e o empoderamento da população negra e reiteramos: isso é resultado de políticas públicas.
Ademais, não podemos esquecer de que estamos utilizando as novas tecnologias a nosso favor; há um crescimento de páginas nas redes sociais e digitais, influencers ativistas antirracistas que propiciam o que Aparecida de Jesus Ferreira denomina de Letramento Racial Crítico, ou seja, entender, através de diversificados meios, a olhar de maneira crítica a questão racial na sociedade, principalmente as hierarquias raciais estruturadas (FERREIRA, 2015). Além disso, podemos utilizar nossos smartphones para gravar, publicar e compartilhar os crimes de racismo, bem como buscar punições aos infratores que acham que as suas ações são “surtos” de raivas e descontentamento.
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REFERÊNCIAS:
FERREIRA, Aparecida de Jesus. Letramento racial crítico através de narrativas autobiográficas: com atividades reflexivas. Ponta Grossa: Estúdio Texto, 2015.
GOMES, Nilma Lino. (Org.). O Movimento Negro educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2017.
Sobre a autora:
Doutoranda e Mestra em Letras: linguagem e identidade e graduada em Letras Português pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Professora da Educação Básica na Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes do Acre (SEE/AC), lotada na Escola Edilson Façanha. Integrante do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Ufac (Neabi/Ufac).