O biólogo e fotógrafo acreano, Wyllyan Ribeiro, na última semana, relembrou o registro de uma matilha de cachorro-do-mato-vinagre, animal ameaçado de extinção, feito por ele em maio de 2022, em Rio Branco. A espécie é o canídeo mais raro das américas.
Ribeiro tem vasta experiência com ornitologia e é guia de conservação de aves no Acre. Ténico ambiental do Insituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o biólogo, em entrevista ao site Agazeta.net, explica que os registros aconteceram por volta das 07:50 da manhã, em maio de 2022, no Ramal do Noca, que faz parte da Área de Proteção Ambiental do Igarapé São Francisco.
“Pela correria de outros trabalhos, os dados acabaram ficando guardados até uma reanálise dos meus arquivos pessoais. Nesse período o meu foco era apenas voltado para o grupo das aves, por isso guardei as imagens e acabei não publicando antes”, conta Ribeiro.

O biólogo detalha que o cachorro-do-mato-vinagre, chamado cientificamente de Speothos venaticus, é o menor canídeos silvestre da América do Sul, continente em que o Brasil está localizado. A espécie é mamífera e mantém hábitos diurnos, além de andar em matilhas de até 10 componentes para poderem caçar e se alimentar de animais maiores, como capivaras e veados.
“O cachorro-do-mato-vinagre é o menor canídeo silvestre da América do Sul, apresenta um corpo alongado pesando em média 6 kg, com patas e orelhas curtas e pelagem com coloração avermelhada. São mamíferos com hábitos diurnos que formam matilhas de até 10 indivíduos. Costumam caçar em matilha e podem se alimentar também de animais maiores como a capivara e o veado”, ressalta o biólogo.
“Encontrar uma pequena matilha com três indivíduos foi sorte, mas gosto de dizer também que são horas de bateria de campo, só se faz registros de raridades e espécies ameaçadas quem se coloca à disposição de enfrentar os intempéries amazônicos pela conservação delas. Speothos venaticus, além de raríssima, é reconhecida como uma ‘espécie-fantasma’, considerada quase ameaçada de extinção, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).”
Além disso, ele pontua que, de acordo com especialista Luís Borges, os cachorros-vinagre só puderam ser vistos, pois a área onde o registro ocorreu está entre a Reserva Extrativista Chico Mendes e a Área de Proteção Ambiental do Igarapé São Francisco, que tem um entorno ameaçado pelo desmatamento, algo que ocasiona a perda de habitat natural da espécie.
Explica, ainda, que a caça é um fator muito prejudicial à espécie, pelo fato de que a caça ilegal afeta o alimento desse animal, que é exclusivamente carnívoro e se alimenta de mamíferos de porte médio, sendo esses os que mais sofrem com os impactos do ato ilegal.
“Além do desmatamento, a caça também pode ser prejudicial, não porque há relatos de Speothos venaticus em conflito com o ser humano ou sendo caçado, mas, sim, porque é um carnívoro exclusivista e se alimenta de mamíferos de porte médio que sofrem diretamente os impactos da caça ilegal. Poderíamos dizer que há muito tempo não era visto pela constante redução de suas populações vítimas da perca de hábitat”, conta.

Biologia e a fotografia
“Desde criança, tive a curiosidade de conhecer a natureza e todas as leis que regem o mundo natural, assim como toda a biodiversidade. Meu pai armava curió (gaioleiro), prática na qual discordo e ele não pratica há décadas, mas os passarinhos permearam desde ali o meu imaginário, e dentre toda essa biodiversidade, o grupo das aves foi o que mais me chamou atenção. A partir de 2018, comprei a minha primeira câmera e passei a fazer registros fotográficos de aves na APA Lago do Amapá.”
Wyllyan Ribeiro atua como fotógrafo da natureza há seis anos, mas, segundo ele, mesmo com o curto período no ramo fotográfico pôde adquirir uma vasta experiência, devido às horas de campo e à quantidade de biomas explorados, não apenas na região amazônica.
“O hobby/ciência cidadã se tornou também trabalho. Posso dizer que mesmo estando há somente 6 anos registrando espécies na natureza, a intensidade na qual pratiquei nesse “curto período” trouxe grande experiência. Como gosto de dizer, a experiência vem com horas de campo e a quantidade de novos biomas explorados. Por isso, em diversas expedições busquei diferentes biomas como a Mata Atlântica, a Caatinga e o Cerrado, além da Amazônia”, destaca.
“A prática de observação de aves e o registro de outros grupos de seres vivos pode ir muito além. Primeiramente, é um estilo de vida, pode ser uma paixão/hobby, mas pode ser também a sua contribuição, um legado para a humanidade e o mundo natural. Esse trabalho apresenta as pessoas a riqueza natural que está a sua volta, lhes dá o sentimento de pertencimento, conscientiza e educa ambientalmente.”
Perfil de fotografias
O biólogo utiliza as redes sociais para compartilhar os registros da natureza. No Instagram, por exemplo, Ribeiro possui um perfil exclusivo para seu trabalho como fotógrafo. Ele conta que a utilização desse veículo de comunicação surge como um meio de aproximar as pessoas da notícia, neste caso, aproximá-las do que as pertence, a natureza.
“Vejo que grande parte dos cientistas tem dificuldade de se comunicar com a sociedade. A linguagem ainda é extremamente técnica e formal, isso dificulta ainda mais, já que no seu horário de almoço você só quer entrar na rede social e ver algo interessante e rápido. Eu busco o ponto fora da curva. Tento sensibilizar com beleza e sentido nas fotografias, ao mesmo tempo que utilizo técnicas de edição. Não fujo do natural, pois também são registros científicos e tenho esse compromisso”, afirma.
“Cada publicação é pensada com carinho. Busco publicar muita coisa de espécies endêmicas, e, principalmente, raras e ameaçadas de extinção. Esses grupos enfatizam a necessidade urgente que temos de olhar e agir com respeito pela conservação e preservação da natureza. Assim, posso dar voz aos seres indefesos que sofrem com a ação predatória humana.”
Os interessados em apreciar o trabalho como fotógrafo do biólogo, o perfil profissional dele na plataforma Instagram é @wyll7alencar. Lá, é possível encontrar variadas especies de vida selvagem, mas, principalmente, de aves.