No dia 14 de fevereiro é celebrado o dia do amor e da amizade, especialmente nos Estados Unidos e em outros países. No Brasil, o dia do amigo é celebrado em 20 de julho. Mas, o brasileiro, como não perde uma oportunidade, adaptou a data e nos últimos anos vem celebrando o amor entre os amigos no dia 14 de fevereiro. A história começou com um padre católico (Século III) com o nome de Valentin de Terni, sendo conhecido na época como o padre das cerimônias de casamentos proibidos. Tornou mártir na luta pelo amor, sendo lembrado até hoje por apoiar os casais da época e celebrar o amor acima de tudo.
O legado desse sacerdote não foi esquecido e atualmente, o dia 14 de fevereiro é considerado como o “Dia dos Namorados” em alguns países ou o “Dia da Amizade” em várias partes do mundo. O Brasil adotou o dia do amor e da amizade no dia 14 de fevereiro, e o dia dos namorados no dia 12 de junho. Aproveitando essa data vamos falar do o amor e a amizade e o amor na amizade.
O ser humano é um animal de relações e estabelecendo ao longo de sua vida vários tipos de elos com outros de sua espécie, tendo em cada tipo de relacionamentos as suas características e suas peculiaridades. Relações profissionais, de amizade ou de amor, são exemplos dos vários tipos relacionais que os indivíduos estabelecem e mantêm (ou não) ao longo de sua jornada na terra.
Em sua grande maioria, as relações de amizade, seguem menos regras e servem para satisfazer outro em suas necessidades relacionais da espécie humana. Em amizade é comum unir as pessoas que tenham interesses parecidos, gostos, valores, ideias, grupo etário, etc. O componente que difere a relação de amizade a uma relação romântica, é a atração física e sexual.
Todavia, nos dois tipos relacionais são encontrados valores e habilidades em comum: a reciprocidade e a auto-revelação são exemplos de elementos partilhados nas relações românticas ou de amizade. Enquanto na relação romântica, quem ama espera ser amado, por outro lado, um amigo espera ter do outro algo que o enriqueça e o satisfaça, algo que traga ganhos gerando a manutenção da relação por período maior.
A confiança e a proximidade que se tem do parceiro romântico, é semelhante da relação de amizade, embora com diferentes níveis. Após o estabelecimento da conexão através da confiança e da proximidade, a amizade e o amor iniciam um processo de desenvolvimento, utilizando-se das habilidades de auto-revelação, que é a decisão de revelar e comunicar o que até então foi tido como segredo sobre si. As partes fortalecem a confiança e permitem uma maior proximidade. Promovendo nos envolvidos um sentimento de bem-estar, que faz com que as experiências se repitam formalizando assim a intimidade e a necessidade de partilhas.
Tanto as relações românticas ou relações de amizade exigem qualidade de tempo, esforço e muitas outras características, que formam um relacionamento mútuo. Namoro e amizade requerem envolvimento emocional, cuidado, respeito e dedicação. Isso não isenta que relações sofram transformações com o passar do tempo e passem ambas por diferentes etapas, sendo que na de amizade essa transformação ocorre com maior frequência, pela característica de não haver compromisso de fidelidade de experiências conjuntas como acontece no casamento, por exemplo. Amigos podem mudar de estados, podem seguir objetivos, podem casar-se com outra pessoa e tomarem rumos diferentes. Já na relação romântica os dois decidem viver experiências partilhadas, de procriação, de apoio e companhia por longo tempo (“até que a morte os separe”).
A forma como o sujeito escolhe os relacionamentos em sociedade, é condicionado pela capacidade de avaliar de forma positiva ou negativa as experiências de interações pessoais, tanto as que conduzem a relacionamentos românticos como as que levam a relações de amizade. Por isso, a forma como se aprendeu relações nos primeiros anos da vida podem condicionar as escolhas relacionais atuais. Se alguém em sua infância aprendeu amar pessoas significativas com comportamentos tóxicos, há uma grande probabilidade de tolerar e cultivar “relações toxicas” em outras fases da vida, gerando prejuízos de ordem psicológica e social.
Se por caso você sente que seus amigos ou companheiros não lhe fazem bem é importante você buscar ajuda profissional, pois há uma grande probabilidade de você está escolhendo pessoas para se relacionar com aspectos das primeiras relações “toxicas” da vida.
É possível haver amor e amizade numa relação?
Sim, a amizade é uma manifestação de amor humano. A socialização é uma necessidade das pessoas, isso faz parte de seu DNA. Há pessoas que vem lá da infância, do trabalho, da faculdade, da escola, do curso de idiomas ou de num passeio. O psicológico sente a necessidade de ter maior tempo de qualidade com essa pessoa, de repetir experiências passadas, seja pela companhia, pela cumplicidade ou mesmo pelo carinho e atenção do outro. A esse sentimento e comportamento chamamos de amor de amigos.
É importante salientar que nem em toda relação de amizade se estabelece o mesmo grau de intimidade, por muitas variáveis do comportamento humano, existem graus de amizade proporcionados pelo ambiente em comum que as pessoas frequentam, como os colegas de uma escola, da igreja, do trabalho, da vizinhança. E, o amigo de maior intimidade, aquele que é do “peito”, é seu confidente, conhece sua vida, conhece seus sentimentos e desejos mais íntimos e está presente em boa parte de sua vida, do seu dia a dia.
Então pode sim haver amizade entre homem e mulher que se veem de forma assexuada. Quando alguém defende a crença que não existe amizade entre homem e mulher, inconscientemente ele está expondo seu sentimento de insegurança e baixa autoestima como relação a si mesmo, pois o medo que esse alguém o troque por outra pessoa é real. Homens e mulheres com sentimentos de insegurança também não acreditam na autenticidade desse tipo de amizade.
No entanto, isso não significa também que nunca possa existir algo a mais entre amigos. A maturidade de ambos é primordial para compreender se a amizade é mais importante do que um possível envolvimento afetivo, que tem como ponto diferencial da amizade, o comportamento sexual.
Quando uma relação envolve atração física e sexual, outros sentimentos podem emergir, como ciúmes, o medo, a raiva, rivalidades etc, gerando uma complexidade emocional podendo provocar uma instabilidade nessa relação. Lidar com esses sentimentos negativos, pode gerar uma série de conflitos que exigem maturidade e compreensão para supera-los. Um relacionamento romântico possui outro nível de intimidade para fazê-lo acontecer.
Cultivar relacionamentos saudáveis e estar com amigos pode ser uma medida protetora significativa para a saúde mental. Estudos científicos já informam que pessoas com amigos de alto grau de intimidade ficam menos propensos para desenvolver ansiedade e depressão.
Ter amigos auxilia na redução de níveis de estresse promovendo a resiliência. É importante reconhecer a importância do apoio social nos dias atuais. Promover a conscientização sobre os benefícios das amizades saudáveis. Ao proteger e nutrir nossos relacionamentos, podemos contribuir para promover a saúde mental e o bem-estar.
Francisco Souza
Psicólogo – CRP 24/02932
Terapeuta Cognitivo comportamental