A derrota dos derrotados
*Por Adaílson Oliveira
Quando me falavam em Copa do Mundo, Seleção Brasileira e Fred, evidente, geralmente respondia em riste: “Vamos supor que o Brasil seja o campeão mundial, o que eu vou ganhar? Simples a resposta: nada.
Vou ter que trabalhar na segunda-feira normalmente e os cobradores vão ficar no meu pé como dantes.
Agora vamos a outra situação. E se ele for desclassificado, como aconteceu, o que vai ser de mim? Novamente, nada.
Fomos inebriados pelos jogos como se tivéssemos colocado na disputa a honra e a glória de um país que tem o melhor futebol do mundo.
Todos os dias, ouvia-se:
– hoje tem jogo da Espanha,
Enquanto isso a taxa de juros do Banco Central chegando a 11%.
– Opa… hoje tem Portugal, de Cristiano Ronaldo.
E a inflação ameaçando destroçar a nossa moeda. Nesse caso, conquistamos o HEXA. A taxa de inflação acumulada até abril estava em 6,28%.
– Não posso perder a Argentina com Messi e companhia.
E, durante aqueles 90 minutos, centenas de pessoas buscavam um simples médico em uma unidade de saúde e não encontrava. Outros buscam em filas um remédio, mas voltavam para casa com a desculpa do atendente: “Esse está faltando”.
Quem sabe com hipocrisia da copa ficando para trás, o brasileiro comece a pisar no chão, ou ao menos senti-lo, para descobrir onde realmente está sua tristeza. E olha que nossos pés estão em cima de cacos de vidro, e não é ilusionismo, a cada passo que damos abrimos mais feridas. É só olhar ao nosso redor a falta de políticas públicas para reduzir as mazelas sociais e a violência que nos aprisiona.
No entanto, enquanto tudo isso acontece, muita gente continua em berço esplêndido, como nossos alienados torcedores que foram aos estádios cantar em “borbotões” o Hino Nacional, para os nossos atletas, que nem jogam em nosso país (grande maioria).
Aqui no Acre, a força da realidade nua e crua e perversa vem desde os preparativos para a Copa. Com a catástrofe natural do rio Madeira, o Estado ficou isolado. O rio subiu, subiu, subiu e nossos aguerridos empresários preocupados em acabar com o desabastecimento decidiram trazer produtos em todas formas possíveis: avião, balsa e caminhões do Peru. Só faltou contratar o Josenir, com seu paramotor.
Isso deixou os produtos mais caros, naturalmente. Então senhor consumidor, vamos aumentar um “pouquinho” os preços para compensar nosso “árduo trabalho”.
Só que o Madeira baixou, baixou, baixou… e os preços não desceram. Até a carne do nosso boi verde, tão abundante em nossas terras, teve reajuste e não voltou ao preço que era.
A catástrofe do Madeira foi um dos melhores negócios para os empresários que majoraram preços e “esqueceram” de ajustar ao leito do rio. Agora a tormenta ficou com o bolso do consumidor.
Você pergunta: e os órgãos fiscalizadores? Procon, Ministério Público e o próprio governo do Estado? Bem…. fizeram média, na práxis, nada.
Depois acham ruim quando manifestantes vão às ruas e quebram órgãos públicos e mandam gestores para aquele lugar.
Polícia neles…
No Brasil é assim: se faz o mostro e depois quer puni-lo.
Adaílson Oliveira é jornalista, com especialização, e advogado