Maya Dourado é uma artista não binária, negra e amazônica, cuja música e poesia refletem nas vivências como uma pessoa periférica do Acre. Com um trabalho que transita entre a música, arte e projetos sociais, ela participa do projeto “Escrevivências da Libertação”, que atua dentro da penitenciária feminina de Rio Branco no desenvolvimento de oficinas de poesia marginal. Ela enfatizou a importância desse trabalho, especialmente por ser filha de uma ex-sobrevivente do cárcere, e como isso a impactou profundamente.
“Esse trabalho mexeu comigo de uma forma muito especial, pois sou filha de uma ex-sobrevivente do cárcere. Ver essas mulheres se interessando pela arte e pela escrita é realmente gratificante”, diz.
Além disso, ela lançou recentemente o projeto “Migrando em Águas Profundas”, parte da iniciativa “Planeta Elemental”, que reúne diversos artistas da região. Este projeto, disponível em todas as plataformas digitais, é uma expressão da cultura amazônica e da luta por visibilidade e direitos.
Durante a entrevista, ela explicou como as experiências pessoais influenciam o processo criativo. Ela compartilhou que não seria a artista que é hoje sem as vivências na Amazônia e como uma pessoa LGBTQIA+. A cantora destacou que, após se assumir, a arte ganhou mais significado, especialmente após enfrentar dificuldades, como ser expulsa de casa e começar a fazer poesia nos ônibus de Rio Branco. Essas experiências de dor e preconceito moldaram as letras, que refletem a realidade de muitas outras pessoas.
“Não seria a artista que sou sem as vivências na Amazônia e como uma pessoa LGBTQIA+. Depois que me assumi, minha arte ganhou uma intensidade maior. Passei por dificuldades, como ser expulsa de casa, o que me levou a fazer poesia nos ônibus em Rio Branco”, explica.
Segundo Dourado, o projeto “Migrando em Águas Profundas” começou como um álbum solo, mas a cultura de coletividade do Acre levou ela a incluir outros artistas talentosos. Ela explicou que a história do Planeta Elemental foi criada em colaboração com Nanã, com a intenção de criar um planeta místico no meio da Amazônia. Essa visão se traduziu em um projeto coletivo de produção artística cultural, onde foram realizadas residências e colaborações criativas.
“A história do Planeta Elemental foi criada por mim e pelo Nanã. Queríamos criar um planeta místico no meio da Amazônia, e isso se traduziu em um projeto coletivo de produção artística cultural, onde fizemos residências e criamos juntos”, comenta.
Recentemente, a cantora teve trabalhos reconhecidos internacionalmente com uma publicação na Grécia. Ela expressou a satisfação em saber que os textos são utilizados como pesquisa em universidades e que as poesias foram traduzidas para o grego, o que trouxe um novo significado à arte.
“Foi incrível saber que meus textos estão sendo utilizados em universidades e que minhas poesias foram traduzidas para o grego. Isso trouxe um novo significado para minha arte, ampliando a visão e alcance”, enfatiza.
Para o futuro, Dourado está focada em fortalecer a cena artística jovem de Rio Branco. Ela falou sobre reviver o Coletivo Piracema, que realiza eventos mensais envolvendo música, poesia, teatro e performance. Além disso, prepara uma turnê por 10 municípios do Acre para lançar o novo álbum, “Arapuca”, que trará poesias e músicas autorais.
“Estou revivendo o Coletivo Piracema, que realiza eventos mensais que englobam música e outras atrações. Além disso, estou preparando uma turnê por vários municípios do Acre para lançar meu novo álbum, ‘Arapuca’, que trará poesias e músicas autorais”, conclui.
Maya Dourado é, sem dúvida, uma voz poderosa da resistência e criatividade na Amazônia, utilizando a arte para promover mudanças sociais e culturais, enquanto inspira outros a se expressarem e lutarem por direitos.
Estagiário supervisionado por Gisele Almeida