O julgamento que absolveu os policiais militares envolvidos na morte de Maria Cauane Araújo da Silva, de 11 anos, gerou revolta e indignação entre os familiares da vítima. O caso, que ocorreu em 14 de maio de 2018 durante uma operação do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), também deixou outras duas pessoas mortas e duas feridas, incluindo uma vítima que perdeu parte da perna.
Após cinco dias de júri popular, a decisão da absolvição foi divulgada no último domingo. Para a mãe da vítima, Marlene Araújo, a absolvição foi um golpe devastador. “Eu pensei em correr desesperada quando ouvi a sentença. Estou sentindo vontade de me isolar, porque não acredito que uma pessoa mata uma criança e fica impune. Se até quem mata um animal vai preso, como que matam minha filha e saem livres?”, desabafa.
Maria Cauane foi morta enquanto brincava na varanda da casa de uma vizinha, numa área periférica da cidade. A operação policial, segundo os pais, não visava nenhuma ameaça direta naquela localidade. Para José Carlos da Silva, pai da criança, a sentença não só desrespeita a memória da filha, mas também reforça um padrão de desigualdade. “Para mim, ficou claro que a vida de quem mora em comunidades pobres não tem valor. Não vejo isso acontecendo em condomínios fechados. Sempre é na periferia, onde falta tudo: luz, esgoto, dignidade.”
Os familiares acreditam que a composição do júri foi determinante para o resultado. O advogado, que atuou junto com o Ministério Público na acusação, disse que todos os jurados eram servidores públicos e conheciam os oficiais. A defesa dos militares convocou 23 testemunhas, incluindo coronéis e autoridades, que, segundo a acusação, exerceram forte influência sobre o júri. “Julgaram totalmente o contrário das provas dos autos. É revoltante. Eu não vou ficar mais no Acre. Eles podem fazer isso de novo, e ninguém será punido.”, afirma o pai de Maria Cauane, que revelou a intenção de deixar o estado.
O promotor Carlos Pescador informou que recorrerá da decisão ao Tribunal de Justiça. Segundo ele, há provas da participação dos policiais no crime, mas elas foram ignoradas pelo júri. Ele também destacou que a pressão de militares influenciou diretamente na decisão e que, no segundo grau, essa influência tende a ser menor.
Para Marlene e José Carlos, no entanto, a dor da perda não será reparada. “Minha filha era tudo para mim. Não tem como acreditar que isso aconteceu e ficou assim”, finaliza Marlene.
Matéria produzida pelo repórter Adailson Oliveira para a TV Gazeta.