No coração da Amazônia, na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, uma nova iniciativa está mudando a vida dos extrativistas. O Ateliê da Floresta, um projeto inovador que transforma resíduos de madeira, como galhos e troncos caídos, em artefatos de valor agregado, está oferecendo uma nova fonte de renda e proporcionando esperança, além de renovar a conexão dos moradores com a floresta.
Rogério Azevedo, filho do primo de Chico Mendes, representa a nova geração de extrativistas que, sem abandonar as raízes, abraça o ofício de artesão. Para ele, essa nova atividade não significa uma mudança de profissão, mas um complemento para a renda das famílias que há décadas dependem da floresta.

“A gente não deixou de ser extrativista, é só mais uma complementação na renda das famílias. A gente está trabalhando para viver mais dignamente dentro da floresta, com ela em pé”, explica Azevedo.
A formação em marcenaria, embora breve, trouxe aprendizados significativos. Azevedo reconhece que o tempo foi curto, mas acredita no potencial de crescimento do Ateliê da Floresta.
“A gente está batalhando para conseguir mais formação. É um trabalho novo na reserva, e os artesãos ainda estão aprendendo, mas estamos confiantes de que será um grande sucesso”, afirma.
O impacto do projeto NossaBio
A implementação do projeto NossaBio na Resex Chico Mendes foi um desafio, mas também uma realização de um sonho antigo. O coordenador do Programa Valores da Amazônia da SOS Amazônia, Adeilson Lopes, detalha o processo que envolveu a construção da marcenaria, a aquisição de equipamentos e a formação dos moradores.

“Foi um sonho de 15 anos que finalmente se tornou realidade. Colocar esse sonho em prática exigiu dedicação e superação de desafios, mas hoje temos o Ateliê da Floresta, uma nova marca de produtos acreanos”, celebra.
O impacto econômico e social começa a ser sentido na comunidade, com a geração de empregos e o envolvimento de jovens e mulheres. Lopes destaca a importância de continuar investindo na formação e na consolidação do modelo de negócios. “Nosso maior desejo é que o Ateliê da Floresta sirva de exemplo para outras comunidades, promovendo a sustentabilidade e a valorização da sociobiodiversidade da região”, diz.
Preservação e valorização da floresta
O Ateliê da Floresta não apenas cria produtos, mas também conta histórias. Cada peça, seja uma gamela, um móvel ou um utensílio doméstico, carrega consigo a história das árvores caídas e das lutas dos povos da floresta para preservá-la. A madeira utilizada no ateliê é cuidadosamente selecionada, aproveitando o que a natureza deixou no chão, sem a necessidade de derrubar uma árvore sequer.

“A criatividade dos artesãos não tem limites, e os produtos que saem do ateliê agregam o valor da história e da luta dos heróis e heroínas da floresta”, ressalta Lopes. A iniciativa atrai turistas curiosos que, ao visitar Xapuri, fazem questão de conhecer o ateliê e apreciar a beleza e o significado das peças produzidas.
Futuro sustentável
O Ateliê da Floresta é mais do que um empreendimento; é um símbolo de resistência, inovação e sustentabilidade. Para Rogério Azevedo e muitos outros que abraçaram essa causa, o futuro é promissor. “Esperamos que o nosso nome seja reconhecido mundo afora e que possamos servir de exemplo para outras comunidades e reservas”, diz o extrativista.
Este projeto, que começou como um sonho, hoje é uma realidade que fortalece as raízes das comunidades extrativistas e amplia as possibilidades de um futuro sustentável, onde a floresta continua em pé, gerando riqueza e preservando a inestimável biodiversidade.
