Nos últimos meses, o aumento expressivo nos preços de alimentos essenciais, como café e carne, tem preocupado consumidores e especialistas. Fabrício Tonegutti, advogado tributarista e diretor da Mix Fiscal, analisa os impactos desse cenário na vida das pessoas, na economia e os fatores que levaram a essa alta nos preços.

Tonegutti destaca que o aumento nos preços dos alimentos e de outras despesas básicas afeta diretamente o poder de compra das famílias. Essa restrição ao consumo, segundo ele, é prejudicial não apenas para as famílias, mas também para as empresas, que perdem vendas e reduzem a produção, o que gera um efeito cascata na economia.
“Aquilo que a renda permitia consumir antes, agora precisa ser reduzido ou até cortado. Quem comprava carne diariamente pode ter que diminuir o consumo ou optar por produtos de qualidade inferior. Se você para de vender, para de produzir. Se para de produzir, para de comprar insumos, e toda a economia acaba sendo afetada”, afirma o especialista.
Tonegutti aponta três principais fatores para o aumento dos preços: climáticos, de demanda e políticos.
- Fatores climáticos: secas prolongadas em regiões produtoras de café e leite afetaram a qualidade e a quantidade da produção.
- Aumento da demanda: a China aumentou as importações de carne brasileira, elevando a demanda global. Além disso, o ciclo da pecuária no Brasil está desequilibrado, com um rebanho bovino mais jovem e menos preparado para o abate.
- Fatores políticos: a remoção de benefícios fiscais, o aumento de alíquotas do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), e a reoneração de combustíveis também contribuíram para a alta dos preços.
“Problemas climáticos atrapalharam a produção, reduzindo a oferta desses produtos agrícolas. Menos oferta para mais demanda resulta em aumento de preços. Esses fatores, somados à valorização do dólar, impactaram fortemente os custos”, completa.
Segundo Tonegutti, a normalização dos preços depende da recuperação da produção agrícola e da regularização da oferta. Ele ainda alerta para o impacto do aumento do frete, decorrente da reoneração do diesel, que afetará toda a cadeia produtiva.
“Nas regiões afetadas pela seca, um novo ciclo de produção deve trazer alguma normalização, mas isso não acontecerá em um período muito curto”, destaca.
Caso do café
O café foi um dos produtos que mais sofreram com a alta de preços, com um aumento de 53% nos últimos 12 meses. Tonegutti explica que a quebra de safra, causada por problemas climáticos persistentes, foi o principal motivo. Além disso, a valorização do dólar incentivou os produtores a priorizar a exportação, onde recebem pagamentos em moeda estrangeira e sem tributação.
“O café teve alta de 53% devido à quebra de safra e à valorização do dólar, que incentivou a exportação. O produtor prefere vender para fora, onde o retorno é maior. A regularização da safra deve trazer alívio, mas de forma gradual”, diz.

Salário mínimo e inflação
O especialista ressalta que o salário mínimo não conseguiu acompanhar o aumento dos preços dos alimentos. Enquanto o café subiu 53%, a carne aumentou 40% e o leite, 20%. Ele também cita aumentos em alugueis (12%) e energia elétrica (6%), que superaram a inflação média de 4,53% no período.
“Outros itens, como manteiga, também tiveram aumentos significativos. O salário mínimo não tem condições de acompanhar esse tipo de alta”, afirma.

O cenário atual de alta nos preços dos alimentos reflete uma combinação de fatores climáticos, econômicos e políticos. Enquanto a oferta se normaliza, os consumidores e as empresas devem se preparar para enfrentar preços elevados por mais algum tempo. Para Tonegutti, a recuperação econômica depende de uma série de ajustes, tanto na produção quanto na política tributária, para aliviar os impactos sobre a população e a atividade econômica.
Estagiário supervisionado por Gisele Almeida