Audiência de instrução começou nesta terça
Depois de sete anos, finalmente a justiça boliviana decide começar o julgamento do ex-governador da província de Pando, Leopoldo Fernandes, acusado de ser o mandante do quwe passou para a história como o “Massacre de Povenir”, no qual 18 camponeses foram brutalmente assassinados.
Na audiência de instrução que começou nesta terça-feira (21), foi realizada uma acareação entre as testemunhas das vítimas e de Leopoldo, mas apenas uma parte apareceu.
Em setembro de 2008, a crise política na Bolívia se agravava. Leopoldo Fernandes, então governador de Pando, era o principal opositor ao presidente Evo Morales. Ele foi deposto e preso acusado de ser o líder de um dos maiores massacres do país.
No início do mês de setembro de 2008, um grupo de camponeses, ligados a Evo Morales decide fazer um movimento pró- governo na cidade de Cobija, a capital de Pando.
Quando o grupo chegou à Vila Povenir, distante 30 quilômetros de Cobija, foi recepcionado por militantes do partido de Leopoldo. Houve uma ordem para que voltassem. Como não aceitaram, foram atacados com tiros e paus. A praça da vila se transformou num cenário de guerra. A polícia estava no local, mas não impediu o massacre.
Durante o ataque, os apoiadores de Leopoldo foram se aproximando dos camponeses, que começaram a correr. Tiros foram ouvidos de todo os lados. Os feridos e mortos carregados, enquanto mulheres se desesperaram e pediam ajuda. As ambulâncias chegaram, os camponeses tentaram ajudar a salvar a vida dos feridos. A fúria era tão grande dos moradores de Cobija que eles tentavam tirar os feridos de dentro da ambulância. O cenário era de guerra.
Os veículos que transportavam os campesinos foram incendiados. No total, 18 pessoas foram mortas na entrada de Povenir e outras 20 saíram feridas a bala. Cerca de 30 camponeses viraram reféns, e, mesmo sangrando, foram obrigados a gravar entrevistas e apanharam enquanto se justificavam. Outros nem aguentavam se levantar.
Por causa desse massacre, o presidente Evo Morales decretou estado de sitio em Cobija e começou uma verdadeira caçada aos apoiadores de Leopoldo Fernandes.
Prisão governador
Dois dias após o massacre, o exército boliviano fecha o aeroporto de Cobija e transforma o local em um quartel. Com o estado de sitio decretado pelo governo central, começa a prisão dos envolvidos no massacre que mataram 18 campesinos e feriram outras dezenas.
Casas foram invadidas durante a noite e os moradores levados para prisões improvisadas sem direito a contato com a família. Leopoldo Fernandes se tranca na sede do governo que fica cercada por militares.
No dia 16 de setembro é dada a ordem para tirá-lo do poder e prendê-lo. Todo o aparato do exército cerca a sede do governo para reprimir qualquer iniciativa da população de proteger Leopoldo. O governador é retirado pelos fundos do palácio, colocado em um veículo e levado para o aeroporto, onde uma aeronave já esperava para levá-lo para uma prisão em La Paz.
Nas ruas de Cobija o silêncio e o medo reinavam. Agora a justiça boliviana volta a mexer nesse processo que ficou engavetado durante sete anos.
Na primeira audiência de instrução, Leopoldo Fernandes foi ouvido pela corte da justiça boliviana. É a primeira vez que tem a chance de se defender. Outras audiências ainda serão realizadas onde dezenas de testemunhas e de vítimas do massacre serão ouvidas.
Em Cobija, ainda existe o receio de se falar sobre essa história. Com a prisão de Leopoldo, o presidente Evo Morales finalmente conseguiu ter o apoio político na região.