Por Jardel Silva França para o Agazeta.net
A Coluna Escavando História é uma ferramenta de resistência criada pelo discentes do Centro Acadêmico Pedro Martinello, do Curso de Bacharelado em História para publicar as pesquisas, extensões, relatos de experiências e literaturas que dialogam com a história e áreas afins. Pensando nisso é que trago uma recomendação de leitura para aqueles que desejam trabalhar ou simplesmente conhecer um pouco sobre história oral, história das mulheres nos seringais acreanos no século XX e as diversas formas de resistências desenvolvidas por homens e mulheres que viveram nos seringais acreanos. Apresento a vocês o obra Aquirianas: mulheres da floresta na história do Acre, do professor Carlos Alberto Alves de Souza.
O livro de Carlos Alberto Alves de Souza, denominado Aquirianas: mulheres da floresta na história do Acre, editorado pelo Instituto de Pesquisa, Ensino e de Estudos da Cultura Amazônicas – ENVIRA, 2010, aborda uma proposta audaciosa – dentro das várias possíveis – de uma escrita da História das Mulheres na Amazônia.
O autor era formado em História pela Universidade Federal do Acre, com Doutorado em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sendo o primeiro Professor Titular da área de História do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Ufac, foi presidente da Associação Brasileira de História Oral de 2004 a 2006, além de fazer parte da Academia Acreana de Letras, possui obras sobre a História do Acre que se inspiram na História Social Inglesa – notadamente em Thompson e Hobsbawm – e por um diálogo interdisciplinar com os espaços e geografias amazônidas.
A obra busca trazer ao palco cultural as mulheres que, por muito tempo, foram injustiçadas e excluídas de uma sociedade da qual sempre fizeram parte. A obra divide-se em cinco partes. Na primeira parte, o autor mostra como se dá ocupação dos espaços nos seringais, que eram unidade produtoras de extrativismo vegetal assentado no látex da Hevea brasilienses, fazendo inferências sobre a criação destes espaços durante aquilo que se caracterizou como a primeira fase de exploração das terras acreanas pelos brasileiros.
Na segunda fase da obra, vemos a saga das mulheres seringueiras do Acre, como participante do processo de constituição do modo de vida no seringal. o autor traz a figura feminina dos tempos áureos da exploração da borracha, assentando seu foco nas nordestinas, chamadas de “as invisíveis”, soldadas da borracha que migraram para o solo acreano na Segunda Guerra Mundial.
Na terceira parte, Souza nos coloca diante de uma face cruel do seringal: o roubo de mulheres por homens dos seringais e aventureiros, apresentando incesto e violências praticadas de várias formas contra elas. Enquanto na quarta parte do texto, o autor traz a lutas das mulheres em defesa de sua terra através dos sindicatos e empates, com ênfase em Valdiza – integrante e fundadora do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Brasiléia. Por fim, na última parte da obra, o autor traz a luz da história, a contribuição e resistências das mulheres agricultoras, colonas e indígenas.
Se deleitar com obras como essa é perceber que a história oficial possui muitas lacunas que podem ser preenchidas com as histórias e vivências desses sujeitos e sujeitas que são ignorados, subalternizados e excluídos por uma historiografia que prioriza a história de homens, brancos e filhos de uma elite acreana.
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SOUZA, Carlos Alberto Alves de. Aquirianas: mulheres da floresta na história do Acre. Rio Branco: Instituto de Pesquisa, Ensino e de Estudos das Culturas Amazônicas, 2010.
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Jardel Silva França – Mestre em Letras: Linguagem e Identidade, pela Universidade Federal do Acre (PPGLI/Ufac). Bacharelando e Licenciado em História (Ufac). Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre (Neabi/Ufac).