O amor é uma força misteriosa e imprevisível, capaz de surgir nos momentos mais inesperados e de transformar vidas de maneiras surpreendentes. Ele pode chegar de forma mansa, sem avisar, e de repente, tudo o que parecia certo e estável muda, revelando novas cores e emoções que antes pareciam distantes.
Essa mudança na vida pode acontecer de uma forma nada prevista e a paixão pode surgir por alguém que você nunca imaginaria. E não, não estou falando sobre paixão à primeira vista por um estranho ou uma estranha, mas sim por um amigo. Aquela pessoa que você troca confidências, vive momentos marcantes e sabe que pode contar a qualquer momento.
Se apaixonar por um amigo pode ser uma das experiências mais confusas e emocionantes da vida. Um dia, você está rindo das piadas dele, compartilhando segredos e vivendo uma amizade pura e sincera. No outro, seu coração começa a bater mais rápido quando ele sorri, e cada pequeno gesto parece carregado de novos significados.
Esse é um sentimento que os fotógrafos e jornalistas acreanos Alexandre Cruz-Noronha e Deyse Cruz-Noronha conhecem bem. Eles se conheceram na Universidade Federal do Acre (Ufac) quando cursavam jornalismo – na época comunicação social -, em 2007, e estudavam na mesma turma. No último dia 28 de maio, comemoraram oito anos de casados.
Alexandre e Deyse completam ano de namoro em todo dia 27 de maio, um dia antes do aniversário de casamento. Recentemente, celebraram 12 anos desde que começaram a namorar. Após passarem quatro anos como namorados, oficializaram a união com o casamento. Mas de amizade já são 16 anos e, em setembro, comemoram 17 anos.
“Não teve nada de paixão à primeira vista ou se interessar. Zero. Nós fomos realmente melhores amigos por quase cinco anos, e nesse tempo nós não tínhamos realmente nenhum interesse romântico um no outro. A gente era amigo mesmo, uma dupla. Nós íamos para a faculdade juntos, e a gente nem mora tão perto, mas a Dey sempre me deu carona”, conta Alexandre.
O casal Cruz-Noronha era realmente tão amigo que, na época, Deyse namorava e o então namorado dela não sentia ciúmes do companheirismo que ela e Alexandre possuía. De acordo com Alexandre, nem o pai dela sentia ciúmes dos dois, mesmo sendo cuidadoso com a filha.
Depois de mais de quatro anos mantendo a amizade e, naquele momento, Deyse já estava solteira, eles resolveram ficar e perceberam que tudo daria certo, pois tinham e sabiam muito um do outro, pelos anos que passaram como amigos trocando confidências e segredos. Além disso, já tinham o principal: o amor.
“Depois de um tempo, ela já estava separada do namorado fazia quase um ano, a gente resolveu ficar junto um dia, por brincadeira mesmo, e a gente foi percebendo que isso daria muito certo, porque já tínhamos toda a base da amizade. Eu já a amava antes de namorar, mas a amava como amiga. Nós éramos realmente muito juntos”, afirma o fotógrafo.
A partir disso, também passaram quase cinco anos como namorados e decidiram que era hora de casar. Segundo Alexandre, as pessoas diziam que eles só iriam se conhecer de verdade depois do casamento quando estivessem na mesma coisa. Porém ele afirma que não houve nenhuma surpresa, tendo em vista que foram melhores amigos por anos e conheciam demais um do outro.
“As pessoas falavam “Ah, mas vocês vão se conhecer mesmo como vocês se casarem, porque o primeiro ano é muito difícil. Tu vais ver quem ele é quando vocês estiverem juntos na mesma casa”. Pois zero surpresas. A gente já se conhecia demais. Toda essa bagagem que a gente teve fez com que o nosso relacionamento fosse o que ele é até hoje. É muito tranquilo, um relacionamento muito em paz”, ressalta ele.
“Eu a amava como amiga, a amei como namorada, a amo como minha esposa e da mesma forma ela a mim. Então acho que tem sido e vai ser sempre um casamento muito fortalecido, porque a gente tem essa base”
Eles contam que os amigos, e até mesmo quem não os conhece muito e acompanham pelo pouco que postam um do outro nas redes sociais, os acham fofos e um modelo de casal. Alexandre chega a dizer que se convivessem com eles achariam mais fofos ainda ou insuportáveis, porque são grudentos e carinhosos ao extremo.
“As pessoas não fazem ideia de quão fofo a gente é junto em casa. Eu acho que se assistissem a gente e pudessem ver como é que a gente é em casa, uns iam nos achar muito fofinhos, mais ainda, e outros iam achar insuportável, porque a gente é realmente muito grudento, muito do carinho, de falar engraçado. Nosso casamento é realmente muito tranquilo, um regula o outro. Acho isso realmente muito incrível.”
Momentos difíceis
Como nem tudo é perfeito sempre, todo relacionamento tem momentos difíceis. Seja por desentendimentos, desafios externos ou crises internas, esses períodos de tensão são inevitáveis e podem testar a força e a resiliência de um casal. Com os Cruz-Noronha não poderia ser exceção e o que eles precisaram enfrentar só os mostrou a cumplicidade que possuem.
Em 2014, quando ainda eram apenas namorados, Alexandre perdeu a avó e, 39 dias depois, uma prima que ele considerava irmã também faleceu. Por conta de todos os problemas, o fotógrafo comenta que teve depressão por quase um ano e só descobriu há pouco tempo, quando entendeu o que é a doença. Segundo ele, Deyse sempre o ajudou e esteve ao lado dele durante essa fase e continua sempre.
“Eu cuidei da minha avó durante muito tempo e quando ela morreu, para mim foi um baque muito grande e 39 dias depois, a minha prima também morreu, que eu considerava minha irmã, porque a gente morou junto. E a Deyse me ajudou muito nesse ano, porque 2014 foi um ano muito pesado para mim. Também entrei em depressão e eu nem sabia que era depressão. Descobri recentemente que eu estava em depressão durante um ano e ela sempre esteve lá por mim”, relata.
Além disso, há duas semanas Alexandre e Deyse perderam um cachorro de estimação adotado por eles um tempo depois do casamento. Devido a perda do animal, os dois ficaram até mesmo doentes, tendo em vista que a saúde emocional ficou abalada e afetou a saúde física deles.
“Há duas semanas ele faleceu e para a gente foi um baque muito grande. Ficamos muito tristes e a gente ficou até doente, refletiu o nosso físico. Estamos um pouco nessa ainda, desse momento. Para as pessoas pode até ser besteira, mas para a gente foi bem pesado, porque foi a morte do nosso doguinho, que já era idoso”, salienta Alexandre.
Casal de fotógrafos
A vida dos dois no ramo fotográfico iniciou no mesmo momento, enquanto ainda estavam na faculdade de comunicação social. Alexandre Cruz-Noronha detalha que os dois, apesar de amigos, competiam nos trabalhos de fotografia. Em 2011, ele foi premiado na Intercom com o melhor trabalho na categoria de fotojornalismo e Deyse, em 2013, na categoria de foto artística. Além disso, fora da Ufac participaram do PIUM Fotoclube, onde estudavam e faziam atividades fotográficas. Dentro do coletivo, lançaram um catálogo e um livreto.
“Também viajamos juntos umas sete vezes para o Paraty em Foco, que é um enorme festival de fotografia, com projeções, exposições e palestras. Fomos juntos a congressos, intercâmbio para estudarmos e produzirmos fotografia em outro estado. Enfim, com a fotografia nós fomos a muitos lugares juntos e nossa formação é bem parecida”, os Cruz-Noronha destacam.
Como casal, Deyse e Alexandre fotografaram ensaios e eventos. Todavia, precisaram parar por conta do início da pandemia da Covid-19, preferiram não arriscar uma contaminação. Agora, mesmo com o fim da ameaça global do vírus, não voltaram a atuar mais como “Aquele casal fotógrafo”.
“Mas trabalhamos juntos sem ser como “Aquele casal fotógrafo” com fotografia de cinema. Ela geralmente exerce a função de diretora de fotografia e eu de operador de câmera. Já trabalhamos em cinco filmes e estamos entrando no projeto mais importante, que é um filme proposto e que será dirigido por ela. Nesse eu serei diretor de fotografia”, explica ele.
“Em dezembro trabalhamos juntos numa reportagem para o jornal estadunidense The Washington Post. Onde eu fiz as fotos da história e ela a captação de vídeo.”
Futuro
De planos para o futuro, bom… Por enquanto, não há nada planejado pelos dois. Apesar disso, esperam que possam passar mais tempo juntos e desfrutem ainda mais da companhia um do outro. Alexandre Cruz-Noronha diz que o trabalho ocupa muito tempo dele e espera, daqui para frente, conseguir estabelecer uma rotina em que consigam mais tempo.
Indo mais além, esperam que a carreira como casal e individual cresçam ainda mais, pois acham importante essa divisão. Dessa forma, cada um consegue fazer trabalhos que se identificam mais. Mas não só isso, desejam que viagens estejam sempre presentes na vida do casal, para aproveitarem mais o companheirismo que eles têm.
“A gente tem pouco tempo junto, eu acho que é melhorar isso, conseguir estabelecer uma rotina que a gente tenha mais tempo. Também desenvolvermos as nossas carreiras juntas e também as individuais. É importante a gente ter uma carreira junto e uma carreira individual. Viajarmos e curtirmos também. E que tudo isso seja assim, melhorando de uma maneira próspera, mas que esse amor, essa sabedoria e a compreensão que a gente tem só permaneça”, reitera o fotógrafo.
Para finalizar, Deyse Cruz-Noronha deixa um recado para quem está dentro de um relacionamento com pouca, ou nenhuma, reciprocidade. Para isso, ela cita os anos vividos ao lado do marido e a cumplicidade que eles possuem mesmo depois de tanto tempo juntos. Cumplicidade essa, como vocês devem ter percebido, que cresce a cada dia.
“O que a gente aprendeu até aqui do nosso relacionamento, que já vem aí de muitos anos, é que parceria e reciprocidade são imprescindíveis. E o nosso conselho é: se esforcem para fazer o relacionamento leve um para o outro, mas se você está vendo que você está precisando se esforçar demais e não está sendo recíproco, saia desse relacionamento porque uma hora você vai encontrar uma pessoa legal e que possa te dar a reciprocidade que você precisa”, destaca a jornalista e fotógrafa.
“Saia desse relacionamento, porque uma hora você vai encontrar uma pessoa que possa te dar a reciprocidade e a parceria que você que você precisa, e que você também está disposto a dar.”
