Por Jardel Silva França
A literatura é um espaço onde a realidade se mistura com a imaginação. O que é fantasia e o que é real? A literatura possibilita caminhar nesses dois mundos, onde não nos desprendemos inteiramente do mundo real, mas aprendemos de forma lúdica, o nosso cotidiano, indo para um mundo de reis, rainhas, universos mágicos, encantados, conhecendo outros povos e realidades. E é pensando nisso que escrevemos esse texto, como um possibilitador de conhecermos um pouco sobre o continente africano, através da fantasia.
Em 2013, o respeitável intelectual negro brasileiro Júlio Emílio Braz nos presenteou com a importante obra de literatura infanto-juvenil, intitulada “Cinco fábulas da África”, com ênfase na cultura africana e conta com lindas ilustrações feitas por Gustavo Damiani.
Essa obra é uma grande aliada para a promoção de igualdade racial, para o enfrentamento ao racismo no ambiente escolar e para o fortalecimento da luta antirracista. O livro conta com 56 páginas ilustradas com lindas e coloridas gravuras que trazem personagens negras bem representadas, de modo a positivar a imagem de pessoas negras e estimular o imaginário infantil.
O enredo gira em torno de uma avó que através de situações cotidianas dos seus netos, busca, por meio de contos africanos, orientar, ensinar e conscientizar suas crianças, abordando nesses contos questões de respeito à diversidade, aos mais velhos e outras lições para a vida.
A obra conta com cinco contos de povos e regiões da África, sendo eles: Por que o javali vive de joelhos (Lenda zulu), O senhor não me leva e o senhor não me diga (conto de Angola), O manto de pele de búfalo (História contada pelos kurdis, do Lago Chade, Como a zebra ficou listrada (conto tradicional zulu) e A vestimenta do Órix (História dos bosquímanos do Vale do Okwa).
O livro pode ser utilizado em contações de histórias, podendo ser trabalhado de maneira diversa nas disciplinas escolares, abordando a geografia das regiões onde esses contos foram coletados, sua comunidade, sua língua, entre outros elementos culturais e sociais.
Apresentar e trazer a obra “Cinco fábulas da África” como ferramenta de enaltecimento do continente africano e sugerir formas de uso foi o modo que encontramos para contribuir com a promoção de igualdade racial nas escolas e espaços educativos.
Trabalhar esse tipo de literatura em sala de aula não quer dizer que você deverá excluir as existentes que valoriza apenas as histórias de pessoas brancas, mas sim, possibilitar que as crianças em idade escolar possam ter acesso as mais diversas obras literárias para que conheçam e aprendam sobre a pluralidade dos povos, grupos étnicos e que todos somos iguais, dentro das nossas diferenças e que cabe a cada um respeitar essas diferenças, seja cultural, social ou política.
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Jardel Silva França – Mestre em Letras: Linguagem e Identidade, pela Universidade Federal do Acre (PPGLI/Ufac). Licenciado em História (Ufac). Professor de História da Educação Básica do Estado do Acre. Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre (Neabi/Ufac).