Desde que Donald Trump reassumiu a presidência para o segundo mandato, houve adoção de uma política mais protecionista no comércio, buscando proteger as indústrias dos Estados Unidos da concorrência externa. Um exemplo disso foi a tarifa de 25% sobre as importações de aço e alumínio, com o objetivo de fortalecer a produção interna. Esse tipo de medida é comum quando um país quer proteger suas próprias empresas, mas o que acontece aqui é que Trump está, de certa forma, “chutando a escada”. Ou seja, uma vez que os EUA chegaram ao topo do desenvolvimento, agora ele dificulta a ascensão de outros países, impedindo que eles usem as mesmas estratégias que ajudaram os Estados Unidos a crescer no passado.
O conceito de “chutar a escada” vem do economista Ha-Joon Chang, que critica essa atitude dos países ricos, que, depois de atingirem o topo, barram os mais pobres de fazerem o mesmo caminho. Quando países como os EUA impõem tarifas ou outras restrições comerciais, eles tornam a vida dos países em desenvolvimento mais difícil, bloqueando as oportunidades de crescimento. Isso impede que as nações mais pobres se industrializem, já que, para crescer, elas também precisariam de medidas de proteção para suas indústrias, como os EUA fizeram antes. Trump, ao adotar o protecionismo, está basicamente tentando proteger seus próprios interesses, mas ao mesmo tempo barrando as chances de outros países crescerem da mesma forma.
O problema não está no fato de Trump usar medidas protecionistas, mas na hipocrisia dessas decisões. Os Estados Unidos sempre defenderam o “livre mercado”, mas ao impor essas barreiras comerciais, estão contrariando seus próprios princípios. Além disso, isso impede que outros países, especialmente os mais pobres, sigam um caminho de crescimento semelhante ao que os EUA seguiram anos atrás. Essa falta de coerência nas políticas comerciais só torna a competição global mais desigual e injusta.
Mas essa desigualdade no comércio global não é algo novo. Durante o período colonial, os países que foram colonizados ficaram presos à produção de produtos primários, como matérias-primas e commodities, enquanto os países ricos se concentraram em produzir bens manufaturados, mais sofisticados e com maior valor agregado. Os colonizadores forçaram os países pobres a exportarem esses recursos naturais, e os usavam para enriquecer suas próprias economias. Mesmo depois da independência, muitos desses países ainda dependem de commodities para sobreviver e enfrentam dificuldades para se industrializar e crescer.
Quando países ricos impõem tarifas sobre esses produtos primários, eles dificultam ainda mais a vida dos países em desenvolvimento, que já têm pouco espaço para crescer. Eles continuam exportando matérias-primas a preços baixos, enquanto os países ricos, com suas economias mais industrializadas, vendem produtos manufaturados que valem muito mais. Isso só faz com que os países pobres fiquem presos a um ciclo de exportação de produtos básicos, que são muito vulneráveis às flutuações de preço, tornando suas economias ainda mais instáveis.
Um exemplo recente de protecionismo pode ser visto nas novas taxas impostas sobre compras internacionais no Brasil, como as feitas na plataforma Shein. Desde 2024, produtos importados passaram a ser taxados em 20% de imposto de importação, além do ICMS, que varia de acordo com o estado. Essa medida visa proteger o comércio local, dificultando ainda mais o acesso dos brasileiros a produtos importados mais baratos. Essa forma de protecionismo é similar à adotada por Trump, ao tentar barrar o acesso das pessoas a produtos mais acessíveis, mas ela gera impactos negativos tanto no Brasil quanto nos EUA.
Nos Estados Unidos, a taxação de produtos importados, especialmente os de baixo custo, pode também inflacionar os preços internos, pois os consumidores deixam de ter acesso a opções mais baratas e acabam pagando mais pelos produtos locais. Já no Brasil, as novas taxas sobre importações não só aumentam o preço de itens como roupas e acessórios, mas também afetam o poder de compra da população, já que os produtos estrangeiros, mais baratos, deixam de ser uma opção acessível.
Além disso, com a imposição de tarifas adicionais, a inflação pode aumentar, pressionando ainda mais as famílias de baixa renda, que acabam ficando com menos opções de consumo. Assim, as medidas protecionistas adotadas por países como os EUA e o Brasil, ao tentar proteger seus mercados internos, acabam gerando efeitos econômicos negativos, prejudicando as classes mais baixas e exacerbando a desigualdade social e econômica.
A questão do protecionismo e das barreiras comerciais globais não tem uma solução simples. Por um lado, os países desenvolvidos, como os EUA, têm o direito de proteger suas economias e indústrias, mas, por outro, isso cria uma desigualdade que prejudica os países em desenvolvimento e mantém o ciclo de dependência. O desafio está em encontrar um equilíbrio entre a proteção das economias nacionais e a promoção de um comércio mais justo e inclusivo para todos os países, independentemente de seu nível de desenvolvimento.
Fato é que os Estados Unidos, como a maior economia do mundo, deveria desempenhar um papel central nesse processo, promovendo o desenvolvimento mundial e não chutar a escada.