Fundadora do coletivo de empreendedoras “Elas fazem Acontecer”, no Acre
Quando se fala de mulheres que inspiram outras mulheres, podemos pensar em Dandara, Frida Kahlo, Anne Frank, Joana D’arc, Chiquinha Gonzaga, Chica da Silva, e entre outras, pois são muitas. Uma delas é acreana, que tem como causa principal, a luta pelo os direitos das mulheres, fundadora de um coletivo de empreendedoras, chamado “Elas fazem Acontecer”, no Acre. Lidiane Cabral, é uma mulher que inspira outras mulheres na busca do empoderamento.
É filha da dona Conceição Cabral, uma amazonense, já o pai é baiano, neta de nordestinos, que vieram ao Acre, no segundo surto da borracha. Lidiane é de uma família matriarcal, rodeada de mulheres fortes, e que lhe inspiraram no que é hoje. É a mais velha entre os quatro irmãos, não teve muitas oportunidades de ter a mãe em casa, pois ela precisava trabalhar, além de ter um pai ausente. Diante dessa situação, ela sofreu diversas dificuldades na sua infância e na adolescência.
“Isso me fez lutar muito cedo, trabalho desde os meus 16 anos, quando não era em projetos sociais sendo voluntária, eu trabalhava pra ganhar uma grana pra poder ajudar em casa e também me sustentar. E por ser uma pessoa curiosa, andei por muitos lugares, eu sou uma pessoa que gosto muito de histórias, de pessoas e uma coisa que mais me fascina, é que eu tenho muito amor e gratidão ao legado deixado por todas as lutas das mulheres”, conta.
Além disso, sua mãe também é professora, profissional da educação, que lutou em sindicatos e em movimentos feministas da década de 1990. Com isso, foi nascendo em Lidiane, a vontade de fazer a diferença, de lutar essa mesma guerra.
“Na minha juventude assumi grupos de jovens, trabalhei com oficinas, formações e pastoral da juventude, foi uma grande escola. Esses grupos de jovens na minha adolescência, também forjaram as minhas lutas, as minhas batalhas, e mesmo sabendo que nós vivemos numa sociedade patriarcal muito forte, e vim de uma família que tinha um conceito muito enraizado sobre a mulher. A liderança das mulheres me confrontou muito com a sociedade lá fora”, disse
Na vida adulta não foi diferente, ela seguiu com a causa, buscou sempre realizar ações em prol de todas as mulheres.
“Fui secretária municipal das mulheres da cidade de Rio Branco, de 2017 a 2019. Nós desenvolvemos feira de saúde da mulher, feiras mulheres empreendedoras. Além disso, nós tínhamos uma Casa Rosa Mulher que era um trabalho psicossocial, tínhamos a Casa Rosa Mulher Itinerante, que a gente levava um trabalho saúde da mulher, aliado a políticas afirmativas, a bate-papos. Criamos um projeto equidade de gênero não ao machismo institucional que era um trabalho feito dentro da gestão”, explicou.


Após isso, ela conheceu o movimento feminista do Acre, que era o papo feminista com mais três amigas, chamadas Maíra, Ana Luiza, Anaís e a Valéria.
“Eu estava começando o curso de Letras Espanhol, e essas meninas, estavam cursando jornalismo e história. E foi muito legal porque muitas mulheres, mulheres jovens da cidade sobre temas diversos, isso também me deu muito muita possibilidade de aprender muito mais, de ouvir outras histórias”, conta.
Lidiane também foi candidata a vereadora de Rio Branco, por meio do Partido dos Trabalhadores (PT). Ela acredita que todas essas funções que foram executadas, beneficiou muitas mulheres.
“Eu consegui desenvolver coisas relacionada a questão das mulheres, a olhar para as mulheres em situação de vulnerabilidade, um olhar sensível, e isso fez toda a diferença na minha vida, assim como na vida de outras mulheres também”, disse.

Rede “Elas fazem acontecer”
No ano de 2020, Lidiane enfrentou um dos maiores desafios da vida, ela perdeu um ente querido para depressão. Era o seu tio, considerado pai de criação, que cometeu o suicídio. “Então foi através dessa dificuldade dessa grande dor, dessa perda tão grande que mudou a minha vida também, pra que eu olhasse com mais carinho pras pessoas, com maior cuidado pra mim mesma, e pra tudo que está ao meu redor”, explica.
E para vencer mais essa perda, que o projeto “Elas fazem acontecer” surgiu. No mês de agosto, de 2021, ela estava empreendendo na área de lanches. Mas, foi surpreendida com a pandemia. Além dela, tinham muitas outras mulheres que se encontravam próximo a falência.
“Justamente por conta dessa pandemia eu resolvi juntar algumas amigas e a gente começou a falar disso, e aí a gente pensou porque não a gente criar um coletivo. E aí veio o coletivo elas fazem acontecer. E eu falo com muito amor desse porque ele me salva todos os dias. São mais de 300 mulheres que fazem parte desse coletivo”, disse.

A ação é desenvolvidas por diversas mulheres empreendedoras, que vendem os mais variados produtos. “Elas vendem do alfinete ao foguete, são produtos diversos da área da beleza, da cozinha. São mulheres que se reinventaram, principalmente durante a pandemia que sofreram violência doméstica que largaram o emprego, e que foram gerir seu próprio negócio”, contou.

Sonhos
O maior sonho de Lidiane, é vencer a depressão, conseguir ver outras mulheres empoderadas. “A minha filha formada, minha mãe, meus irmãos, meu esposo, minhas amigas, a moça que que que faz o pão de manhã, que eu vou comprar na padaria”, afirmou.
E principalmente, ver o estado do Acre não mais como um estado líder em violência contra a mulher, mas uma referência do empoderamento feminino. Além desses objetivos, ela também deseja realizar outro sonho.
“Ver menos pessoas em situação de rua em situação de vulnerabilidade, essa é uma coisa que infelizmente pode parecer clichê, mas me incomoda bastante, então eu não posso estar bem eu não posso estar pensando só no meu umbigo, quando eu saio do portão da minha casa e eu vejo situações que ainda me causam medo e dor. Então a gente tem muito que lutar”, contou.
Motivações
Para ela, suas principais motivações não são os bons resultados das mulheres, mas a quantidade de mulheres que são mortas diariamente.
“Quando eu vejo uma política de homens velhos, brancos, caducos, decidindo por nós, decidindo as nossas vidas, isso é o que me me motiva. A gente precisa lutar muito mais que a nossa existência no mundo, nós mulheres precisamos ser resistência, precisa ser resiliência”, afirmou.
Segundo Lidiane, ser mulher é também quebrar rótulos, padrões, estereótipos, contudo, é um caminho de muitas batalhas.
” A gente vai precisar lutar muito, mesmo que eu não veja os frutos das minha das minhas lutas, eu sei que elas existirão. Mas, eu também preciso dizer de tudo de bom que cada uma de nós no mundo de uma mulher se propõe a fazer, o bem de coração, e quantas vidas a gente salva, sejam elas fisicamente, intelectualmente, mentalmente e emocionalmente”, disse.
Lidiane também aproveitou para deixar um recado para o Dia Internacional da Mulher. ” É que nós possamos estender as mãos uma pras outras com mais amor. Assim, a gente vai ter um mundo diferente, um mundo interno, um mundo pra fora de nós, e que quando a gente se empoderar por dentro tudo fica de grande poder e luz pra fora também. Essa é a grande lição”, concluiu.