A diretora da Escola Armando Nogueira, Ada Cristina, trouxe uma série de problemas enfrentados na instituição de ensino, com destaque para a qualidade dos alimentos fornecidos aos alunos e funcionários. O caso ganhou visibilidade neste último fim de semana. Além dela, a Secretaria de Estado de Educação (SEE), a escola e o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac), também se manifestaram.
Em relato, a gestora expôs situações de descontentamento e negligência por parte da Secretaria de Educação do Estado (SEE), que teriam culminado em retaliações e medidas drásticas, como o afastamento do cargo.
Ao longo dos anos, a diretora revela ter enfrentado desafios como a falta de segurança, com a ausência de vigilantes na escola, e incidentes como assaltos na quadra, que só foram resolvidos após pressão e apelo público. Além disso, solicitações de melhorias estruturais, como reparos em aparelhos de ar-condicionado e controle de pragas, foram ignoradas, assim como a má qualidade dos alimentos servidos.
“Durante e depois da pandemia, comecei a questionar a Secretaria sobre a segurança, pois não tínhamos vigilante e já havia acontecido até assalto na quadra. Tive que dar entrevista à imprensa sobre isso, e só após isso enviaram o VIP. Além disso, também solicitava melhorias, conserto de ar condicionado, a questão dos pombos que sempre foi um problema e a má qualidade da alimentação”, explica a gestora.
A denúncia mais grave envolve a constatação de que alguns itens alimentícios estavam impróprios para consumo, como carne de baixa qualidade, arroz com odor e sabor estranhos, entre outros. Apesar das reclamações e tentativas de correção, a diretora relata ter sofrido assédio e retaliações por parte da Secretaria de Educação.
“Ocorre que no ano passado, meu coordenador me informou que alguns itens estavam vindos impróprios para consumo. Carne que era só pele, arroz com cheiro e gosto estranho, charque com sangue, etc. Reclamamos e mandamos voltar, e pedimos complementação para suprir as necessidades. Sofri assédio, sofri retaliação por questionar e pedir melhorias”, diz.
A situação se agravou quando o vereador Emerson Jarude visitou a escola e os alunos denunciaram a precariedade da alimentação, o que resultou em uma inspeção da Secretaria. Segundo relato da diretora, a conclusão foi de que a escola solicitava complementos devido ao suposto excesso de consumo dos alunos e funcionários, além de apontar armazenamento inadequado dos itens alimentícios.
“Mas a situação piorou quando o deputado Emerson Jarude apareceu na escola. Os alunos conversaram com ele e denunciaram a comida e ele publicou. Após isso recebi a visita da equipe da Secretaria, que segundo eles, chegou a conclusão que a escola pediu alguns complementos porque os alunos estavam comendo demais (adolescentes que muitas vezes só têm aquela refeição) e os funcionários estavam se alimentando na escola”, esclarece.
Mesmo diante de evidências e solicitações de melhorias estruturais, a diretora afirma ter sido surpreendida com uma decisão de afastamento do cargo. O episódio gerou indignação e alegações de tentativa de silenciamento por parte da SEE, em vez de responsabilizar os fornecedores pela qualidade dos alimentos.
“Eles também disseram que haviam itens armazenados fora da cantina, e eu provei com documentos que estava pedindo freezer para a cantina desde 2020 e não enviavam, então tinham que guardar onde dispunha. Mesmo comprovando que estávamos apenas tentando nos organizar e trabalhar com a falta de estrutura que eles nos proporcionam, ontem chegaram já com uma decisão para me retirar do cargo”, conclui.
Após repercussão do caso, a SEE publicou uma nota para esclarecer as acusações e a situação envolvendo a gestora e a qualidade da carne fornecida aos alunos da escola Armando Nogueira.
De acordo com a nota divulgada pelo secretário Aberson Carvalho, a responsabilidade pelo recebimento e pela verificação da qualidade da carne cabe à gestão da escola, conforme estipulado em contrato. A Secretaria é responsável apenas pela licitação do produto, para assegurar que as especificações desejadas, com foco na qualidade, sejam cumpridas.
“A responsabilidade do recebimento da carne e da verificação da qualidade é da gestão da escola, de acordo com o contrato. À Secretaria de Educação cabe licitar, indicando as especificações, priorizando sempre a qualidade do alimento que deseja receber, e pagar pelo produto que solicitou.Por isso, cabe à equipe gestora informar e, inclusive, não receber o produto, comunicando o fato ao Departamento de Alimentação Escolar da Secretaria”, enfatiza a SEE.
Carvalho esclareceu que cabe à equipe gestora da escola verificar se o produto entregue corresponde ao licitado e, em caso negativo, recusá-lo e informar ao Departamento de Alimentação Escolar da Secretaria.
A nota também aborda o afastamento da gestora da escola, e explica que a decisão não está relacionada às denúncias sobre a qualidade da carne, mas sim ao não cumprimento de suas responsabilidades administrativas. O secretário enfatizou que o não cumprimento dessas responsabilidades pode levar a afastamentos ou a processos administrativos.
“Esclarece, ainda, que não é por conta de “denúncias” que tenha feito em relação à qualidade da carne que a gestora em questão está sendo afastada do cargo, mas, é por conta do não cumprimento dessas e de outras responsabilidades inerentes ao cargo que qualquer gestor poderá ser afastado ou responder, inclusive, processos administrativos”, fala.
A SEE anunciou ainda que será iniciado um processo administrativo interno para investigar mais a fundo a denúncia sobre a qualidade da carne fornecida à escola.
Após a nota da SEE, foi a vez da Escola Jornalista Armando Nogueira se manifestar e rebater as afirmações. Por isso foi divulgado uma nota para abordar as recentes preocupações sobre a qualidade da carne oferecida no cardápio escolar.
Segundo a nota, recusar o recebimento de carne congelada com base apenas em suspeitas pode acarretar na falta imediata de substituição, comprometendo assim a disponibilidade de alimentação conforme planejado no cardápio para os alunos.
“A carne chega congelada, impossibilitando a verificação imediata da sua qualidade se o gestor se recusar a receber uma carne congelada por “suspeita” de má qualidade, essa não será reposta imediatamente, gerando assim, falta do alimento previsto no cardápio para os alunos”, explica.
A escola também mencionou que a gestora não recebeu resultados oficiais de qualquer sindicância relacionada à alimentação servida aos funcionários, prática adotada desde 2017 nas escolas de tempo integral para auxiliar na supervisão durante o almoço.
“A gestora não recebeu qualquer resultado oficial da sindicância instaurada por servir um prato de comida aos funcionários de uma escola em tempo integral. Ressaltamos que desde 2017 foi adotado esse procedimento nas escolas integrais,pois os funcionários cuidam dos estudantes e fazem pedagogia da presença no almoço”, enfatiza.
A escola questionou se a responsabilidade pela qualidade da merenda deveria recair unicamente sobre os gestores escolares, especialmente quando problemas com fornecedores já foram formalmente reportados à Secretaria de Educação. A nota ressalta que tanto a carne quanto o arroz já haviam sido identificados como de baixa qualidade em comunicações anteriores, questionando a falta de ação adequada para resolver a situação com os fornecedores.
“Serão todos os gestores culpabilizados pela merenda de má qualidade que vem sendo entregue nas escolas? E todos aceitarão essa culpa? Tal fato foi reportado à Secretaria (temos documentos comprovando). Após ser reportado que tanto a carne quanto o arroz não estavam com boa qualidade, não deveriam ter sido tomadas as providências junto aos fornecedores? Porque não tomar uma atitude e sempre culpabilizar os gestores por algo que já deveria ter sido resolvido junto ao fornecedor?”, conclui.
Neste final de semana, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre (Sinteac)também emitiu uma nota pública para expressar solidariedade à gestora Ada Cristina, da Escola Armando Nogueira, que foi recentemente afastada de o cargo pela Secretaria Estadual de Educação (SEE).
Segundo o Sinteac, o afastamento é um ato de perseguição política, motivado pela resistência da gestora em cobrar melhorias nas condições de trabalho, infraestrutura e qualidade da merenda escolar.
“O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Acre, vem, por meio desta nota pública, prestar solidariedade à gestora da Escola Armando Nogueira, Ada Cristina, por ter sido afastada de seu mandato pela SEE, consideramos que essa conduta caracteriza perseguição política. A Secretária Estadual de Educação não aceita que os gestores cobrem melhores condições de trabalho, infra-estrutura adequada, merenda de qualidade e em quantidade suficiente”, explica o sindicato.
A controvérsia ganhou maior visibilidade após a visita do deputado Emerson Jarude (Novo) à escola. O Sinteac argumenta que a acusação que levou ao afastamento de Ada Cristina permitir que professores e funcionários consumissem a merenda escolar poderia ser motivo para uma advertência, mas nunca para um afastamento. O sindicato condena essa decisão como uma medida desproporcional e antidemocrática.
“O afastamento da gestora ocorreu após a visita do deputado Emerson Jarude. A profissional foi acusada de deixar os professores e funcionários comer da merenda, situação que poderia resultar em advertência, mas não afastamento.O Sinteac repudia essa postura da SEE, em abrir sindicância por algo que não necessita de tal postura. Gestores estão sendo pressionados e intimidados por atitudes antidemocráticas”, conclui.
Na nota, o Sinteac apela à SEE para que reveja o afastamento de Ada Cristina e outras práticas similares que possam afetar negativamente a carreira dos profissionais da educação, que, segundo o sindicato, estão sendo intimidados por atitudes que consideram antidemocráticas.
Veja os vídeos da situação da carne:
Veja abaixo as nota na íntegra:
Nota da SEE
A Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes (SEE), a respeito da qualidade da carne fornecida aos alunos da escola de ensino integral Armando Nogueira, vem esclarecer que:
A responsabilidade do recebimento da carne e da verificação da qualidade é da gestão da escola, de acordo com o contrato.
À Secretaria de Educação cabe licitar, indicando as especificações, priorizando sempre a qualidade do alimento que deseja receber, e pagar pelo produto que solicitou.
Assim sendo, se está chegando outro tipo de carne que não o licitado pela SEE, cabe à equipe gestora informar e, inclusive, não receber o produto, comunicando o fato ao Departamento de Alimentação Escolar da Secretaria.
Esclarece, ainda, que não é por conta de “denúncias” que tenha feito em relação à qualidade da carne que a gestora em questão está sendo afastada do cargo, mas, é por conta do não cumprimento dessas e de outras responsabilidades inerentes ao cargo que qualquer gestor poderá ser afastado ou responder, inclusive, processos administrativos.
Por fim, a SEE informa que será aberto processo administrativo interno para apurar a denúncia em relação à qualidade da carne fornecida à escola e reafirma o compromisso em fornecer uma alimentação da melhor qualidade a todos os estudantes e, ainda, o respeito com a transparência em todos os processos que envolvem a Educação.
Aberson Carvalho
Secretário de Estado de Educação, Cultura e Esportes
Nota da Escola
A Escola Jornalista Armando Nogueira vem a público esclarecer acerca da denúncia sobre a qualidade da carne.
1. A carne chega congelada, impossibilitando a verificação imediata da sua qualidade.
2. Se o gestor se recusar a receber uma carne congelada por “suspeita” de má qualidade, essa não será reposta imediatamente, gerando assim, falta do alimento previsto no cardápio para os alunos.
3. A gestora não recebeu qualquer resultado oficial da sindicância instaurada por servir um prato de comida aos funcionários de uma escola em tempo integral. Ressaltamos que desde 2017 foi adotado esse procedimento nas escolas integrais, pois os funcionários cuidam dos estudantes e fazem pedagogia da presença no almoço.
4. Serão todos os gestores culpabilizados pela merenda de má qualidade que vem sendo entregue nas escolas? E todos aceitarão essa culpa?
5. Tal fato foi reportado à Secretaria (temos documentos comprovando). Após ser reportado que tanto a carne quanto o arroz não estavam com boa qualidade, não deveriam ter sido tomadas as providências junto aos fornecedores? Porque não tomar uma atitude e sempre culpabilizar os gestores por algo que já deveria ter sido
resolvido junto ao fornecedor?
6. A Escola se coloca a disposição da imprensa para eventuais esclarecimento.
Nota do Sinteac
○ SINTEAC – Sindicato dos Trabalhares em Educação do Acre, vem, por meio desta nota pública, prestar solidariedade à Gestora da Escola Armando Nogueira, Ada Cristina, por ter sido afastada de seu mandato pela SEE, Consideramos que essa conduta caracteriza perseguição politica. A Secretária Estadual de Educação não aceita que os gestores cobrem melhores condições de trabalho, infra-estrutura adequada, merenda de qualidade e em quantidade suficiente. O afastamento da gestora ocorreu apos a visita do Deputado Emerson Jarude. A profissional foi acusada de deixar os professores e funcionários comer da merenda, situação que poderia resultar em advertência, mas não afastamento.O Sinteac repudia essa postura da SEE, em abrir sindicância por algo que não necessita de tal postura. Gestores estão sendo pressionados e intimidados por atitudes antidemocrática. Gestores vocês podem contar com o SINTEAC, não se intimidem. SEE reveja essa situação, dentre outras; nossos profissionais possuem uma carreira, que não pode ser destruída sem Justa causa.