O espetáculo, apresentado por moradoras do bairro Seis de Agosto, existe há mais de quinze anos em Rio Branco
O projeto cultural que manteve viva dança folclórica em Rio Branco ganha filme que será lançado neste domingo (19), às 19:30, na Rua da África, no Segundo Distrito de Rio Branco, de forma gratuita. Dirigido pelo cineasta acreano Silvio Margarido, “Estando as pastorinhas aqui nesse lugar” está desde 2021 em produção e é financiado pelo Edital Aldir Blanc, com apoio da Fundação Garibaldi Brasil.
As pastorinhas do Segundo Distrito é uma dança teatral que conta a história das pastoras que fizeram o caminho de visita a Jesus recém-nascido. Ela se desenvolve a partir de dois cordões, um azul, que é comandado pela Mestra, e o outro encarnado, pela Contra-mestra, caracterizados pelos vestidos das Pastorinhas, enquanto uma personagem recebe as duas cores em sua roupa, a Diana. O espetáculo, apresentado por moradoras do bairro Seis de Agosto, existe há mais de quinze anos em Rio Branco, e representou vários Autos de Natal, participou de arraiais, e de algumas datas festivas como atração.
O projeto corre o risco de parar, pois sua última apresentação ocorreu em 2020, e com a pandemia houve uma grande dispersão de seus participantes. Além de que sua permanência durante todos esses anos recebeu pouco incentivo, o que muitas vezes fazia a sua coordenadora, Guajarina Margarido, ter que tirar de seu próprio dinheiro o apoio para que As Pastorinhas continuassem a existir. A ajuda vinha de poucos amigos e representantes políticos interessados no trabalho. Sobre isso, Guajarina explica: “Apoiava pouco, mas apoiava. As últimas vezes que nós apresentamos foi do meu dinheiro, o décimo terceiro”.
O diretor do documentário, Sílvio Margarido, e também filho de Guajarina, espera que com a documentação da história desses mais de quinze anos de projeto, a memória de uma geração de moradores da Seis de Agosto seja preservada: “Eu resolvi fazer esse documentário pra manter a memória, ela já tá dessa idade, já não tem muita força pra fazer esse trabalho, já não tem a memória”, como afirma o cineasta, que utiliza dos relatos que sua mãe conta sobre a experiência de coordenar o grupo.
O documentário teve pesquisa histórica de Marcos Vinícius, narração de Jorge Henrique, e gravações feitas por amigos cinegrafistas durante todo o percurso de apresentação das Pastorinhas. A música, que é parte importante do espetáculo, recebe arranjo e interpretação de Arthur Miúda no baixo, Patrícia Monteiro na voz e Lourival na sanfona, especialmente para o filme. A artista Patrícia conta que Silvio escolheu cinco músicas do repertório de canções dançadas pelas Pastorinhas, e passou para o conjunto de músicos responsáveis pela trilha sonora do filme.
Patrícia conta que a experiência de trabalhar no documentário foi de grande honra e responsabilidade, pois ele fala sobre um projeto cultural que faz parte da vida das pessoas de sua convivência, e da memória delas. Mas também um desafio, já que trata-se de um gênero musical na qual ela não está acostumada a tocar, como ela explica: “Ao trabalhar na pesquisa sonora para execução das músicas das pastorinhas, como por exemplo projeção e colocação de voz, percebi a pluralidade de caminhos e formas de se fazer música deste gênero musical, que se consolida como meu primeiro trabalho na área de música folclórica e popular”.
De influência nordestina, lugar onde a dança folclórica também conhecida como o Pastoril é mais comumente apresentada no Brasil hoje, ela veio para o Acre também por meio de um nordestino na década de 50, o Mestre Zuza. Mais de 50 anos depois, o projeto cultural que nasceu a partir da Associação de Mulheres do Segundo Distrito em 2006, e foi encabeçado por Guajarina Margarido desde lá, construiu já uma tradição acreana que vai além da herança do nordeste, pois ela possui diferenças entre as danças performadas nos outros estados do Brasil. Hoje pode-se dizer que As Pastorinhas do Segundo Distrito são uma parte importante da cultura feita no Acre.